Uma conta solidária, um concerto e almoços entregues pela Câmara são medidas anunciadas esta terça-feira para ajudar os 463 trabalhadores da antiga fábrica da Triumph, em Loures, que vão reunir na quarta-feira com o administrador de insolvência nomeado pelo tribunal.

Dezenas de funcionários, a maioria mulheres, da antiga Triumph, em Loures, Lisboa, mantêm-se, por turnos, há mais de 15 dias em vigília à porta da empresa, que declarou insolvência.

Junto ao piquete, o presidente da Câmara de Loures, Bernardino Soares (CDU), anunciou que a Câmara Municipal vai passar a trazer almoços para o refeitório da fábrica, que deixou de ter refeições.

“Pelo menos sopa e alguns alimentos, de forma a garantir durante os dias em que há aqui mais gente, que é durante a semana, que haja aqui um apoio alimentar”, realçou o autarca.

Bernardino Soares revelou ainda que no dia 18 de fevereiro decorrerá um concerto solidário com artistas nacionais, cujo produto da venda dos bilhetes será para ajudar estes trabalhadores, em dificuldades no pagamento das contas do mês.

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Sindicatos e trabalhadores abriram também uma conta solidária para fazer face às situações mais urgentes, cujo número será disponibilizado no ‘site’ da Câmara.

O Governo anunciou que está a trabalhar para assegurar uma alternativa de investimento para a fábrica, cujo encerramento será uma machadada no tecido social e económico do concelho.

“É um impacto muito grande, se a empresa fechar. Não só para o concelho de Loures, a maioria dos trabalhadores são de facto do concelho de Loures, isso significa um aumento importante do nível de desemprego, são muitos trabalhadores e trabalhadoras. Mas eu acho que é mais do que isso, é um problema sério para o nosso país, o nosso país precisa de unidades produtivas e esta fábrica, que está cá há quase de 60 anos, tem qualidade produtiva, tem gente muito capacitada para a produção nesta área do têxtil e é quase um crime económico que o nosso país não possa aproveitar esta potencialidade”, considerou o presidente da Câmara.

Na segunda-feira foi conhecido que o tribunal nomeou uma administradora de insolvência, que deverá reunir com os trabalhadores às 16:15 de quarta-feira.

“Agora esperamos para ouvir o que a sr.ª administradora da insolvência tem para nos dizer. Depois disso logo se vê o que vamos fazer”, disse Mónica Antunes, trabalhadora e dirigente sindical, salientando que a vigília vai continuar “até a administradora resolver todo este processo”.

Depois, logo se vê: “Nós queremos trabalhar, mas também queremos os nossos direitos. Paguem-nos o que é nosso por direito e depois, se pensarem que isto é viável ou não, nós estamos cá para trabalhar”, salientou Mónica Antunes.

A generalidade destes trabalhadores, que têm entre os sete e os 51 anos de casa, está sem receber ordenado há 56 dias, mais o subsídio de Natal.

Graça Silveira, na empresa há 29 anos, fez parte do primeiro piquete de vigília e não arreda pé da porta da empresa para receber o que é seu, porque “as contas do mês não podem esperar”.

“Não merecíamos. Sempre produzimos tudo o que nos era pedido e a horas e sempre na maior perfeição, porque era exigida muita qualidade, e sinto-me muito revoltada. Porque nós somos seres humanos, não somos lixo que eles varram e metam ao canto. Agora já não prestamos, agora vão partir para outros países”, afirmou.

Da empresa insolvente, Graça Silveira quer “os 29 anos de casa a que tem direito e os ordenados em atraso”.

“Estou aqui porque sou mulher e respeito-me como tal e luto por aquilo que é meu, pelos meus direitos, porque é isso que eu estou a pedir, pelos meus e das minhas colegas, e para mostrar ao país que não tenham medo de lutar”, realçou.

A fábrica da antiga Triumph, situada na freguesia de Sacavém, concelho de Loures, foi adquirida no início de 2017 pela TGI-Gramax e emprega atualmente 463 trabalhadores.