Angela Merkel pode ter conseguido salvar a CDU de novas eleições ao conseguir ressuscitar uma coligação com o SPD de Martin Shulz que o próprio tinha declarado morta, mas as cedências da chanceler, em especial relativamente às pastas ministeriais, estão a deixar o seu partido em convulsão interna.

O resultado eleitoral na Alemanha, e mais tarde das negociações com os liberais do FDP e Os Verdes, faziam antever problemas, mas quando Merkel conseguiu fazer com que o SPD voltasse à mesa das negociações, esperava-se que a estabilidade que a Alemanha tem gozado desde o pós-guerra voltasse e tranquilizasse o eleitorado alemão, pouco habituado a estas andanças.

No entanto, o acordo final está a colocar Angela Merkel e a CDU, nas palavras dos analistas alemães e de membros do seu próprio partido, como a clara perdedora destas negociações.

A principal queixa dos membros da CDU é a distribuição de pastas ministeriais. O SPD, que teve o seu pior resultado desde o pós-guerra nas eleições de setembro, vai ficar com as duas das pastas mais importantes no futuro governo alemão, a dos Negócios Estrangeiros, que já detinha, e a das Finanças, até setembro nas mãos de Wolfgang Schäuble.

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“Claro que deixa um amargo de boca quando não podemos estar realmente satisfeitos com a forma como os ministérios foram distribuídos”, afirmou Daniel Günther, presidente do Estado federado de Schleswig-Holstein. Daniel Günther fez notar ainda que a distribuição de pastas nã0 reflete os resultados das eleições de setembro.

Wolfgang Steiger, um dos líderes de um grupo de lobby da CDU de defesa das pequenas e médias empresas, disse que a distribuição de pastas foi um “resultado miserável” para o partido.

Dentro do partido, Merkel é ainda acusada de se vergar ao SPD, incluindo quando, durante o anúncio do acordo de coligação, Martin Schulz ter dito que este se tratava de um governo maioritariamente social-democrata.

Mas não é só SPD que consegue pastas mais importantes com este novo acordo de coligação. Também a CSU, o partido irmão da CDU com presença exclusiva na Baviera, vai deixar de ter o Ministério da Agricultura e passar a comandar o poderoso Ministério do Interior, uma pasta que provavelmente será assumido pelo líder histórico da CSU, Horst Seehofer.

Angela Merkel disse que teve de fazer cedências para conseguir um acordo, admitindo que é mais difícil para o partido não ter nas suas mãos o Ministério das Finanças, especialmente depois de Wolfgang Schäuble ter tido a pasta durante tanto tempo.

“Fizemos cedências incluindo na distribuição de Ministérios. (…) Claro que, depois de todos estes anos em que Wolfgang Schäuble liderou o Ministério das Finanças e era ele próprio uma instituição, é mais difícil para muitos que não possamos continuar a liderar este Ministério”, disse a chanceler numa conferência de imprensa esta quarta-feira.