Ainda agora conhecemos a lista de nomeados para os Óscares, com cerimónia marcada para 4 de março em Hollywood, e uma das perguntas em cima da mesa já diz respeito à roupa. Será que as convidadas se vão vestir de preto, tal como aconteceu nos Globos de Ouro? No início do ano, o movimento Time’s Up anunciou alto e bom som o dress code da gala. Em protesto face aos episódios de abuso e assédio sexual, conduta duvidosas e desigualdade de género no local de trabalho, as atrizes de Hollywood responderam com luto.

Na mesma altura, antecipou-se toda a temporada. A contestação deveria estender-se às restantes cerimónias: Critic’s Choice Awards, Screen Actors Guild Awards, BAFTA Film Awards e, por fim, os Óscares. “[…] Temos de estar atentos ao que as atrizes vão vestir a seguir: nas várias entregas de prémios que se seguem aos Globos e que culminam com os Óscares”, escreveu o The New York Times na ressaca dos Globos de Ouro. “Mas se as mulheres e os homens envolvidos levarem isto a sério — se quiserem que o ato seja visto como mais do que um gesto e de facto como o começo de algo novo –, isto tem de continuar. Talvez tenham de se vestir de vermelho nos SAG Awards. Talvez as mulheres usem todas fato com calças. Talvez usem vestidos curtos, em vez de vestidos de gala. Talvez sejam os homens a usar saias. É com eles”, pode ler-se no mesmo artigo.

O pin Time’s Up na clutch da atriz Allison Williams, nos SAG Awards © Getty Images

Passaram-se duas semanas e a nuvem negra dissipou-se. Embora o repto do vestido preto tenha sido lançado para toda a época de prémios de cinema e televisão (ou pelo menos, assim foi interpretado pela imprensa em todo o mundo), o luto esmoreceu logo após os Globos de Ouro. No dia 11 de janeiro, Reese Witherspoon, Emilia Clarke e Laura Dern foram os últimos redutos do #WhyWeWearBlack na passadeira vermelha dos Critics Choice Awards, tenha o gesto sido intencional ou não. No último domingo, o manifesto voltou a perder fulgor. Das nomeadas, apenas Laura Dern (mais uma vez) e Mary J. Blidge se vestiram de preto, embora o pin “Time’s Up” tenha espreitado aqui e ali. A atriz Molly Shannon usou-o ao peito. Allison Williams, protagonista da série Girls, usou-o na clutch.

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Tudo aponta numa única direção: em comparação com os Globos de Ouro, os Óscares serão bem mais pacatos e sem blackout. Em primeiro lugar, porque tudo estava mais quente no dia 7 de janeiro. A apresentação pública do movimento Time’s Up, imediatamente apoiado por centenas de mulheres com exposição mediática, tinha sido há menos de uma semana. Ao ponto alto da campanha #metoo, acresceu o facto de os Globos terem sido a primeira grande entrega prémios de cinema depois do escândalo de Weinstein ter rebentado, no início de outubro.

Meryl Street com a ativista Ai-jen Poo na passadeira vermelha dos Globos de Ouro © VALERIE MACON/AFP/Getty Images

Meryl Streep, Saoirse Ronan, Margot Robbie, Frances McDormand e Sally Hawkins estão nomeadas para o Óscar de Melhor Atriz Principal. Nenhuma falhou o dress code dos Globos de Ouro. Streep fez-se acompanhar pela ativista Ai-jen Poo e McDormand, que levou para casa a estatueta de Melhor Atriz, afirmou no seu discurso sentir-se satisfeita por “fazer parte da mudança tectónica na estrutura de poder da nossa indústria”. Mas os Óscares têm uma atmosfera particular. “A Academia e a emissora do espetáculo, a ABC, têm interesse financeiro nas audiências e um sentido de decoro que pesa que coloca um peso sobre a cerimónia”, escreve o The New York Times.

O mesmo jornal recua um ano, altura em que os discursos anti-Trump estavam bem acesos entre as estrelas de cinema. Também em 2017, a época abriu em grande. O discurso de Meryl Streep foi impactante e ecoou durante as semanas seguintes até que chegaram os Óscares e o impulso esfumou-se por entre dois envelopes trocados. Em 2018, o trending topic é outro. Será que, mesmo que não levem os seus vestidos pretos, as mulheres de Hollywood se vão fazer ouvir?