O secretário-geral da ONU, António Guterres, reforçou esta segunda-feira que a solução de dois Estados no Médio Oriente (Israel e Palestina), coexistentes em paz, está a ser ameaçada por “tendências negativas no terreno” capazes de criar uma realidade potencialmente irreversível.

“As tendências negativas no terreno têm o potencial de criar uma realidade irreversível de um Estado que será incompatível com a realização das aspirações nacionais legítimas, históricas e democráticas dos israelitas e dos palestinianos”, declarou o responsável, durante uma reunião do Comité das Nações Unidas para o Exercício dos Direitos Inalienáveis do Povo Palestiniano.

O Comité das Nações Unidas para o Exercício dos Direitos Inalienáveis do Povo Palestiniano, criado pela Assembleia-Geral da ONU em 1975, promove o apoio mundial e a assistência ao povo palestiniano e procura sensibilizar para a questão da Palestina.

“A instalação de colonatos em curso na Cisjordânia, incluindo em Jerusalém oriental, é ilegal à luz das resoluções da ONU e do Direito Internacional”, acrescentou, afirmando que  “Isto é um grande obstáculo à paz, que deve parar e recuar”. António Guterres reiterou que a única solução para resolver o conflito israelo-palestiniano, um dos mais antigos do mundo, é a criação de dois Estados.

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“Não há um plano B”, reforçou o ex-primeiro-ministro português, que assumiu a liderança da ONU em janeiro de 2017. “É a única maneira de conceder direitos inalienáveis ao povo palestiniano e garantir uma solução duradoura para o conflito”, prosseguiu.

Ainda nesta reunião, Guterres lembrou que a equipa da ONU na Palestina anteviu que a faixa de Gaza, enclave palestiniano controlado pelos radicais do Hamas sob bloqueio israelita e egípcio, irá tornar-se inabitável até 2020 “se nenhuma ação concreta for assumida para melhorar os serviços básicos e as infraestruturas”.

Dois milhões de palestinianos enfrentam diariamente “uma crise [escassez] de eletricidade, uma carência de serviços básicos, um desemprego crónico e uma economia paralisada”, precisou. António Guterres ainda apelou “à generosidade” da comunidade internacional para responder às necessidades de financiamento da Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinianos (UNRWA), um dos principais suportes de Gaza.

O apelo surge depois de os Estados Unidos terem anunciado, em janeiro, que a contribuição de Washington para a UNRWA ia sofrer uma redução substancial.

A administração liderada por Donald Trump anunciou que a ajuda anual entregue à UNRWA ia passar dos 360 milhões de dólares (cerca de 290 milhões de euros) atribuídos em 2017 para 60 milhões de dólares (40 milhões de euros) em 2018.

Cinco milhões de palestinianos beneficiam da ajuda da UNRWA no Médio Oriente, “nos territórios palestinianos ocupados, na Jordânia, na Síria e no Líbano”, precisou António Guterres.

Segundo uma fonte diplomática, citada pela agência noticiosa francesa France-Presse (AFP), vários países decidiram adiantar as respetivas contribuições para a UNRWA, de forma a atenuar os efeitos negativos da decisão dos Estados Unidos. A mesma fonte admitiu, no entanto, que o problema de financiamento da agência ainda subsiste.