Alguns dos sete planetas extrassolares que orbitam a estrela anã vermelha TRAPPIST-1 poderão ter potencialmente mais água do que a Terra, indicou esta segunda-feira o Observatório Europeu do Sul (OES), organização astronómica da qual Portugal faz parte.

O sistema planetário, cuja descoberta foi anunciada há cerca de um ano e para a qual contribuíram as observações registadas pela astrónoma portuguesa Catarina Fernandes, é o que tem o maior número de planetas do tamanho da Terra, sendo constituídos, de acordo com as conclusões de um novo estudo, principalmente por rochas.

Segundo um comunicado do OES, as densidades dos planetas, calculadas com maior precisão através de um modelo computacional, sugerem que “alguns destes corpos podem ter até 5% da sua massa sob a forma de água”, isto é, quase 250 vezes mais água do que os oceanos da Terra. Por comparação, salienta o OES, o ‘planeta azul’ tem apenas cerca de 0,02% de água relativamente à sua massa. A água é um elemento fundamental para a vida tal como se conhece.

“Embora nos deem importantes pistas sobre a composição dos planetas, as densidades não nos dizem nada sobre a sua habitabilidade. Apesar disso, o nosso estudo constitui um importante passo para determinarmos se estes planetas poderão suportar vida”, defendeu, citado pelo OES, um dos coautores do estudo, Brice-Olivier Demory, da Universidade de Berna, na Suíça.

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Dos sete planetas, o quarto a contar da estrela é o mais parecido com a Terra em termos de tamanho, densidade e radiação recebida e tem “potencial para ter água líquida à sua superfície”. De todos, é o mais rochoso, o que, para a equipa internacional de astrónomos que conduziu o estudo, continua a ser um mistério.

O Observatório Europeu do Sul, do qual dois telescópios, o TRAPPIST-South e o Telescópio Muito Grande (VLT, Very Large Telescope), permitiram detetar o sistema planetário, assinala que os cientistas “ficaram surpreendidos” por o quarto planeta ser o único “ligeiramente mais denso do que a Terra”, indiciando que “possa ter um núcleo de ferro mais denso” e não necessariamente uma atmosfera espessa, um oceano ou uma camada de gelo.

De acordo com a investigação, que descreve a natureza do sistema planetário TRAPPIST-1 e que será publicada na revista da especialidade Astronomy & Astrophysics, os planetas que estão mais perto da estrela e, por isso, são mais quentes terão atmosferas densas de vapor. Em contrapartida, os mais distantes da estrela, que é extremamente fria quando comparada com outras estrelas, terão superfícies de gelo.

Os dois planetas mais interiores, ou seja, mais próximos da estrela-hospedeira, terão núcleos rochosos e estarão rodeados por “atmosferas muito mais espessas do que a da Terra”. O terceiro planeta é o mais leve de todos, com cerca de 30% da massa da Terra.

Para o novo estudo contribuíram observações feitas através de telescópios terrestres, incluindo o ‘caçador’ de exoplanetas SPECULOOS, do OES, e telescópios espaciais, como o Spitzer e o Kepler, operados pela agência espacial norte-americana NASA.

A TRAPPIST-1 é uma estrela mais pequena do que o Sol e está situada a 40 anos-luz de distância da Terra. A descoberta dos sete planetas, com os intermédios em condições mais favoráveis de ter água líquida à superfície, segundo um estudo anterior, foi anunciada a 22 de fevereiro de 2017.

Meses antes, em agosto, uma outra equipa de astrónomos anunciara a descoberta de um planeta extrassolar a orbitar a estrela mais próxima do Sol, a Próxima de Centauro, também uma anã vermelha e relativamente fria, mas localizada mais perto da Terra, a 4,22 anos-luz. O planeta, o Próxima b, o mais perto da Terra, tem uma temperatura adequada para ter água líquida à sua superfície, pelo menos nas regiões mais quentes. Contudo, tem uma massa 1,3 vezes maior do que o ‘planeta azul’.