Um esquema com 98% de sucesso que rendia ao cliente 18 mil euros limpos. Eram essas as garantias dadas pelos britânicos que propunham a turistas do mesmo país um esquema fraudulento, que tinha como objetivo conseguirem indemnizações de hotéis em Maiorca ou dos agentes turísticos. Para isso, faziam queixas de falsas intoxicações alimentares que teriam tido início nas unidades hoteleiras — os escritórios de advogados que geriam o esquema orientavam os clientes em todo o processo e recebiam 60% da indemnização obtida.

É essa a informação contida no processo de investigação que decorre no tribunal de instrução número 2 de Palma de Maiorca e cujo segredo de Justiça foi levantado esta semana pelo juiz. O processo, consultado pelo El País, revela que os danos a hotéis espanhóis podem ascender aos 60 milhões de euros. A Federação Hoteleira de Maiorca e três cadeias de hotéis presentes na ilha estão representados no processo judicial.

O esquema envolvia nacionais britânicos e começava na ilha. O modus operandi consistia em abordar famílias britânicas de férias em Maiorca, garantindo-lhes que, através do esquema, obteriam o dinheiro que gastaram nas férias e ainda poderiam lucrar 3.000 a 3.500 euros extra com o dinheiro da indemnização. O escritório de advogados trataria de tudo, cabendo apenas ao turista a responsabilidade de, chegado ao Reino Unido, apresentar uma denúncia contra o operador de turismo. A única prova necessária da intoxicação, conta o ABC, era apresentarem um recibo com a compra de um medicamento antidiarreico, devido à legislação britânica altamente favorável para o cliente em casos destes.

Rede organizada de “captadores de rua” e cabecilhas

As primeiras notícias da fraude surgiram em junho, quando a Confederação Espanhol de Hotéis e Alojamentos Turísticos denunciou que os casos de queixas por intoxicação tinham subido cerca de 700% na zona de Maiorca em apenas um ano — e suspeitava que cerca de 90% dessas queixas eram falsas.

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A Cadena SER teve acesso a um relatório do grupo de trabalho de crimes económicos da Polícia Nacional onde consta a denúncia de um grupo hoteleiro que tinha recebido 273 reclamações entre janeiro de 2016 e o final do verão desse mesmo ano. Das 800 pessoas que exigiam reclamação, só 38 tinham ido ao médico por causa da intoxicação, revela o mesmo relatório.

As cadeias de hotéis conseguiram descobrir, recorrendo aos serviços de detetives privados, que existia uma rede organizada para tratar destas queixas. Num dos relatórios que consta do processo, garante o El País, a Guardia Civil identifica dois cabecilhas que geriam o esquema a partir do Reino Unido e duas mulheres (mãe e filha) que controlavam a situação em Maiorca e arranjavam os “captadores” que aliciavam os turistas nas ruas. De acordo com a Guardia Civil, cada captador recebia em média 115 euros por cada reclamação bem sucedida.

Em setembro, sete pessoas de nacionalidade britânica já tinham sido detidas em Maiorca, por suspeitas de estarem ligadas a esta fraude.