Miguel Pinto Luz escreveu uma carta aberta a Rui Rio, com quatro longas páginas com muitas críticas e exigências ao novo líder do PSD, mas a resposta surgiu não pela mão de Rui Rio, mas sim de Rodrigo Gonçalves, um dos maiores caciques de Lisboa que o apoiou na corrida contra Santana Lopes. Gonçalves termina mesmo a carta recorrendo ao lema adoptado por Rio na campanha interna: “Agora é Hora de Agir Por Portugal, Rodrigo Gonçalves”. Fonte próxima de Rui Rio garante ao Observador que a carta é da “total responsabilidade” de Rodrigo Gonçalves, e o mesmo diz o próprio: “Escrevo a carta na mesma qualidade que outros o fizeram, na qualidade de militante base”, diz. Mas dentro da ala rioísta do partido, houve quem ficasse incomodado por Rodrigo Gonçalves aparecer a responder a cartas dirigidas a Rui Rio.

Rodrigo Gonçalves diz ao Observador que não falou com Rui Rio antes de escrever a carta, defendendo que o fez na mesma qualidade em que Miguel Pinto Luz escreveu a carta dirigida a Rui Rio. “Escrevo enquanto militante base, do distrito de Lisboa, a única diferença é que escrevo para dentro do partido e não para a comunicação social”, diz ao Observador, referindo-se ao facto de a carta aberta de Miguel Pinto Luz ter sido avançada por Marques Mendes no comentário na SIC. Questionado sobre o recurso ao lema usado por Rui Rio na campanha, Gonçalves desvalorizou: “Usei o slogan porque é mesmo hora de agir”.

A resposta, bem mais curta do que a carta original, começa por saudar a “diferença de opiniões” que reina num partido como o PSD, mas depois apressa-se a desclassificar os conselhos e opiniões vindos do ex-líder da distrital de Lisboa, classificando Pinto Luz como um perdedor. “Toda a gente perceberá que os conselhos, as estratégias ou as táticas eleitorais de quem perdeu assim, dificilmente terão seguidores”, diz Rodrigo Gonçalves, que apoiou Rui Rio na corrida à liderança do partido.

Pinto Luz escreve carta aberta a Rui Rio: pede vitória nas legislativas e diz que líderes não são “messias”

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Gonçalves, que foi presidente interino da concelhia do PSD Lisboa depois da demissão de Mauro Xavier, e que acabou por perder as eleições da concelhia para Paulo Ribeiro, dedica toda a carta a criticar a passagem de Miguel Pinto Luz pela distrital de Lisboa, aproveitando para criticar também a direção do atual líder da distrital, Pedro Pinto. “As opiniões dos companheiros Pedro Pinto e Miguel Pinto Luz até certo ponto são um bom sinal à luz dos maus resultados eleitorais que a estratégia que ambos implementaram nos últimos dez anos na área metropolitana de Lisboa trouxe ao PSD”, escreve, passando aos números:

  • “No distrito de Lisboa e desde as autárquicas de 2005, com a “liderança” destes protagonistas perdemos 126.789 votos”;
  • “Em 10 Câmaras Municipais tínhamos 5 Presidências e dessas perdemos 3”;
  • “Perdemos 34 mandatos de vereador e mais umas dezenas de Presidências de Junta”;
  • “E pela primeira vez ficámos atrás do CDS em Lisboa. Já para não falar da derrota histórica nas autárquicas de 2013 em Sintra e por todo o Distrito. Derrota infelizmente reforçada em 2017”.

Para Rodrigo Gonçalves, “pior era difícil”, o que tira legitimidade à crítica feita por Miguel Pinto Luz na carta aberta dirigida a Rui Rio. Nessa carta, Pinto Luz, que é vice-presidente da Câmara Municipal de Cascais e que foi durante seis anos líder da distrital de Lisboa, traça um caderno de encargos ao novo líder do PSD, dizendo a Rio que não tem mandato para não ganhar as legislativas, que não tem mandato para negociar, formal ou informalmente, com o PS a reedição de um bloco central, ou tão pouco a viabilização de orçamentos do PS. Critica ainda os líderes partidários que se “comportam como messias“, numa crítica velada ao próprio Rui Rio. Numa entrevista à SIC, Pinto Luz chegou a dizer que não esperava resposta àquela carta: “A resposta quero ver no congresso”, disse.

Mas a resposta acabaria chegar por outra via. Rodrigo Gonçalves, ex-presidente da Junta de Freguesia de São Domingos de Benfica, em Lisboa, chegou a ser julgado e ilibado por corrupção devido a adjudicações de obras em 2005. Foi entretanto vice-presidente da concelhia de Lisboa, tendo ficado como presidente interino depois da saída de Mauro Xavier. É considerado um dos maiores caciques de Lisboa e foi um dos protagonistas da reportagem do Observador sobre o transporte de militantes em carrinhas para votar em eleições internas.

Nas eleições para a concelhia neste mês de janeiro, a lista encabeçada por Gonçalves — que controla a fação do Núcleo Central – acabaria por perder por 98 votos para a lista encabeçada por Paulo Ribeiro, membro da Assembleia de Freguesia da Estrela.