Lou Anna Simon, presidente da Universidade de Michigan State, anunciou na quarta-feira a sua demissão, depois de Larry Nassar ter sido condenado a uma pena mínima de 40 anos e máxima de 175 anos de prisão por ter cometido crimes de abuso sexual contra mais de 150 atletas. Mas nem a sentença de Nassar nem o despedimento de Simon vão travar as investigações.

Às sobreviventes, nunca poderei pedir desculpa as vezes suficientes por ter confiado num médico conceituado que era, na realidade, uma pessoa tão, mas tão cruel, que causou tanto sofrimento sob pretexto de estar a realizar um tratamento médico”, escreve Lou Anna Simon na sua carta de despedimento.

No comunicado escrito, refere que já em 2016 tinha planeado resignar ao cargo, mas a sua partida foi adiada depois de surgirem acusações contra Nassar. As vítimas acusam a universidade de indiferença quanto às queixas feitas e muitas contam que se sentiram culpadas, contudo, a presidente garante que não tinha conhecimento dos casos relatados, segundo o Washington Post. Em 2014 o médico acabou por ser alvo de investigação por agressão sexual e a instituição acabou por suspendê-lo durante três meses, após os quais voltou a exercer funções.

Muitos pediram a demissão da presidente. Como é o caso dos senadores Debbie Stabenow e Gary Peterses. Peters escreveu num comunicado que se tornou “claro que a liderança na Universidade de Michigan State não conseguiu prevenir, abordar ou responder adequadamente à vitimização de jovens no campus e a crise na MSU continua apesar do veredicto de hoje”.

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Também a Câmara dos Deputados daquele estado pediu que Simon resignasse. O deputado Adam Zemke afirmou que Simon era responsável “por perpetuar uma cultura doentia que permitia que um predador continuasse a molestar outras mulheres e jovens, ao mesmo tempo que forçava as vítimas a suportar o sofrimento em silêncio”

A falha flagrante de proteger as estudantes dos abusos de Nassar prova que ela não está à altura para continuar como presidente da universidade”, disse Zemke.

Depois de 40 anos ao serviço da instituição, Lou Anna Simon deixa agora o cargo, sublinhando que “Como presidente, é natural que seja o foco da raiva. Eu compreendo e é por isso que limitei as minhas declarações pessoais”. A antiga presidente refere que foram muitos anos de dedicação e que no que depender de si vai continuar a apoiar a evolução da universidade. Alguns defenderam-na, dizendo que é respeitada e que podia efetivamente não ter tido conhecimento dos abusos.

Demissão de Simon não trava investigações

O estado de Michigan enfrenta agora um longo período de escrutínio devido ao escândalo que envolve Nassar. A Secretária de Educação dos Estados Unidos, Betsy DeVos, disse, na quinta-feira que o seu departamento vai investigar o papel do Estado do Michigan neste caso, enquanto é pedido à universidade que forneça os registos das investigações que levou a cabo sobre o comportamento do médico na instituição, avança o New York Times.

O que aconteceu no Estado de Michigan é abominável. Os alunos devem estar seguros e protegidos nos nossos campus. O departamento está a investigar o caso e vai responsabilizar a MSU por qualuquer violação da lei”, disse DeVos.

Paralelamente, o procurador-geral está a preparar investigações à universidade, um senador dos EUA pediu audiências no Congresso e um porta-voz da Câmara de Michigan pediu a demissão dos curadores da universidade, que são eleitos por votos.

Estamos a lidar com um monstro que era um violador em série que deve ter violado mais vítimas do que qualquer outro violador na história do nosso estado”, disse o republicano Tom Leonard, que pediu a demissão dos curadores da universidade.

Mas as repercussões não se restringem ao estado de Michigan: o diretor executivo do Comité Olímpico dos Estados Unidos, Scott Blackmun, enviou uma carta à U.S.A. Gymnastics, dizendo que é necessário começar do zero. Blackmun ameaça desacreditar a federação se o Conselho não se demitir até quarta-feira. Entretanto, vários membros dos quadros já se demitiram, incluindo o presidente, Paul Parilla.

Muitos funcionários da universidade esperam já ter de enfrentar processos, que se centram na ideia de que o estado de Michigan já tinha conhecimento do comportamento de Nassar há mais de duas décadas (várias vítimas contaram que fizeram queixa no final dos anos 90).