Um grupo de 30 artesãos está contra a transferência do local da feira de artesanato que se realizava no Calçadão de Quarteira, durante o verão, alegando que a mudança vai provocar uma quebra no seu rendimento.

A marginal de Quarteira, ou Calçadão, situada junto à praia, no concelho de Loulé, é há várias décadas a zona de eleição para os passeios dos turistas e também para a venda ambulante, havendo ali dezenas de bares, restaurantes e esplanadas.

Para distribuir as pessoas por outras zonas da cidade e diminuir a pressão naquela área, a Câmara de Loulé quer agora transferir a venda ambulante para um terreno próximo, paralelo à marginal, mas que os artesãos alegam não ter condições, nem movimentação, o que vai provocar uma quebra no seu rendimento.

“A Câmara de Loulé quer fazer uma experiência que pode colocar em risco todas as nossas famílias, são mais de 30 artesãos, somando, no total, 200 pessoas”, incluindo todos os agregados, desabafa Márcio Alexandre, da Comissão dos Artistas e Artesãos de Quarteira (CAAQ).

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Márcio, que desde há dois anos vendia ‘souvenirs’ de Quarteira criados por si, queixa-se de que os artesãos estão a ser “usados” pela Câmara como se fossem “peças de xadrez”, servindo como “atração” para levar os turistas para outros locais.

Também Deolinda Satiro, de 43 anos, recusa-se a abandonar o local onde desde há vinte anos vendia joias produzidas por si, alegando que a mudança de local acarreta um “grande risco” para a subsistência dos artesãos.

“É como se nos tivessem arranjado um emprego e nós não sabermos que salário vamos tirar”, ilustra, criticando o facto de não terem sido ouvidos pelas autoridades, que se limitaram a comunicar-lhes a medida, no final de novembro.

A vereadora com o pelouro do Planeamento e Gestão Urbanística da Câmara de Loulé, Heloísa Madeira, defendeu que é necessária uma “nova centralidade”, para fazer face à cada vez mais elevada procura de Quarteira por parte dos turistas.

“Não vai haver [no próximo verão] venda ambulante ou artesãos no Calçadão, todas essas atividades serão concentradas na feira de verão de Quarteira, que vai ter uma animação regular, com uma grande aposta em eventos culturais e mais condições de trabalho para os vendedores”, afirmou.

De acordo com a vereadora, este é o primeiro passo de um projeto mais abrangente de requalificação da marginal de Quarteira, que se fará gradualmente, estando previstas alterações na ocupação do espaço público pelas esplanadas e lojistas.

Os artesãos queixam-se de que não está a ser tido em conta o facto de serem profissionais que produzem as suas próprias peças e trabalham ao vivo, defendendo que havia outras formas de ordenar o calçadão, como a uniformização das bancadas.

Alda Venceslau, que vendia velas artesanais no calçadão há nove anos, queixa-se de que não houve “critério nenhum” de escolha do tipo de atividades que se vão concentrar na nova feira, e acusa a autarquia de colocar “todos no mesmo saco”.

Também Liliana Lopes, que faz bijuteria, diz não saber o que vai encontrar “do outro lado”, cuja localização não permitirá que haja “tantos clientes” como há no Calçadão, que é um local de passagem e onde as pessoas vão fazer caminhadas.

Maria de Lurdes Bacalhau, moradora, também está contra a mudança de local da feira de artesanato, defendendo que “dá muita vida” ao Calçadão, classificando como “injusta” a posição da Câmara em transferir os vendedores.

“É uma mais valia para Quarteira, de certeza que as pessoas não irão lá com a mesma frequência que vêm aqui”, lamenta.

A nova feira realizar-se-à de 1 de junho a 30 de setembro na praça Filipe Jonas e terrenos circundantes.

No primeiro ano, a autarquia vai isentar de pagamento de taxas quem quiser participar na feira.