As exportações de carvão e a produção agrícola sustentam o crescimento de 5,3% em Moçambique este ano, mas a crise da dívida resultou numa contração da economia real, diz o Banco Africano de Desenvolvimento (BAD).

“A recuperação do crescimento do PIB para um valor estimado de 4,7%, em 2017, e, previsivelmente, de 5,3%, em 2018, deve-se ao aumento das exportações de carvão e produção agrícola”, diz o BAD, no relatório Perspetivas Económicas em África, divulgado esta quarta-feira em Abidjan, a capital económica da Costa do Marfim.

A crise da dívida é o principal ponto de análise no que diz respeito a Moçambique, com o BAD a salientar os enormes efeitos e a transversalidade dos impactos do incumprimento financeiro em que o país incorreu em 2016.

“Na crise financeira resultante da divulgação de dívidas secretas no valor de quase 10% do PIB, o rácio dívida/PIB atingiu pressupostos 125% do PIB, no final de 2016, enquanto o metical registou uma desvalorização de 40% face ao dólar americano e a inflação aumentou 10 vezes para 19,8%”, escrevem os analistas.

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“As dívidas em atraso do setor público ao privado estimam-se em mais de 500 milhões de dólares americanos (4% do PIB); o setor privado também é estrangulado pelas elevadas taxas de juro (em média, 35% por empréstimo comercial a um ano) e pela depressão do consumo privado, resultando na contração da economia real, com exceção do setor primário e alguns serviços”, lê-se no relatório.

Após anos de expansão das despesas, “empurrando a dívida para níveis insustentáveis, o Governo incumpriu as obrigações soberanas, em janeiro de 2017, e, constrangido financeiramente, está a implementar um esforço de consolidação”, lê-se no documento, que dá conta de uma redução da despesa, de 33,9%, em 2017, para 30,5% este ano.

“Moçambique precisa de recuperar da recessão económica de 2015”, vinca o BAD, notando que “o declínio dos preços dos bens tradicionais de exportação, efeitos de seca persistente do El Niño, confrontos militares internos e grande decréscimo do investimento estrangeiro direto (IED) reduziram praticamente em metade os 7% de crescimento médio histórico do PIB na década passada, para 3,8%, em 2016, queda agravada pela crise de governação de 2016, levando à redução de financiamento externo e apoio de doadores”.

No total do continente africano, o BAD prevê um crescimento de 4,1%, nota que a recuperação tem sido mais rápida nos países não dependentes dos recursos e defende o financiamento do desenvolvimento pela dívida. “A recuperação do crescimento tem sido mais rápida do que o previsto, particularmente nas economias não dependentes de recursos, sublinhando a resistência de África”, lê-se no relatório.

“Estima-se que o crescimento real da produção aumentou 3,6%, em 2017, em relação a um aumento de 2,2%, em 2016, e que registará uma aceleração de 4,1%, em 2018 e 2019”, acrescenta o documento, que considera que “a recuperação no crescimento pode assinalar um ponto de viragem nos países exportadores líquidos de produtos de base, nos quais a diminuição continuada dos preços das exportações fez diminuir as receitas das mesmas e agravou os desequilíbrios macroeconómicos”.