Menos satisfeitos, mas com mais autonomia e sobretudo sem trabalhadores. No final da primeira metade do ano passado havia mais de 800 mil pessoas que trabalhavam por conta própria, o equivalente a 16,9% da população empregada em Portugal, sendo que quase três quartos destes são empresários sem qualquer trabalhador a seu cargo, e a maioria espera que assim continue.

Os dados são do Instituto Nacional de Estatística, que traçou um perfil dos trabalhadores por conta própria em Portugal através da realização de um inquérito ad hoc, que aponta que 72,5% dos trabalhadores por conta própria não têm trabalhadores, e 57,5% não está a prever que vir a empregar, ou a recorrer a subcontratações, no futuro próximo.

Quem são estes trabalhadores?

De acordo com o INE, quase 30% do total de trabalhadores por conta própria estavam no setor da agricultura e pescas. Os números são especialmente significativos quando se olha para quantos dos trabalhadores deste grupo profissional usa estes regime: 76,4%.

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Há ainda uma especial concentração de trabalhadores por conta própria entre os trabalhadores com 65 anos ou mais (75,1%), em parte explicado por se tratarem de trabalhadores já em idade de reforma.

Porque não têm trabalhadores ao serviço?

Grande parte destes trabalhadores por conta própria, apesar de serem empresários em nome individual não têm qualquer trabalhador ao serviço, nem esperam que isso venha a acontecer. A principal razão, de acordo com as respostas dadas ao INE, é que não há trabalho suficiente para contratar mais pessoas, ou mesmo subcontratar trabalhadores durante um período mais curto para suprir necessidades pontuais. Esta é a razão dada por 41,6% das pessoas.

Logo de seguida, mas muito longe dos números da primeira, surge a vontade de trabalhar sozinho (7,8%) e os elevados encargos que têm de ser suportados por cada um destes trabalhadores (6,6%).

Quase 60% dos trabalhadores adiantam que não devem vir a fazer contratações nos próximos doze meses.

Quais são as principais dificuldades?

19,1% % destes trabalhadores dizem que não sentem qualquer dificuldade no exercício da atividade, mas 15,7% admitem que o mais difícil são períodos sem trabalho, uma dificuldade que também impede a contratação de trabalhadores, e outros 13,8% os clientes que não pagam ou pagam mais tarde do que deveriam.

Os trabalhadores por conta própria que têm trabalhadores ao serviço sentem mais dificuldade com a falta de pagamento (e atrasos), enquanto aqueles que trabalham sozinhos sentem mais dificuldades com a falta de trabalho suficiente.

Menos satisfeitos mas mais autónomos

Uma das grandes diferenças entre quem trabalha por conta de outrem e quem trabalha sozinho é a satisfação profissional. De acordo com o INE, pouco mais de metade dos trabalhadores em Portual sentem-se razoavelmente satisfeitos em termos profissionais (52,1%) e menos de um terço totalmente ou muito satisfeitos (31,1%).

Estas percentagens são ligeiramente superiores no caso dos trabalhadores por contra de outrem: 54,5% sentem-se razoavelmente satisfeitos; 33% muito ou totalmente satisfeitos.

Os números são significativamente diferentes entre os trabalhadores por conta própria. Destes, 40,6% se sentem razoavelmente satisfeitos profissionalmente, e apenas 22,1% se dizem muito ou totalmente satisfeitos.

Em compensação, estes trabalhadores destacam o grau de autonomia para decidir o tipo e a ordem das tarefas (72,1%), uma resposta natural considerando quantas destas pessoas trabalham sozinhas.

Apesar das dificuldades que apontam, apenas 2,4% dos trabalhadores por contra própria gostariam de mudar a sua situação profissional e vir a a passar para uma situação em que trabalham por conta de outrem. Do outro lado, há 17,2% que gostariam de ser trabalhadores por conta própria.