O Sporting versão Jesus tinha batido o recorde de pontos do clube no Campeonato (86, menos dois do que o campeão Benfica) e começou 2016/17 com três triunfos na prova. Depois, um filme já antes visto: grande exibição em Madrid com o Real que se ficou pela vitória moral (derrota por 2-1 nos últimos minutos), derrota pesada em Vila do Conde com o Rio Ave a sair para o intervalo a ganhar por 3-0 (acabaria 3-1). O barco verde e branco abanou mas recompôs-se. Até à deslocação a Guimarães.

No seguimento de mais dois bons resultados com Estoril (Liga) e Légia de Varsóvia (Champions), os leões deslocaram-se ao Dom Afonso Henriques e tiveram uma exibição de gala durante 70 minutos (3-0, Markovic, Coates e Elias) que acabou com um cenário de terror impensável: empate a três bolas, com bis de Marega e um golo aos 89′ de Tiquinho Soares. O Sporting ainda se tentou recompor, mas esse resultado, e a maneira como aconteceu, não mais seria esquecido.

Estávamos a 1 de outubro de 2016. Uns meses depois, no início de fevereiro, deslocação da formação verde e branca ao Dragão, nova derrota (agora por 2-1), novo festival de Soares: na estreia pelos portistas, o brasileiro bisou na primeira parte e teve uma estreia de sonho que não ficaria por aí, terminando a época com 12 golos em 15 pelos azuis e brancos no Campeonato.

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Soares, o dragão da estrela

Com a entrada de Sérgio Conceição, o regresso de Aboubakar e a aposta no 4x4x2, tudo apontava para mais uma temporada em grande do dianteiro mas uma lesão logo no arranque acabou por condicionar tudo o resto, com Marega a ganhar um protagonismo crescente no ataque azul e branco. E Soares marcou de forma esporádica e às “pinguinhas”: com o Desp. Chaves em setembro para a Liga, com o Mónaco em dezembro para a Champions, com o Rio Ave no mesmo mês para a Taça da Liga. Até que veio o caso: após ser substituído na meia-final da Taça da Liga com o Sporting, Soares manifestou o seu desagrado ao atirar o casaco ao chão perante o olhar reprovador do técnico dos dragões.

“Não gosto muito de pedidos de desculpa públicos, não sou adepto disso. Não vale a pena fugir à questão: houve um problema, que não gostei. Acho que quando os jogadores metem essa frustração, essa raiva, se assim se pode dizer, dentro de jogo é bem melhor. Se meterem essa frustração em campo nos duelos com o central ganham nove e perdem um e não o contrário como aconteceu com o Soares frente ao Sporting. Tem de estar nervoso em campo, com os defesas, e não com o público, com o treinador ou com os colegas de equipa”, destacou Sérgio Conceição na conferência seguinte.

“As coisas foram resolvidas internamente. Tenho um grupo de homens com caráter e personalidade. Estas situações mais delicadas, comportamentos menos adequados e que são públicos tenho de falar neles. Não fujo às questões. Não gostei, Soares retratou-se publicamente, mas mais importante que publicamente é dentro do balneário. As coisas foram tratadas olhos nos olhos. A porta está entreaberta. Cabe ao Tiquinho saber se deve entrar ou ficar da parte de fora”, completou.

A resposta chegou esta noite e com o brasileiro a puxar o cartão de apresentação pelos dragões um ano depois para pedir desculpa: no terceiro clássico da temporada, Soares tornou-se o primeiro a conseguir marcar em 270 minutos de FC Porto-Sporting, repetindo a façanha diante do adversário a quem marcou o quarto golo em cerca de ano e meio.