A Amazon, empresa que revolucionou, primeiro, o setor livreiro e, depois, todo o comércio online, já terá escolhido o próximo setor onde quer fazer o mesmo tipo de disrupção: o setor da saúde. É, pelo menos, essa a leitura que se pode fazer da forma que estão a reagir, em bolsa, as seguradoras (que obtêm muitas receitas nesta atividade) à notícia de que a Amazon se vai juntar ao maior banco dos EUA — o JP Morgan Chase — e ao famoso investidor Warren Buffett para criarem uma empresa para operar no setor da saúde.

Em concreto, o anúncio da Amazon, JP Morgan e Berskshire Hathaway (a empresa de investimentos do “Oráculo de Omaha) é da criação de uma empresa independente que, pelo menos para já, irá prestar serviços ligados à saúde aos funcionários das três empresas nos EUA, “sem os incentivos ou as limitações associadas à obtenção de lucros“. Os investidores estão a ler nesta frase uma indicação clara de que, ainda que a entidade vá, para já, servir um número limitado de pessoas, pode estar prestes a surgir uma grande empresa capaz de abalar todo o setor.

Ainda não é claro de que forma é que a nova entidade vai operar neste setor (numa primeira fase, fala-se em “soluções tecnológicas” que permitam o acesso a cuidados de saúde de forma mais barata), mas é possível fazer algumas suposições tendo em conta o perfil dos três intervenientes na parceria. O investidor Warren Buffett referiu-se, recentemente, à saúde — em particular, os planos de Donald Trump para acabar com o ObamaCare — como uma “lombriga esfomeada” que suga recursos imensos na economia. Já Jeff Bezos é um dos grandes inovadores desta geração, e vários analistas do setor da saúde já tinham avisado que este setor poderia ser o próximo alvo do líder da Amazon.

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As três empresas não são as primeiras a querer iniciar mudanças drásticas neste setor, mas o facto de serem três das empresas mais influentes do mundo está a fazer com que o anúncio esteja a ser levado a sério. Empresas como a Express Scripts e a CVS Health, que operam neste setor, estão a cair 6,7% e 5,5%, respetivamente, segundo a Bloomberg. Seguradoras especializadas neste setor, como a Cigna Corporation e a Anthem, também estão a cair em bolsa.

Segundo os três parceiros, a criação da nova “entidade” ainda está numa fase preliminar. Mas o objetivo, desde já, é oferecer serviços de saúde a um custo baixo e de forma transparente. As três empresas têm um total de 1,2 milhões de funcionários, nos EUA, mas a leitura que está a ser feita é que no futuro, se houver sucesso, o modelo poderá ser aberto a todos.

“O sistema de saúde é complexo, e entramos neste desafio bem conscientes do grau de dificuldade. Mas por muito difícil que possa ser, reduzir o fardo que a saúde impõe na economia, ao mesmo tempo que se proporciona resultados melhores para os trabalhadores e para as suas famílias, certamente valerá bem o esforço”, pode ler-se no comunicado citado pela imprensa financeira. “Para termos sucesso, será necessário especialistas talentosos, uma mente fresca e uma orientação de longo prazo”, conclui-se no comunicado.

De acordo com a Bloomberg, os custos com a saúde sorveram 18% da riqueza produzida na economia norte-americana no ano passado, o que fica muito acima da média dos países desenvolvidos.