“Hylas and the Nymphs” é o nome deste quadro de John William Waterhouse que até há poucos dias estava exposto na Manchester Art Gallery. Como se pode ver, é um quadro onde figuram ninfas pubescentes, nuas, que tentam aliciar um jovem. Por outras palavras, trata-se de uma recorrente fantasia Vitoriana, mas hoje em dia, será que ele representa um cenário impróprio e ofensivo?

“Hylas and the Nymphs” é o nome deste quadro de John William Waterhouse. Acha-o ofensivo?

Foi esta a pergunta que a galeria inglesa lançou aos seus visitantes, depois de ter retirado a obra da sua exposição permanente, na passada sexta-feira. Até os postais com a imagem foram retirados da loja do espaço.

No lugar deixado em branco, a galeria colocou uma notificação onde explicavam que esse “buraco” na parede tinha sido criado de propósito, tendo como objetivo “incitar o diálogo sobre a forma como interpretamos e expomos peças de arte na coleção pública da galeria.” Os visitantes foram convidados a escrever post-its com os seus pensamentos sobre o assunto e a colocá-los nesta área.

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Ao jornal inglês The Guardian, a curadora de arte contemporânea da galeria, Clare Gannaway, disse que esta decisão foi tomada com o intuito de pôr as pessoas a falar sobre o tema e não é uma forma de censura. “Não quisemos negar a existência de uma obra de arte”, disse.

O quadro costumava estar exposto na sala In Pursuit of Beauty (“Em Busca da Beleza”, em português), área onde estão reunidas várias obras do século XIX que, à semelhança deste trabalho pré-rafaelita, que mostram mulheres nuas.

A mesma Gannaway explicou ainda que o título da obra era mau, já que remetia à busca do artista masculino pelo corpo feminino. Disse ainda que a imagem retratava o corpo da mulher como sendo um passivo objeto de decoração.

“Para mim, pessoalmente, há uma sensação de embaraço que ainda não abordámos. A nossa atenção está noutro lado… Coletivamente esquecemo-nos de olhar para este espaço em branco e pensar nele como deve ser. Queremos fazer alguma coisa sobre isso agora porque já nos esquecemos de o fazer há muito tempo.”

A curadora admitiu ainda que o debate gerado por movimentos como o Time’s Up e o #MeToo tiveram alguma influência na decisão.

A remoção do quadro é descrita como uma intervenção artística e faz parte da exposição a solo da artista Sonia Bryce, que estreia em Março e pode contar com a participação de qualquer pessoa, já que o público é incentivado a comentar o assunto através do twitter, utilizando o hastag #MAGSoniaBoyce.

As reações a este assunto tem sido mistas: há quem diga que esta ação abre um precedente perigoso enquanto outros a consideram “politicamente correta”. O artista Michael Browne, que participou no evento de remoção do quadro, assumiu estar preocupado com o possível apagar do passado.

“Não gosto da remoção e substituição de uma obra de arte e que me digam que aquilo está errado e isto está certo. Eles estão a usar o seu poder para vetar uma peça exposta numa coleção pública. Não sabemos quanto tempo é que o quadro vai permanecer fora da parede — podem ser dias, semanas, meses. Se não existir alguma forma de protesto, é muito provável que ele nunca mais volte.”

O mesmo Browne realçou o receio de que obras antigas estejam a ser descartadas em prol de outras mais contemporâneas. “Eu sei que há outros quadros na cave que muito provavelmente vão ser considerados ofensivos pelas mesmas razões e, muito provavelmente, nunca vão ver a luz do dia”, explicou.

Em contraponto a esta teoria, Gannaway realça que nada disto tem a ver com censura — “Achamos que o quadro irá regressar, provavelmente, mas esperamos que seja contextualizado de forma diferente. Isto não se resume a um quadro mas sim ao contexto de toda a galeria.”

Waterhouse é um dos pintores mais célebres do século XIX, apesar dos seus trabalhos serem considerados por muitos como estando a poucos passos da pornografia.