Se existe treinador que fala pelas expressões faciais, ele é Jorge Jesus. E quando temos a vantagem de conhecê-lo de duas décadas na Primeira Liga, mais fácil se torna analisar o que lhe pode estar a passar pela cabeça.

Jesus é aquele treinador que pode estar a ganhar à vontade e grita com um jogador que falhou num posicionamento em transição defensiva. Jesus é aquele treinador que, empatado a um, é capaz de entrar dentro de campo em pezinhos de lã sem ninguém se aperceber para explicar quem, quando e como se marca um penálti (ambas as situações já aconteceram no Sporting). Jesus é tudo isto e muito mais, mas não é aquele treinador que esteja parado na sua área técnica; esta noite, em largos momentos na segunda parte, Jesus ficou apenas a ver.

Nunca é bom dia para perder. Hoje, era o pior (a crónica do Estoril-Sporting)

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Ao 30.º jogo oficial, os leões perderam pela primeira vez numa competição nacional. Até aí, entre Campeonato, Taça de Portugal e Taça da Liga, somavam 20 vitórias, nove empates e um troféu (na semana passada); no Estoril, além de perderem um jogo, perderam a liderança. E Jesus mostrou-se pragmático na justificação.

“Foi um jogo com características especiais por causa do vento: como o Estoril conhece melhor a sua casa, teve seis cantos e criou-nos algumas dificuldades. Foi de um canto que nasceu o primeiro golo deles, depois levámos o segundo numa situação esquisita em que a nossa linha pensava que havia fora de jogo. Mas, na primeira parte, mesmo sofrendo dois golos, tivemos qualidade de jogo e criámos pelo menos duas bolas na pequena área. Levámos o segundo golo numa situação esquisita, em que a nossa linha julga que o jogador está fora de jogo”, referiu na zona de flash interview, prosseguindo: “A favor do vento, tentámos criar perigo e tivemos dez cantos mas não fomos muito perigosos. Voltámos a falhar alguns golos mas estivemos muito melhor na primeira do que na segunda, porque aí fomos uma equipa mais equilibrada e com ideias. Não era aqui que esperávamos perder, mas aconteceu”.

Em paralelo, o treinador verde e branco, que admitira a influência de 50% ou mais dos ausentes Gelson Martins e Bas Dost na equipa, voltou a focar a importância dos lesionados para o epílogo no Estoril mas destacou que não foi por isso que os leões somaram o primeiro desaire. “O Gelson, o Bas e o Daniel [Podence], que também é um jogador determinante. Claro que estou preocupado por não contar com eles, porque têm características especiais: o Gelson e o Podence são rápidos, o Bas é o nosso goleador. Mas não foi por causa dele que não ganhámos. O que aconteceu? Para mim, o fator golo é que fez a diferença. Devíamos ter saído ao intervalo com outro resultado porque, na segunda parte, mesmo sem marcar nem sofrer, nunca tivemos ideias para dar a volta”.

Por fim, e relativizando o possível impacto da derrota no que resta da temporada (na próxima quarta-feira o Sporting desloca-se ao Dragão para defrontar o FC Porto na primeira mão da meia-final da Taça de Portugal), Jorge Jesus fez também questão de reforçar que se tratou apenas de um jogo que não foi afetado pelo que ocorreu este sábado na assembleia geral. “Influência da AG? Não, nada. Alguma vez tínhamos de perder, apesar de não ser aqui que sentíamos que ia acontecer. Tínhamos todas as condições para pontuar mas o jogo não correu como pensávamos”.

De referir, em paralelo, que o Sporting ficou em branco 13 jornadas depois do nulo na receção ao FC Porto em Alvalade, perdendo por dois golos de desvantagem pela primeira vez desde o desaire em Vila do Conde há 17 meses (3-1, curiosamente naquela que foi a primeira derrota no Campeonato de 2016/17).