Uma cordilheira no litoral brasileiro, submersa entre Vitória e a Ilha da Trindade, a 1.200 quilómetros do continente, pode vir a tornar-se na maior reserva marinha do oceano Atlântico. A cadeia é composta por cerca de 30 montes submarinos de origem vulcânica e é lar da maior variedade de espécies que vivem em recifes entre todas as ilhas brasileiras. João Luiz Gasparini, biólogo co-autor de um estudo sobre a fauna naquela cadeia, disse à BBC Brasil que se trata de uma “floresta tropical no fundo do mar”.

O secretário de Biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente do Brasil, José Pedro de Oliveira, revelou que será entregue um decreto a Michel Temer, presidente brasileiro, com o objetivo criar uma área de conservação em torno da área, bem como no arquipélago São Pedro e São Paulo. A reserva terá cerca de 450 mil quilómetros quadrados, o que a tornará a maior do Atlântico. Após a entrega do documento, cabe ao presidente decidir se o projeto avança ou não.

A cordilheira Vitória-Trindade contém 270 espécies de peixes recifais, das quais 13 são nativas e 24 estão em risco de extinção, 140 espécies de moluscos, 87 de peixes de mar aberto, 17 de tubarões e 12 de golfinhos e baleias. Estas, contudo, são apenas aquelas de que há registo. Segundo Gasparini, ainda mal se “arranhou a casca do ovo da biodiversidade da cadeia”.

Fazer mergulho na cordilheira é complicado não só pela distância entre a costa e os montes submersos mais fundos, mas também pelo custo de mergulhar com segurança até às profundezas — só um rebreather, aparelho que recicla o dióxido de carbono e permite que se passe até seis horas debaixo de água, pode custar mais de 8 mil euros.

Os investigadores esperam que a proteção da cordilheira possa pôr fim à pesca comercial e às atividades mineiras, que ameaçam a área. A mineração na cordilheira Vitória-Trindade põe em causa formações essenciais a muitas espécies nativas em risco de extinção e cujo desenvolvimento leva milhares de anos. Uma reserva — e, por isso, uma proibição destas atividades em determinadas partes da cordilheira –, ajudaria também a repor “stocks” de espécies em áreas que são pouco exploradas.

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