“Dêem-me uma boa razão para não disparar”. Às 17h29 do dia 19 de maio do ano passado, era esta a frase que a polícia de Tampa, no estado norte-americano da Flórida, ouvia do outro lado da linha telefónica. O telefonema tinha sido feito por um funcionário de uma tabacaria. Um jovem armado tinha acabado de entrar na loja e ameaçava matar as pessoas que lá se encontravam. A polícia deteve facilmente o rapaz, que não mostrou resistência.

Era Devon Arthurs. Depois de detido, foi interrogado. Com o interrogatório, vieram duas confissões que alertaram as autoridades. Uma: tinha acabado de matar a tiro duas pessoas. Duas: estava a planear um ataque terrorista numa central nuclear no sul da Flórida. Jeremy Himmelman, de 22 anos, e Andrew Oneschuk, de 18, eram as suas vítimas e as pessoas com quem partilhava o apartamento onde vivia. Quando as autoridades chegaram ao local, encontraram os cadáveres. Numa garagem perto do apartamento, a polícia encontrou e apreendeu armas, munições, detonadores e materiais explosivos.

Devon Arthurs. (Foto: notyetagm/Twitter)

Uma terceira confissão permitiu ligar o suspeito ao Atomwaffen Division (“Divisão de armas nucleares”, em português), um grupo neonazi cujo objetivo final era o de derrubar o governo dos Estados Unidos através pelo terrorismo e pela guerra. Arthurs admitiu que tinha angariado já vários membros, incluindo os rapazes com quem dividia o apartamento.

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Um quarto morador, Brandon Russell, de 21 anos, foi encontrado pela polícia a chorar à entrada da casa. Russell era um membro da Guarda Nacional da Flórida, o fundador do grupo e dono dos explosivos.

Arthurs acabou por apresentar o motivo que o levou a matar os dois jovens: quando se converteu ao salafismo — uma vertente do islamismo –, os colegas de casa rejeitaram e perseguiram-no, levando Arthurs a assassiná-los.

Duplo homicídio: matou os sogros e tentou suicidar-se

Já há algum tempo que Scott Fricker sabia que o namorado da filha era um membro da Atomwaffen Division. Quando ele e a mulher descobriram e encontraram publicações nas suas redes sociais a incentivar ódio contra os judeus e contra a homossexualidade, decidiram intervir: proibiram a filha de ter uma relação amorosa com o jovem de 17 anos.

Na madrugada de 22 de dezembro, Scott Fricker e a mulher, Buckley Kuhn, foram mortos a tiro na sua casa. Depois de os matar, o genro tentou suicidar-se e ficou em estado crítico. Três meses antes, o jovem de 17 anos tinha posto um símbolo nazi de 12 metros de diâmetro no jardim do bairro onde o casal vivia e onde as famílias faziam piqueniques.

Um corpo num parque em Los Angeles e o grupo ficou na mira da polícia

Samuel Woodward. (Foto: JComm_BlogFeeds/Twitter)

No início do ano, as chuvas que se fizeram sentir no estado norte-americano da Califórnia fizeram com que o cadáver de Blaze Bernstein — que estava desaparecido há uma semana — tivesse aparecido num parque, no condado de Orange, a 84 quilómetros da cidade de Los Angeles. Fora esfaqueado 20 vezes antes de ser enterrado. Bernstein tinha 19 anos, era homossexual e judeu. Terá tentado beijar o seu agressor  e acabou assassinado por ele. O suspeito da sua morte era um colega de turma, Samuel Woodward, de 20 anos e que pertencia também à Atomwaffen Division, desde 2016.

Uma investigação da ProPublica conectou todos estes crimes a um grupo: exatamente o Atomwaffen Division. O grupo que era encarado pela polícia como uma mera excentricidade, passou a ser visto como um perigo. Exceto nas redes sociais. Nos sites onde está representado, o Atomwaffen Division nega ser perigoso e apresenta-se como um grupo de pessoas com interesses comuns como a caça. O Atomwaffen Division já existe há cerca de três anos e deverá ter cerca de 80 membros, que frequentam treinos militares.