Na última década, segundo os dados revelados pela Associação Automóvel de Portugal (ACAP), o mercado nacional consumiu menos veículos com motores a gasóleo e mais com motorizações a gasolina e a funcionar com combustíveis alternativos e menos poluentes, a começar pelos eléctricos e híbridos, mas não só. A questão é saber se esta situação se fica a dever às maiores preocupações ambientais dos condutores, ou a outros factores que nada têm a ver com o ar que respiramos ou com as preocupações com a pegada ambiental de quem conduz.

Analisando a tabela divulgada pela principal associação do sector automóvel, os diesel perderam 8 pontos percentuais nos últimos 10 anos (em 2017, alcançaram 61% do mercado), com os gasolina a crescer 4% no mesmo período (34% em 2017), ligeiramente menos do que os “alternativos”, que passaram de marginais em 2008 para 4,7% dos veículos novos transaccionados em 2017, o maior valor de sempre. Tendência que está em linha com a média europeia, pelo que a questão consiste em saber porquê.

Porquê a mudança?

A justificar esta fuga dos diesel rumo aos “outros” (gasolina e alternativos) estará, certamente, a polémica em que os primeiros têm estado envolvidos, bem como a ameaça de, em breve, os centros das grandes cidades lhes poderem estar vedados, o que não só não torna prático conduzir um destes modelos, como limita consideravelmente o seu potencial de aquisição.

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Convém igualmente não descurar as crescentes preocupações ambientais dos consumidores, apesar de estes serem tradicionalmente mais sensíveis às vantagens – preço, custos de utilização e restantes benefícios de que possam usufruir, das portagens ao estacionamento.

Uma explicação mais plausível para o salto dos clientes dos diesel para os gasolina terá também a ver com o surgimento de propostas a gasolina mais interessantes no segmento B (Clio) e, sobretudo, no segmento C (Golf), recorrendo a motores de pequena capacidade, mas potência interessante graças ao turbocompressor e, sobretudo, oferecendo muita força a baixo regime. É isto que permite não só uma condução tão descontraída quanto a dos diesel, como económica (em valor absoluto, descontando o superior preço do combustível), o que atrai cada vez mais clientes, especialmente devido ao inferior do preço de venda – por vezes, as diferenças são tão generosas que dificilmente são recuperáveis durante o tempo de vida do veículo.

Posto isto, não parece que a maioria dos clientes escolha os gasolina apenas por serem mais amigos do ambiente do que os diesel – que não são, contanto que estejamos a falar em ambos os casos de modelos modernos e conforme a legislação –, mas sim por uma questão de vantagem declarada no preço e equilíbrio nos consumos e agradabilidade de utilização, especificamente nos dois segmentos mais importantes no mercado nacional.

O que falta fazer?

A troca dos diesel pelos “outros” poderia ser ainda mais evidente, caso as opções de quem manda nos destinos do país nesta matéria fossem outras. Não só a profusão do GPL nunca foi tão grande quanto deveria – apesar de este combustível ter entretanto sido ultrapassado pelo gás natural (GN) em matéria de vantagens –, como a presença de postos de GN é anémica, para não dizer inexistente. E logo numa altura em que há cada vez mais construtores a apostar neste tipo de gás para fazer a transição para o eléctrico.

Depois, as vantagens na aquisição de híbridos plug-in é irrisória, e a dos 100% eléctricos roça o ridículo no que respeita aos clientes particulares, pois não podem beneficiar da recuperação do IVA ou das vantagens ao nível da tributação autónoma. Por outro lado, não há uma política que estimule a disseminação de postos de carga em casa ou nas empresas, outro dos entraves ao crescimento das vendas de eléctricos alimentados por bateria.

A ACAP, na sua análise, realça ainda que, em 2010, se comercializaram apenas 5 veículos híbridos, contra os 2.442 transaccionados em 2017, o que é uma evolução notável. Porém, estes híbridos não plug-in são os veículos que maiores vantagens oferecem, em termos de redução de consumos e emissões, face aos modelos com motores a combustão.