O Ministério Público entregou este domingo no Supremo Tribunal de Nova Iorque uma ação contra o produtor Harvey Weinsten, o irmão e a produtora que detêm por, alegadamente, terem violado os direitos humanos, as leis laborais e por terem assediado sexualmente funcionárias da produtora.

O procurador geral de  Nova Iorque, Eric Schneiderman, que assina a ação, diz que a investigação começou há quatro meses, depois de serem tornadas públicas várias queixas contra o produtor e a empresa. Mas considerou que tanto o seu sócio, e irmão, como a empresa holding que detém a produtora — que pertence aos pais de ambos — também devem ser responsabilizados por nunca terem denunciado os maus tratos e terem, no fundo, compactuado com eles.

Segundo a ação, que o The Guardian publica, tanto Harvey como Bob Weinstein foram os responsáveis por meses de um ambiente de trabalho “hostil” e usaram os fundos da produtora para fins ilegais entre 2005 e o outubro do ano passado.

O documento de 39 páginas alega que as condutas ilegais baseiam-se em duas formas genéricas: como administrador da empresa, Harvey “assediou sexualmente, repetidamente e persistentemente empregadas” na empresa, “criando um ambiente de trabalho hostil” em que as vítimas eram coagidas a ceder para manterem os seus postos de trabalho. Por outro lado, o produtor usou a sua posição para dispor do dinheiro e dos recursos da empresa e satisfazer os seus interesses sexuais.

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A queixa, segundo adianta o jornal inglês The Guardian, aparece quatro meses depois de investigações no momento em que a produtora parecia estar prestes a ser vendida por 500 milhões de dólares (408 milhões euros) a uma outra empresa.

Além disso, Harvey Weinstein está a ser também investigado devido ao elevado número de queixas de má conduta apresentadas contra ele, em quatro estados americanos diferentes — muitas delas resultantes do movimento #MeToo, que surgiu no final do ano passado. Todas as acusações de que é alvo foram, no entanto, negadas por Harvey Weinstein.

Venda fica em risco e produtora pode enfrentar falência

O processo surge numa altura particularmente delicada para a “Weinstein Company”, já que estava atualmente a negociar uma venda a fim de evitar a bancarrota e que poderá agora estar em risco. De acordo com o New York Times, a proposta em cima da mesa era acima dos 200 milhões de euros e os compradores comprometiam-se a assumir a dívida de 180 milhões de euros da “Weinstein Company”. O grupo de investidores interessados é liderado por Maria Contreras-Sweet, que liderou a agência governamental de apoio a pequenos e médios empresários durante a presidência de Barack Obama.

A Procuradoria-Geral de Nova Iorque mostrou estar a par da venda, tendo feito publicamente recomendações aos futuros compradores:

Qualquer venda da Weinstein Company deve garantir que as vítimas serão ressarcidas, que os empregados serão protegidos daqui para a frente e que nem os responsáveis, nem os que permitiram [os crimes] enriquecerão de forma injusta”, declarou o procurador-geral Eric Schneiderman.

A declaração, contudo, terá incomodado o grupo de investidores interessados e o próprio negócio pode agora não se concretizar. Uma fonte próxima de Contreras-Sweet declarou à CNN que a investidora está “espantada e desiludida” com as declarações do procurador-geral e que este processo “matou de facto a proposta”. Contreras-Sweet, diz a mesma fonte, “já tinha declarado publicamente desde novembro que o objetivo principal da sua proposta era o de lançar um estúdio de cinema controlado por mulheres e de criar um fundo de compensação para as vítimas”.

A Procuradoria apressou-se a responder, desmentindo a mesma fonte. A porta-voz Amy Spitalnick assegura que as preocupações do procurador foram transmitidas ao grupo de investidores e que este não revelou interesse pelas mesmas matérias: “Ficámos surpreendidos ao perceber que eles não estavam a falar a sério sobre discutir estas questões ou até mesmo partilhar a informação mais básica sobre como tencionam lidar com elas.”

A produtora dos dois irmãos, “Weinstein Company”, foi criada em 2005 e emprega cerca de 250 funcionários.