Já se sente o aroma dos consensos alargados, e nem o CDS quer ficar de fora. Numa altura em que, com a eleição de Rui Rio para a liderança do PSD, a política portuguesa voltou a falar de entendimentos ao centro, o CDS não quer ficar num plano secundário e também quer ir a jogo. Mas com muitos recados. Esta segunda-feira, na abertura das jornadas parlamentares do CDS, coube ao líder parlamentar do CDS, Nuno Magalhães, dizer que o CDS está “disponível” para participar na reforma da descentralização, mas com um aviso muito claro dirigido de forma velada a Rui Rio: a descentralização não é uma guerra “Norte-Sul”. E outro dirigido, também de forma velada, a António Costa: não é uma forma de criar mais “jobs for the boys“.

“A descentralização não é uma guerra Norte-Sul, nem é uma guerra para a criação de postos de trabalho políticos, é sim uma guerra para combater as assimetrias e as desigualdades”, disse, fazendo uma referência implícita ao facto de Rui Rio ter afirmado que a vinda da Google para Portugal não devia passar por Lisboa. Nuno Magalhães, contudo, não referiu o nome do novo presidente do PSD.

Para o líder parlamentar do CDS, o importante é a reforma ser feita dentro da lógica de conferir mais e melhores competências aos municípios, mas “sem criar novos jobs for the boys”.Estaremos disponíveis para fazer uma descentralização nesse pressuposto, nunca a pensar em rivalidades que não existem ou nos partidos que as escondem”, disse no discurso de abertura das jornadas parlamentares do CDS, que decorrem esta segunda e terça-feira em Setúbal.

Para o líder parlamentar do CDS, é preciso deixar a descoberto as divergências da “geringonça”, nomeadamente sobre este matéria estruturante que é a descentralização. “O dr. António Costa diz há muito tempo que é uma matéria estruturante que precisa de consensos; o CDS apresenta propostas, mas chegamos à hora da votação e o que acontece é que a esquerda não se entende e usa o truque de baixar à comissão, sem votação, para que as divergências públicas se tornem concordâncias privadas”, disse, garantindo que o CDS vai “continuar a provocar essas votações”, em nome da clareza política.

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Ora, sabendo que Governo e PSD estão genericamente de acordo no que à descentralização diz respeito, o líder parlamentar do CDS quer forçar a discussão sobre o tema, para que, caso não haja entendimento, o ónus do fracasso fique do lado de lá. “Vamos continuar a propor e a apresentar propostas, se António Costa não quiser consensos, então assuma que não os quer — mas nós estamos disponíveis para que isso aconteça nas áreas estruturantes”, sublinhou.

A fórmula serve para a descentralização como serve para a reforma florestal e combate à desertificação do interior. “Estamos disponíveis para que, em matéria de reforma florestal e combate à desertificação do interior, possa haver consenso”, disse ainda, lembrando que as propostas dos vários partidos sobre as medidas de ordenamento do território e prevenção de incêndios tiveram o mesmo caminho que têm todas as propostas onde PS, PCP e BE não se entendem: “Baixaram à comissão para que não fossem audíveis as divergências”.

É este o “truque” do PS de António Costa, que Nuno Magalhães diz estar a desmascarar. “Caiu a máscara de António Costa sobre o eventual diálogo”, disse, lembrando que o CDS fez “mais de 90” propostas em sede de Orçamento do Estado, e que foram todas chumbadas, incluindo algumas que foram “objeto de plágio por parte do PS”. “Se isto não é sectarismo político, o que será? António Costa não quer consenso, quer divisão, mas caiu-lhe a máscara”, afirmou.