O mundo estava à espera disto há mais de duas semanas. No dia 2 de janeiro, Donald Trump anunciou que ia entregar os “Fake News Awards”: os prémios para a comunicação social “mais desonesta e corrupta do ano”. O evento foi adiado e a data final passou para esta quarta-feira, 17 de janeiro. E o presidente dos Estados Unidos não falhou.

Os galardoados foram anunciados no site oficial do Partido Republicano — que chegou a ficar em baixo durante uns minutos devido à quantidade de acessos — e Trump, claro, partilhou a lista no Twitter. Os premiados vão desde erros subtis de alguns jornalistas até reportagens de jornais ou canais de televisão que foram, mais tarde, corrigidas. Mas o presidente norte-americano não poupou ninguém e elencou peças do New York Times, Washington Post, CNN e ABC. São 10 prémios e uma estatueta especial que, na verdade, é uma farpa para todos.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

1. Paul Krugman, no New York Times, sobre a reação da economia à eleição de Donald Trump

Parece que as ‘fake news’ começaram logo no dia em que o atual presidente foi eleito. Na altura, Paul Krugman escreveu no New York Times que a economia “nunca” iria recuperar da eleição de Donald Trump.

2. Brian Ross, na ABC, sobre a alegada influência russa nas eleições presidenciais

Há um ano, em janeiro de 2017, Brian Ross falou alargadamente na ABC sobre uma eventual ingerência russa nas eleições presidenciais norte-americanas.

3. CNN, sobre o alegado acesso de Trump e do filho a documentos do WikiLeaks

Este galardoado é dos mais recentes: em dezembro de 2017, a CNN avançou que Donald Trump e o filho, Donald Trump Jr., tiveram acesso a documentos do WikiLeaks durante a campanha presidencial.

4. TIME, sobre a alegada ordem de Trump para remover um busto de Martin Luther King da Sala Oval

A icónica revista garantia que Donald Trump tinha exigido que o busto de Martin Luther King, líder do movimento dos direitos civis dos negros nos anos 60, fosse retirado da Sala Oval. Mas há fotos em que o busto aparece.

5. Dave Weigel, no Washington Post, sobre um comício de Trump que estava vazio

Em dezembro de 2017, Dave Weigel, jornalista do Washington Post, publicou várias fotografias no Twitter em que era possível ver um comício de Donald Trump quase vazio. O presidente dos Estados Unidos recorreu, na altura, ao Twitter, para desmentir Weigel e garantir que o evento em Pensacola, Flórida, estava lotado.

6. CNN, na visita oficial de Donald Trump ao Japão

Segundo o presidente norte-americano, a CNN editou um vídeo para que parecesse que Trump alimentou peixes de maneira abundante e sem autorização.

7. CNN, sobre o encontro de Anthony Scaramucci com um russo

O canal de televisão avançou que Anthony Scaramucci, diretor de comunicação da Casa Branca, se tinha encontrado com um russo durante a campanha. A CNN acabou por desmentir o que tinha noticiado.

8. Newsweek, sobre a visita oficial de Donald Trump à Polónia

A revista garantia que Agata Kornhauser-Duda, primeira-dama polaca, se tinha recusado a cumprimentar o presidente dos Estados Unidos quando este visitou o país.

9. CNN, sobre James Comey e o FBI

A CNN contou que James Comey, antigo diretor do FBI, ia dizer em tribunal que nunca tinha dito a Donald Trump que não estava a ser investigado: ao contrário do que o presidente dizia.

10. New York Times, sobre o relatório climático que a administração Trump alegadamente escondeu

O jornal avançava, na primeira página, que o executivo de Donald Trump tinha escondido um relatório climático sobre os Estados Unidos. A notícia acabou por ser desmentida pelo próprio New York Times.

11. O prémio especial

Este foi para todos. Donald Trump atribuiu um prémio especial a todos os meios de comunicação norte-americanos que utilizaram a expressão “conluio com a Rússia”.

O The Guardian conta que esta pseudo-cerimónia de prémios já foi criticada por vários jornalistas – incluindo aqueles que trabalham na Casa Branca. Alex Conant, que há dez anos foi assessor de imprensa do Partido Republicano, garante que está “a trabalhar para os ajudar a eleger Republicanos em 2018”, mas avisa que “estas táticas de Donald Trump não ajudam ninguém”.

John McCain, senador no Estado do Arizona e candidato às presidenciais em 2008, pelo Partido Republicano, também se mostrou bastante crítico dos “Fake News Awards”. Num artigo de opinião publicado no Washington Post, defendeu que “a expressão ‘fake news’ – legitimada pelo presidente norte-americano – está a ser usada por autocratas para silenciar repórteres, enfraquecer oponentes políticos, evitar o escrutínio da comunicação social e enganar os cidadãos”.

Donald Trump, por sua vez, recorreu ao Twitter para sublinhar que, apesar de todas as críticas que tece aos jornalistas e à comunicação social, “existem grandes repórteres que respeito e muitas boas notícias para orgulhar o povo americano”.