Presente em Portugal há cerca de um ano, a Tesla entrou agora numa nova etapa da sua implementação no nosso país. Os já prometidos stand de exposição e oficina continuam a estar agendados para breve, mas avançou-se bastante neste primeiro mês de 2018 em matéria de rede de supercarregadores, que são pertença da marca – e suportados por ela – e que constituem a forma mais rápida de carregar as baterias, com uma potência de 120 kW, em vez dos habituais 50 kW da carga rápida da rede pública da Mobi-e.

A montagem da rede de supercarregadores da marca americana foi iniciada nos primeiros dias de Janeiro de 2018, com a abertura da estação de carregamento rápido em Fátima, para servir quem se desloca pela auto-estrada A1, com o construtor gerido por Elon Musk a abrir depois o segundo conjunto de superchargers junto a Montemor-o-Novo, na A6. Cada uma destas estações possui oito postos de carga individuais, todos eles a 120 kW.

A exemplo do que já acontece com a infraestrutura de Fátima, a estação de carga alentejana volta a estar localizada fora da auto-estrada, a cerca de 6 km desta via que liga Lisboa a Madrid, no parque de estacionamento do hotel de luxo L’AND Vineyards. Onde, garante a Tesla, qualquer condutor de um veículo da marca poderá deslocar-se, a qualquer hora do dia e, enquanto bebe um café no bar, repõe, em menos de meia-hora, 80% da capacidade das baterias. Veja aqui onde estão as estações já em funcionamento de supercarregadores da Tesla em Portugal, bem como as que estão previstas para breve.

Para testar devidamente a nova estação de carregamento, o Observador rumou ao Alentejo, não só para ver como tudo funcionava, como para ficar por dentro das outras novidades que a marca reserva para os seus clientes nacionais.

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O desafio

Na verdade, o desafio até era fácil. Basicamente, tratava-se de aproveitar a inauguração daquela que é a segunda estação de supercarregadores em Portugal para, literalmente, dar um pulinho (saímos às 10h00 e estávamos de volta a Lisboa antes das 14h00) até Montemor-o-Novo. Com o aliciante da viagem ser realizada ao volante de um dos dois modelos da marca actualmente disponíveis entre nós: o Model S e o Model X.

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O carro

Com dois modelos à disposição, a nossa escolha acabou por recair naquele que nos pareceu, também pelo local a visitar, a escolha óbvia: o Model X. Ou, dito de outra forma, um crossover – a verdadeira proposta da moda. E, neste caso, 100% eléctrico, recorrendo a dois motores para garantir a desejada tracção integral.

Proposto actualmente com dois níveis distintos de capacidade de bateria, respectivamente 75 kWh (no 75D) e 100 kWh (no 100D e no P100D, o mais desportivo), o Model X colocado à nossa disposição para incursão pelo Alentejo era a versão mais potente, a anunciar uma autonomia oficial de 454 km. Ainda que, conforme nos confidenciou um responsável da Tesla, garantidos estejam, numa “utilização normal”, um valor a rondar os 400 km, com uma única carga.

Mais do que estes números, o que mais impacto causa no SUV da Tesla são as sensações que transmite. Desde logo ao primeiro olhar, pelas dimensões e, principalmente, por algumas das soluções exibidas, como a peculiar abertura das portas traseiras tipo asas de gaivota (a marca prefere chamar-lhes “asas de falcão”), a facilitar enormemente o acesso, tanto mais que necessitam de apenas 30 cm de distância para o carro do lado para poderem abrir, bastando para tal exercer uma pequena pressão no manípulo da porta.

Examinadas as duas zonas para bagagens (na traseira, onde existe um mundo de espaço, e à frente, debaixo do capot, onde está localizado um “alçapão” mais pequeno – uma vez que a colocação dos motores eléctricos nos eixos deixa mais espaço livre), entramos no interior de um habitáculo que pode oferecer cinco, seis (2+2+2) ou sete lugares, o que é necessário definir logo no momento da encomenda. Mas que, na verdade, acabou por nos surpreender mais pela qualidade que exibe – tudo revestido com os melhores materiais, pele, Alcantara e metal, a juntar uma óptima solidez, que não esperávamos ver num carro feito no (e para) o mercado americano.

A par desta verdadeira surpresa, um tecto panorâmico sem cortina, porque o vidro escurece com a intensidade da luz, e o já esperado impacto causado pela tecnologia, traduzida principalmente pelos dois painéis digitais a cores: o da instrumentação em frente ao condutor, de fácil leitura e com tudo o que é imprescindível para uma condução descansada, mas principalmente o ecrã gigante (17″) que faz de consola central. Maior que um tablet, funcional, intuitivo e centralizando tudo o que tem a ver com o carro – até o comando de abertura do capot frontal, onde fizemos questão de arrumar um pequeno saco. Aliás, instalados no lugar do condutor e a desfrutar de uma posição de condução alta, a descoberta que os comandos dos vidros e a alavanca da caixa foram “oferta” da Mercedes.

Sem encontrar ignição ou botão para colocar o carro em funcionamento, somos então alertados de que tudo isso é desnecessário e que basta colocar o comando da caixa em “D”, para o Model X acordar. E, consequentemente, todas e mais algumas funcionalidades, integradas no tal tablet. Como é o caso do sistema de navegação com base no Google Maps e da ligação permanente online (gratuita, ao longo de toda a vida do carro…), que até inclui o Spotify Premium. Sem esquecer soluções mais técnicas, como a possibilidade de regular a distância ao solo, segundo um de cinco níveis distintos (20 cm é o máximo). Com o sistema a revelar, inclusivamente, a capacidade de aprender, com a repetição e também graças à geolocalização, os locais onde deve passar a elevar, de forma automática, a carroçaria – como, por exemplo, ao passar a lomba que está à entrada da garagem.

Com praticamente todos estes equipamentos propostos de série, independentemente da versão, a maior procura dos clientes portugueses, segundo nos revelou fonte da marca norte-americana, reside na versão mais potente, 100D. O que se explica, principalmente, na curta diferença de preço: o 75D começa nos 87 mil euros, sensivelmente, ao passo que o 100D custa apenas mais quatro mil euros, ou seja, cerca de 91 mil euros.

Quanto a entregas, tudo depende não da versão, mas do facto de querer, ou não, um carro mais ou menos personalizado. O que faz com que a entrega tanto possa demorar dois meses (é o mínimo), como quatro (para as versões mais personalizadas).

As baterias e motores estão cobertos por uma garantia, sem limite de quilómetros, de oito anos (quatro anos para o resto do veículo), e, em caso de algum problema mecânico ou acidente, já não é preciso enviar o carro para as instalações da marca na Holanda, uma vez que, à excepção da mudança de algumas células da bateria, todas as restantes intervenções já podem ser feitas em Portugal. O cliente apenas tem de comunicar o facto ao fabricante, através de um número específico, que este tratará de tudo.

A condução

Resumindo numa só palavra: excelente! Apesar de se tratar de um SUV de mais de cinco metros e 2,5 toneladas de peso (só 900 kg dizem respeito às baterias, colocadas sob o piso e entre os eixos), a verdade é que o Model X 100D faz jus ao epíteto de SUV mais rápido do mundo, capaz de fazer acelerações dos 0 aos 100 km/h em 3,1 segundos. Algo que não confirmámos, ainda que não deixando de experimentar a impressionante capacidade de aceleração, sem perdas de tracção (vantagens de 4×4…) que oferece. Mas também, e apesar das dimensões XXL, a estabilidade e eficácia que revela (a colocação das baterias na base da plataforma ajuda), o conforto que proporciona (mesmo sem deixar de garantir algum feedback no contacto com a estrada), além do prazer e descontração que assegura. Neste caso, fruto de uma tecnologia que a Tesla domina melhor do que todos os outros fabricantes: o Autopilot.

Activar o Autopilot não podia ser mais simples

O trânsito citadino rapidamente ficou para trás, com a ajuda da forte capacidade de aceleração do Model X 100D (sempre são 423 cv debaixo do pé do acelerador…). As oito câmaras exteriores (três à frente, duas de cada um dos lados do carro e uma na traseira), que tanto contribuíram para nos sentirmos mais confiantes nas manobras em cidade, voltam a ajudar-nos em auto-estrada, pois são elas que fornecem informações ao Autopilot, que colocámos em funcionamento com apenas três toques numa das patilhas à esquerda da coluna da direcção. Verdadeira antecâmara da condução autónoma (o condutor tem de estar atento e “tocar” no volante volta e meia), o maior perigo deste sistema é mesmo a facilidade com que nos faz esquecer que (ainda) temos de conduzir.

Isto porque, uma vez activado, o Autopilot assume por completo o controlo da condução, conseguindo inclusivamente fazer ultrapassagens sem que o condutor toque no volante, bastando que accione o pisca. Se, no início, o sistema ainda vai exigindo que o condutor toque frequentemente no volante, como prova de que está atento, à medida que o tempo vai passando e tudo corre sobre rodas, o espaçamento torna-se cada vez maior. Até porque o sistema está preparado para, em caso de situações excepcionais, como um desmaio ou um AVC, ligar automaticamente os quatro piscas e encostar sozinho à berma. Ficando a aguardar ajuda.

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Actualmente uma das poucas tecnologias propostas pela Tesla em Portugal, na forma de opcional (encomendado de fábrica custa 5.400€ e instalado a posteriori, 6.400€), o Autopilot está disponível para qualquer modelo da marca, inclusivamente para o Model 3. O qual, segundo nos confirmaram, deverá chegar à Europa na segunda metade de 2018. Embora sem garantir que Portugal possa vir a estar entre os primeiros países a receberem o modelo. Certo, apenas, é que as primeiras unidades serão para os já clientes Tesla, que terão direito de preferência, sendo que só depois será tomada em linha de conta a ordem na lista de reservas.

O Semi também já terá conquistado clientes em Portugal

Quanto aos restantes modelos já anunciados, oportunidade para revelar igualmente que a marca já tem conhecimento de interessados em Portugal no camião Semi, embora não revele nomes. Sendo que, sobre o desportivo Roadster, uma só informação: “chega em 2020”.

O carregamento

Depois de uma viagem tranquila e descontraída, chegámos ao nosso destino: a segunda estação de superchargers em Portugal, concebida para servir de apoio à auto-estrada A6 que liga Lisboa a Espanha. Mas que, a exemplo da infraestrutura de Fátima, obriga a sair da via rápida para “abastecer”. Algo que, segundo apurámos junto de um responsável da Tesla, é consequência da pouca receptividade das estações de serviço para receberem estes supercarregadores, ainda que o investimento seja apenas e só do fabricante. Como tal, e no caso da estação de carregamento rápido de Montemor-o-Novo, com oito pontos de carga, surge localizada no parque de estacionamento do hotel de luxo L’AND Vineyards. Que, aberto 24 horas por dia, permite a qualquer proprietário de um Tesla aí dirigir-se, para colocar o seu carro a carregar.

E, conforme também pudemos comprovar, o processo é extremamente simples: conduzidos pelo sistema de navegação até ao local onde estão os superchargers, basta estacionar o carro de marcha-atrás, sair da viatura e, ao tirar a “pistola”, premir um pequeno botão na mesma. O carro recebe de pronto a mensagem do sistema e abre automaticamente uma pequena portinhola, que se encontra disfarçada num dos farolins traseiros, colocando à mostra a tomada onde devemos acoplar o cabo do carregador. A partir daí, bastam cerca de 30 minutos, para recuperarmos cerca de 80% da capacidade das baterias.

Quanto a custos, a Tesla Portugal revela que, pelo menos até 31 de Janeiro, os clientes continuarão a não pagar pela electricidade utilizada. Com um aliciante extra para os clientes novos: caso encomendem um Tesla até ao último dia do primeiro mês do ano, a marca oferece todos os carregamentos, ao longo da vida do veículo.

Nos restantes casos, os clientes recebem uma oferta anual de 400 kW de energia, ou seja, electricidade suficiente para fazer cerca de 1.600 km. Uma vez ultrapassado esse valor, a energia será paga a 0,23 cêntimos o kW/h. Valor debitado no cartão de crédito que o cliente Tesla tem associado ao seu registo na marca, até porque o fabricante pretende que o contrato de fornecimento de energia seja feito não com um dos fornecedores que actualmente operam no mercado, mas através da própria companhia norte-americana. Veja aqui onde estão localizados os postos de carga, dos diferentes tipos, da marca.

Ainda assim, a Tesla salienta que a forma ideal de carregamento é na residência e em períodos de vazio. Altura em os valores a pagar serão menores, mesmo com o tempo de carregamento a aumentar. No caso de uma instalação doméstica normal, a bateria armazena energia que lhe permite percorrer mais 15 km por cada hora de ligação à rede, ao passo que, numa tomada trifásica, consegue ganhar entre 30 e 50 km por hora. Já num posto carregamento, como os que a Tesla possui em 45 locais no país, entre hotéis e restaurantes, é possível repor cerca de 200 km, numa hora. Ainda assim, mais lento do que num supercharger, onde 30 minutos bastam para garantir energia para mais 300 km.

O futuro

Basicamente, será de crescimento. Depois de ter inaugurado a segunda estação de supercarregadores no Alentejo, a Tesla anuncia que a ambição é vir a ter, até ao final do presente ano, um total de sete infraestruturas do género, espalhadas pelo território nacional. Todas elas idênticas às já existentes em Fátima e Montemor-o-Novo, com oito pontos de carregamento cada, abarcando distritos como Braga, Faro, Guarda e Vila Real, assim como o percurso da A2, que liga Lisboa ao Algarve.

Em relação à localização concreta das novas estações de superchargers, a fonte da empresa revelou que os locais finais ainda não estejam fechados, não especificando se haverá um esforço para que estejam posicionadas em estações de serviço, ou se, pelo contrário, continuarão a ficar localizadas fora das auto-estradas. Contudo, é bom recordar que os veículos da Tesla, à semelhança dos restantes veículos eléctricos podem ser alimentados na rede Mobi-e, bastando para tal recorrer a um aplicador, que a marca americana fornece.