Todos os construtores fazem evoluir os seus modelos em direcção aos SUV, a moda actual e o tipo de veículo cujas vendas crescem mais significativamente, mas a Citroën faz exactamente o caminho contrário, transformando o C4 Cactus, que era percebido até aqui como um SUV num veículo com estatuto de berlina familiar. Isto obedece a uma estratégia, que faz sentido depois de devidamente explicada. Mas já lá vamos.

Conduzimos o renovado modelo da marca francesa na região de Marselha e não só colocámos à prova todas as alterações que o construtor afirma ter introduzido, como avaliámos se os objectivos foram cumpridos. Pelo que venha daí, que nós contamos-lhe tudo.

O novo Cactus é mesmo… novo?

Sim e não. Não, se tivermos em conta que a base é a mesma do modelo anterior, ou seja, a plataforma, e que até no habitáculo há muito em comum, do tablier ao aspecto geral. Mas a Citroën reivindica que, por fora, 90% das peças visíveis são novas, com as alterações a incidirem não só na capacidade do veículo ser mais personalizável, oferecendo agora 31 combinações possíveis de cores, como no afastamento de alguns dos pormenores que permitiam ao Cactus chamar a si o estatuto de crossover.

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Soluções como as enormes e fofas Airbumps laterais desapareceram, o mesmo acontecendo com a pintura da tampa da mala, que mais parecia um prolongamento das Airbumps, tendo igualmente sido retiradas as barras do tejadilho. Em troca, surgem umas mini Airbumps laterais – mais pequenas e posicionadas mais abaixo –, essencialmente uma decoração mais discreta e cosmética, que é atraente, mas que nada acrescenta à protecção contra pequenos toques ao nível das portas. Veja aqui a transformação do Cactus velho, no novo:

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Um dos objectivos pretendidos com as alterações introduzidas foi conferir ao C4 um aspecto mais largo, o que foi conseguido ao adoptar farolins posteriores mais finos e mais rasgados, com tecnologia LED para lhe conferir um toque mais refinado, enquanto na frente surge uma solução estética mais atraente e similar à do C3, mas em ponto grande. O resultado é um veículo que exibe um ar mais sofisticado e moderno, mais próximo das berlinas convencionais, mas que mantém pormenores que vão continuar a atrair os fãs dos SUV, um pouco à semelhança do que acontece com o C3, com ênfase nas protecções dos guarda-lamas em plástico de cor escura.

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Com este reposicionamento estratégico, a Citroën persegue dois objectivos em simultâneo, sendo que o primeiro é criar espaço para a chegada, em breve, do C5 Aircross, este sim um SUV por direito próprio, que se vai integrar no mesmo segmento do Cactus. Mas o motivo principal que presidiu à civilização do Cactus é o desejo da marca francesa de entrar nas frotas das empresas, muitas delas a barrar os SUV, o que impedia o Cactus de, por exemplo em Portugal, disputar 40% do seu mercado potencial.

A Citroën diz que é mais silencioso. Mas é mesmo?

É, e aqui que reside um dos seus principais trunfos. Os franceses fizeram evoluir o Cactus, penalizando-o em pouco mais de duas dezenas de quilos em material isolante, mas obtendo em troca uma qualidade de vida a bordo muito superior. O pára-brisas mais espesso e com película isolante corta consideravelmente o ruído que vem do exterior, um pouco à semelhança do que também acontece com o isolamento aplicado entre o compartimento do motor e o habitáculo.

Também as borrachas das portas foram melhoradas e duplicadas em alguns pontos, tal como o revestimento interior dos guarda-lamas, tudo contribuindo para que a rumorosidade interior caia para níveis bem mais agradáveis.

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O maior silêncio interior surge associado a uma superior quantidade de equipamento, com destaque para 12 sistemas de ajuda ao condutor, muitos deles visando o conforto e a segurança. Do sistema de detecção de obstáculos e a travagem de emergência para os evitar, ao reconhecimento de sinais de trânsito, passando pelo alerta de saída involuntária de faixa de rodagem e da presença de outros veículos a circular no ângulo morto, o Cactus passa a oferecer uma série de soluções que até não estavam disponíveis.

E no conforto, é melhor do que os concorrentes?

É. A Citroën foi ao baú das memórias e recuperou uma imagem que sempre foi sua, a dos carros confortáveis, que surgiu associada aos 2CV, Dyane, DS, SM, CX, XM e todos os que montavam suspensões muito macias, ou, na maioria dos casos, pneumáticas. E aplicou esse mesmo princípio no novo C4 Cactus.

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Não que o modelo recorra a suspensões pneumáticas, mas monta sim um novo tipo de amortecedores, que a marca francesa desenvolveu – e patenteou – e que a KYB SE fabrica a seu pedido.

Em termos práticos, todos os amortecedores têm uma resistência ao movimento constante ao longo do seu curso, findo o qual e para não rebentarem quando atingem violentamente o fim-de-curso, seja ele superior ou inferior, protegem-se com uns batentes em borracha dura. Ora o que Citroën criou foram os batentes hidráulicos, que na realidade são dois pequenos amortecedores, substancialmente mais duros, montados nos fim-de-curso. Isto significa que na zona central, representando 40% do curso, o amortecedor é mais macio que anteriormente, para depois se tornar mais duro nos últimos 30% do curso, junto a cada uma das extremidades. Com esta solução a marca consegue melhorar o conforto em condições normais, para depois ter uma suspensão mais dura quando é necessário curvar mais depressa, ou realizar manobras de emergência, por exemplo, para evitar obstáculos. Veja aqui como funcionam os novos amortecedores:

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A Citroën diz que a primeira vez que testou este sistema foi no ZX Rallye Raide, com que venceu o Paris-Dakar, tendo-o utilizado mais recentemente nos C4 e C3 que faz alinhar no Mundial de Ralis, com o Cactus a ser a primeira aplicação em carros de série. Contudo, este tipo de amortecedor é muito similar, no princípio de funcionamento, aos que a Renault passou a montar recentemente no Mégane R.S..

Outro elemento que contribui para o conforto são os assentos, especialmente os dianteiros, que além de uma nova estrutura, para conferir mais apoio lateral aos ocupantes, recorre a espumas de diferentes densidades para melhor suportar o corpo. Contudo, a parte mais superficial do assento usa uma espuma particularmente macia, tipo silicone e similar à que se utiliza nalguns colchões de cama, para reforçar a sensação de conforto logo ao primeiro contacto.

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Como é em ritmo de passeio?

Os primeiros quilómetros ao volante do C4 Cactus revelaram-nos um modelo muito similar ao antigo, mas com melhores materiais, um pouco por todo o lado, e o isolamento mais eficaz que já mencionámos. O tablier mantém aquela linha mais horizontal, que tanto contribui para a sensação de espaço que se vive a bordo, sobretudo à frente do passageiro, tudo porque o construtor deslocou para o tejadilho o airbag que tradicionalmente rouba espaço ao tablier.

Na ausência de buracos para nos permitissem colocar à prova os novos amortecedores – que estão presentes, de série, em todas as versões à venda em Portugal – optámos por subir os passeios em forma de rampa que limitam as inúmeras rotundas junto ao aeroporto de Marselha. E tudo bem. O Cactus absorve sem queixumes a “agressão”, para no instante seguinte ser extremamente macio, como se nos deslocássemos num tapete mágico.

Em estrada, o Cactus com motor tricilíndrico 1.2 a gasolina, de 110 cv e associado a uma caixa automática de seis velocidades, com conversor de binário e um comando em “escadinha” para facilitar a utilização, revelou-se um bom companheiro de viagem. Isto é tão mais evidente quanto o Citroën pesa 150 kg menos do que a média dos concorrentes – em parte porque também é menos comprido –, o que lhe assegura um bom dinamismo com motores menos possantes. Sempre em ritmo de passeio, é possível atingir médias de 5,2 litros aos 100 km, valor que, como é habitual nas unidades a gasolina, sobe rapidamente com o incremento da velocidade.

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Com a mesma unidade motriz, mas na versão de 130 cv, a facilidade de condução melhora, na medida que o recurso à caixa diminui, sem que os consumos se ressintam minimamente. Estas são as duas motorizações que vão estar disponíveis no nosso país, entre a oferta a gasolina (uma vez que o motor de 82 cv não irá ser proposto entre nós), sendo que a diferença é que só o 110 cv permite optar entre a caixa manual e a automática, de seis velocidades.

E se conduzirmos mais depressa?

Com a chegada das estradas mais sinuosas, decidimos aumentar o ritmo da viagem e privilegiámos o prazer de condução em detrimento dos consumos, sempre com os motores a gasolina, uma vez que os diesel 1.6 BlueHDI, de 100 e 120 cv, não estavam disponíveis para ensaio.

O Cactus muito macio, que parecia planar sobre a estrada a uma velocidade contida, passou a revelar uma suspensão mais dura assim que as solicitações o atiraram para longe daqueles 40% do curso do amortecedor em que este fica mais confortável. A transição dá-se sem problemas, mas a verdade é que o C4 passa a molejar menos e permitir um menor adornar da carroçaria, suportando bem uma condução mais dinâmica, apesar de o modelo não ter sido concebido a pensar especificamente neste tipo de utilização.

Os técnicos da marca admitiram que o Cactus, graças aos novos amortecedores com batentes hidráulicos, monta molas mais macias, mas compensa em parte essa opção aplicando barras estabilizadoras mais grossas, cuja presença só se nota em curva e apenas quando é evidente um certo inclinar da carroçaria.

O que oferece por 18.900€?

O novo C4 Cactus vai chegar ao nosso país a partir do início do mês de Abril, com os motores a gasolina de 110 e 130 cv, equipados com sistema star&stop e os novos amortecedores. Com o nível de equipamento Live, o mais acessível, o novo Citroën será proposto por 18.900€, com a versão Feel, mais equipada, a ser transaccionada por 20.056€, enquanto o Shine, o mais requintado, vai estar à venda a partir de 21.400€.

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Mantendo o preço acessível que já caracterizava o seu antecessor, o C4 Cactus é uma boa proposta face às dimensões do habitáculo e ao espaço que oferece na bagageira (358 litros). Se a isto aliarmos o nível de equipamento completo, com destaque para pormenores como o Connect Box, que permite recorrer à assistência da Citroën, transformar o carro num hotspot de wi-fi e, com o recurso ao MirrorLink, associá-lo facilmente aos smartphone e comandar tudo através da voz, tudo indica que o Cactus vai continuar a ser dos modelos mais apetecidos da Citroën.

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