O crescimento do preço do petróleo pode ter um impacto negativo na economia portuguesa, mas economistas contactados pela agência Lusa consideram que a subida estimada para 2018 não é preocupante e será “acomodada facilmente”.

Depois de em janeiro o preço do barril de petróleo Brent, para entrega em março, ter ultrapassado os 70 dólares no fecho das transações pela primeira vez desde dezembro de 2014, a Lusa contactou analistas para compreender que impacto é que esta subida significativa pode ter na economia portuguesa.

“Do nosso ponto de vista ainda não são subidas preocupantes, basta pensar no que aconteceu nos últimos anos, quando chegámos a ter petróleo acima dos 100 dólares, obviamente que na altura teve alguns impactos, mas neste momento a economia mundial está bastante maior do que era nessa altura, o que significa que é um valor aceitável”, disse à agência Lusa o economista-chefe do banco Montepio, Rui Bernardes Serra.

O economista, que tal como outros analistas contactados pela Lusa, considera que o preço do barril não deverá ultrapassar os 70 dólares este ano, admitindo que até possa diminuir ligeiramente em 2018, afirma que caso houvesse um ‘salto’ para os 100 dólares “já haveria impacto” para as famílias portuguesas.

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No relatório do Orçamento do Estado para 2018 (OE2018), o Ministério das Finanças assume o preço médio do barril de petróleo nos 54 dólares em 2018 e afirma que um aumento de 20% (ou seja, a rondar os 65 dólares) prejudicaria o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 0,1 pontos percentuais (cerca de 180 milhões de euros).

Rui Bernardes Serra salienta que parte da subida do preço do petróleo está associada a um crescimento da economia mundial e que isso “vai pesar positivamente no peso da economia portuguesa, podendo facilmente anual este impacto negativo que tem o petróleo no PIB [Produto Interno Bruto] português por via do consumo privado”.

Também o professor do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG) António da Ascensão Costa afirma que o aumento do preço do petróleo “acaba por se transmitir a toda a economia e no geral o impacto é ligeiramente negativo”, caso a subida se mantenha na ordem dos 20%.

“Mas uma subida de 20% este ano acho que a economia tem capacidade de processar isso. E ainda ficamos abaixo dos valores de 2014”, afirma o economista, salientando que caso existam “subidas mais fortes do que isso já se entra no que normalmente é chamado de um choque petrolífero”.

A subida do preço do petróleo seria preocupante, para estes dois economistas, se se alcançarem preços a rondar os 100 dólares por barril.

Em 2017, a procura mundial de petróleo aumentou 1,64% (o equivalente a 1,57 milhões de barris diários) para um total de 96,99 milhões de barris por dia, segundo a Organização de Países Exportadores de Petróleo (OPEP).

Para este ano, a OPEP mantém a estimativa de crescimento estável, designadamente um aumento de 1,57% (1,53 milhões de barris por dia) para 98,51 milhões de barris por dia. A organização também prevê que se registe uma significativa subida da produção de petróleo dos países não filiados na organização, como Estados Unidos, Rússia e Canadá, que produzirão um total de 58,94 milhões de barris por dia, mais 1,14 milhões de barris por dia do que em 2017.

Quanto aos preços do petróleo, que aumentaram devido ao pacto de redução da produção entre a OPEP e outros dez países que não pertencem à OPEP, liderados pela Rússia, os analistas da OPEP sublinham que o preço médio em dezembro foi o mais alto desde junho de 2015.

O preço de referência do barril da OPEP foi de 62,06 dólares em dezembro, mais 29% do que no ano anterior e contra uma média anual em 2017 de 52,42 dólares.