No mercado informal de Luanda é possível comprar praticamente tudo e, a poucos dias do início do ano letivo, até há manuais escolares da primária, vendidos entre 200 a 400 kwanzas, cerca de um euro, apesar de ser proibido.

Os manuais dos primeiros anos podem ser encontrados em vários bairros de Luanda, negociados nas ruas, apesar da proibição de venda, por serem de “distribuição gratuita” pelo Ministério da Educação de Angola, informação estampada na capa.

Essa proibição que não inibe as vendedoras de rua de os comercializarem, pese embora a pressão dos agentes da fiscalização. É o caso de Rosa Gabriela, que vende o conjunto de cinco manuais para o ensino primário a mil kwanzas (cinco euros).

“O dia-a-dia das vendas está mal porque sabemos que nas escolas estão a entregar os livros. Por exemplo, ontem, todo o dia, não consegui vender e hoje ainda não vendi qualquer manual. O que tem maior saída por esta fase são os cadernos, lápis e lapiseiras”, explica.

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As aulas no ensino geral em Angola arrancam em fevereiro e Rosa Gabriela também já preparou as vendas de manuais para o quinto ano de escolaridade: “Estamos a comprar a 1.500 kwanzas [6,50 euros, o conjunto dos livros] e estamos a vender a 2 mil kwanzas [nove euros]”, conta. Manuais de Língua Portuguesa, Matemática, Estudo do Meio, Educação Musical, Educação Laboral, todos do primeiro ciclo do ensino primário, expostos pelo chão completam a bancada improvisada Rosa Gabriela, enquanto procura atrair a atenção de clientes.

A vendedora ambulante, de 46 anos, justifica o fraco negócio com o reforço da distribuição gratuita nas escolas, mas sem revelar onde os adquire. Para contrariar a quebra no negócio, face aos outros anos, vai dedicar-se também à venda de cadernos.

“Já decidi que vou apenas dedicar-me à venda de cadernos porque vai ser uma fase em que os cadernos terão maior saída e vai ser uma fase em que vamos faturar mais”, observa a vendedora da zona do São Paulo, em Luanda.

Por estes dias, decorre a fase de inscrição nas escolas angolanas para os novos alunos do ensino geral, depois das confirmações realizadas anteriormente.

Num outro ponto de Luanda, no mercado do Calemba, a Lusa encontrou a vendedora Ana Manuel, que também reclama da quebra no negócio e dos “apertos” diários dos agentes da fiscalização, o que também contribui para a reduzida procura dos clientes.

“Por enquanto, as vendas continuam muito baixas, clientes não há, de vez em quando compram um ou dois livros e há dias que, mesmo com clientes, não conseguimos vender, devido à pressão dos agentes da fiscalização”, conta.

Sempre por entre a apertada vigilância dos fiscais, Rosa Gabriela tem noção da gratuitidade dos manuais que comercializa, que diz adquirir em grandes quantidades nos maiores mercados de Luanda, fazendo a sua venda a retalho variar em função do preço da compra.

“Encontramos nos locais onde vendem esse material escolar a grosso, da 3.ª classe, estamos a comprar cinco livros no valor de 700 kwanzas [três euros] e vendemos a mil kwanzas [cinco euros], 1.ª classe vendemos cada livro a 200 kwanzas [90 cêntimos] e da 5.ª classe vendemos cinco livros a 2 mil kwanzas [10 euros]”, revelou.

Com o negócio em baixo, Rosa prefere esperar pelo arranque das aulas, em fevereiro, para fazer contas à vida.

“Como também vão arrancar as aulas, estamos em crer que vão aparecer mais clientes”, apontou.

O ano letivo de 2018 arranca em Angola na primeira semana de fevereiro e deve estender-se até 15 de dezembro, estando matriculados cerca de 10 milhões de estudantes nos vários níveis de ensino, até ao 12.º ano de escolaridade.