O presidente da África do Sul pode abdicar do lugar “dentro de dias”.  Cyril Ramaphosa, presidente do ANC, partido de Jacob Zuma, deixou de aparecer em eventos públicos para dedicar toda a atenção a “assuntos prementes”, de acordo com deputados do partido citados pelo jornal britânico The Guardian — um decisão que está a ser interpretada como um sinal de que Jacob Zuma vai ceder e deixar o poder.

Zuma é suspeito de uma longa lista de crimes que englobam casos de corrupção relacionados com a compra de equipamento militar na década de 1990, negócios de que o presidente sul-africano pode ter beneficiado diretamente. Nas últimas semanas, o líder sul-africano tem estado sob pressão para abdicar do poder e tem sempre resistido. Essa posição pode estar a mudar.

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De acordo com o Guardian, num momento em que os militantes do ANC se preparam para reunir em congresso, a mensagem que o presidente do partido, Cyril Ramaphosa — que sucedeu a Zuma na liderança do ANC –, passou aos deputados deixa antever uma resolução para o impasse em breve. Esta quinta-feira, Ramaphosa disse que esperava uma conclusão das conversas com Zuma “nos próximos dias… tendo em conta o interesse do país”.

Ao Guardian, um deputado do ANC lembrou as palavras do presidente do partido. “Ele disse [que as negociações] não se arrastariam e que devíamos esperar por novidades a qualquer momento”. O mesmo deputado assumia que “ninguém quer que isto se arraste para a próxima semana e que continue indefinidamente”.

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A confirmar-se a concordância de Zuma relativamente à sua saída, isso representaria uma mudança face à sua resistência em deixar a presidência da África do Sul. O futuro do presidente está, neste momento, nas mãos dos deputados do ANC: uma moção de censura votada no Parlamento derrubaria o ainda líder do país, mas os parlamentares têm mostrado relutância em dar esse passo definitivo.

“As expectativas estão tão elevadas que todos os dias que passam sem que haja um anúncio firme do ANC são prejudiciais”, diz Ralph Mathekga, um analista citado pelo jornal britânico. “Pode sentir-se o equilíbrio do poder escapar de Ramaphosa e dirigir-se a Zuma”, refere o mesmo analista para sustentar a ideia de que, caso as “conversações” com o presidente do país falhem, o ANC pode entrar num processo de “motim” interno.

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O partido está decidido a reduzir ao mínimo a margem de manobra de Jacob Zuma e os sinais surgem de todos os lados. De acordo com a agência Bloomberg, os mais altos dirigentes do ANC esperam ver esta questão resolvida até ao congresso deste fim-de-semana, para que Ramaphosa possa começar a restaurar a relação de confiança que existia entre os eleitores e o partido que governou o país desde o fim do apartheid. Um dado importante, ainda que Zuma fique, não ficará muito tempo –, em 2019 há eleições presidenciais na África do Sul.

Outro momento determinante na história sul-africana são as celebrações do centenário do nascimento de Nelson Mandela. A Bloomberg escreve que a data está a ser ofuscada pelo impasse político e que os principais dirigentes do partido não pretendem participar já deixaram claro que não pretendem participar nos eventos e no próprio congresso do partido alegando “vários outros compromissos”.