O reitor da Universidade Fernando Pessoa, Salvato Trigo, está a ser julgado no Tribunal Judicial da Comarca do Porto. Em causa está o desvio de “pelo menos” três milhões de euros da instituição de ensino privado para benefício próprio e da sua família, avança o Público.

O julgamento decorre desde outubro à porta fechada a pedido do arguido. A acusação, consultada pelo Público, refere vários esquemas que Salvato Trigo terá montado para obter grandes quantias de dinheiro da fundação que detém a universidade. Dinheiro esse que era canalizado para uma empresa em nome do próprio, da sua mulher e dos dois filhos.

O negócio que causou maior prejuízo, segundo a acusação, terá sido a compra de uma casa contígua à reitoria da universidade, que alberga hoje a Escola de Pós-Graduações da Instituição. O imóvel foi comprado pela empresa da família, a Erasmo, que não tinha dinheiro disponível para pagar 1,4 milhões de euros e pediu um empréstimo de 1,2 milhões à universidade. A fundação acabou também por desembolsar 584 milhões para as obras de reparação que permitiram a instalação da Escola e ainda pagou 40 mil euros mensais de renda à família Trigo.

Salvato Trigo assegura que a “acusação é completamente falsa” e insiste que está a ser alvo de vingança por parte de um antigo técnico oficial de contas da Fernando Pessoa. O caso, denunciado pela Ordem dos Contabilistas Certificados, já foi averiguado por um juiz de instrução que considera provável a condenação devido à existência de provas, na sua maioria documentos. A Polícia Judiciária fez perícias financeiras que suportam a acusação.

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Também a sociedade Erasmo recebia as rendas que resultavam do aluguer dos bares e cantinas da universidade que estavam a ser explorados. As entidades que exploravam os espaços entregaram à família de Salvato Trigo mais de 50 mil euros por ano. Com as contas de gás, eletricidade, limpeza e telefone o esquema era o mesmo. As contas eram pagas pela universidade, mas o reembolso, feito pelas entidades, era entregue à sociedade de Trigo e não à fundação.

O trespasse de um instituto de línguas detido pela Erasmo para a fundação da universidade terá também causado grande prejuízo, bem como um negócio de uma residência com quartos arrendados a estudantes, propriedade da empresa da família Trigo.

O reitor está, assim, a ser julgado por crime de infidelidade, um ilícito punido “com pena de prisão até três anos ou com pena de multa”, já que, a ser verdade, causou “prejuízo patrimonial importante” de forma intencional quando tinha “o encargo de dispor de interesses patrimoniais alheios ou de os administrar ou fiscalizar”. O Ministério Público pede que a vantagem patrimonial obtida com o crime — pelo menos 3.033.056 euros — seja declarada perdida a favor do Estado, uma vez que foi obtida“através da prática de um facto ilícito”.

Esta não é a primeira vez que Salvato Trigo responde por crime em tribunal. No final dos anos 90 foi condenado a 10 meses de prisão, suspensos, num processo que envolvia o desvio de subsídios do Fundo Social Europeu, quando era diretor da Escola Superior de Jornalismo do Porto.