O Millennium BCP terminou o ano de 2017 com lucros de 186,4 milhões de euros, contra os 23,9 milhões do ano anterior. A atividade em Portugal contribuiu em 39 milhões para o resultado consolidado, informou esta quarta-feira o banco em comunicado enviado ao regulador do mercado, a Comissão do Mercado de Valores Imobiliários (CMVM).

A informação foi apresentada por Nuno Amado na conferência de imprensa de apresentação de resultados anuais, em Lisboa. Na conferência de imprensa, o presidente-executivo do BCP adiantou que a comissão de governance determinou que não havia razões para afastar António Mexia e Carlos Silva, referidos em processos judiciais, pelo que decidiu — “e bem” — que não havia fundamentos para outra coisa que não a continuidade. Ainda assim, o banco está prestes a ter novas listas de administradores a propor em assembleia-geral, pelo que se houver alterações será aí.

Além dos lucros, que se multiplicaram face ao ano anterior, o banco destaca que teve uma redução dos créditos não-performantes de 1,8 mil milhões de euros, o que supera largamente aquilo que era o objetivo para o ano. O banco fechou o ano com uma carteira de ativos problemáticos de 6,8 mil milhões (o objetivo do plano plurianual, por esta altura, era de 7,5 mil milhões). “Fizemos em dois anos o que tínhamos previsto fazer em três”, assinalou o presidente-executivo do BCP.

Tendo em conta a atividade em Portugal e internacional, o banco melhorou a rubrica margem financeira + comissões em quase 10%, para 2.058 milhões de euros. A penalizar os lucros estiveram, contudo, os 954 milhões em custos operacionais — “se não controlarmos os custos, estamos mortos, porque o mercado está a mudar” — e os 925 milhões de euros em imparidades e provisões (ainda assim, cerca de metade das imparidades que foram assumidas no ano anterior).

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Um dos fatores que ajudaram a crescer a margem financeira foi o facto de o banco ter reembolsado o empréstimo estatal e, por outro lado, por continuar a pagar menos juros pelos depósitos. “Estamos com uma operação lucrativa, com capacidade de gerar resultados operacionais e com uma contribuição crescente por parte das operações em Portugal”, salientou o presidente-executivo do banco.

Nuno Amado sublinhou, na conferência de imprensa, que no ano passado o banco pagou 125,6 milhões de euros em contribuições obrigatórias. Limitando a análise a Portugal, entre a contribuição extraordinária aplicada ao setor bancário, as contribuições para o fundo de garantia de depósitos e para os fundos de resolução, foram quase 58 milhões de euros pagos pelo banco no ano passado.

A contribuição da atividade internacional manteve-se constante: 160 milhões de euros vindos da Polónia, 85 milhões de euros em Moçambique e em Angola uma contribuição negativa de 28 milhões de euros que se explica pela designação de Angola, por parte das normas de auditoria, como uma economia de elevada inflação (sem esse efeito, o lucro aí teria sido de 28,5 milhões de euros).

Conselho de administração decidiu manter administradores referidos em processos

Questionado sobre as implicações de processos de investigação judicial como a Operação Fizz, Nuno Amado adiantou que “o banco tem uma comissão que acompanha temas de governance e esta comissão analisou a situação com base nas informações disponíveis, levantou o tema em conselho de administração e concluiu que não havia razão para mudar o que quer que seja, designadamente com administradores que têm tido um papel tão importante para a recuperação de banco”.

Em referência a António Mexia e Carlos Silva, “não faria sentido fazer uma alteração, portanto há uma continuidade. E bem, porque o banco está num caminho e num percurso que é importante para os acionistas, para os colaboradores mas também é importante para o país”. Sem querer alongar-se sobre o tema, Nuno Amado sublinhou que se trata de administradores não-executivos e lembrou que a haver alterações elas virão normalmente na próxima assembleia-geral de acionistas.

“Carlos Silva é vice-presidente do banco desde que eu entrei, já era quando eu entrei. Sempre um presidente não-executivo. Todas as decisões importantes para o nosso plano de reestruturação tiveram a contribuição de todos os administradores”, sublinhou Nuno Amado, adiantando que “Carlos interveio, e bem, muito próximo, de uma forma muito clara sobre os resultados do banco”. “Todos os administradores tiveram uma enorme colaboração com a equipa executiva do banco, em momentos difíceis. Dentro do banco, sempre fizemos as coisas de acordo com os melhores princípios”, assegurou, asseverando que Carlos Silva é um administrador não-executivo.

Sobre a avaliação das participações em empresas portuguesas, pedida pelo novo presidente João Lourenço, Nuno Amado diz-se “tranquilo” e diz que nada tem mudado nas relações, no dia a dia, com o acionista da Sonangol, que terá cerca de 15% do capital do banco.

O presidente-executivo comentou, ainda, o alerta do Banco de Portugal a recomendar limites na concessão de crédito. “O Banco de Portugal deliberou, nós entendemos, nós achamos que não há um mercado para a habitação, há diversos mercados, há áreas onde os preços subiram, outras onde o preço não subiu tanto. Não há um mercado, há diversos mercados e nós não achamos que haja uma situação de bolha de preços nem de perto nem de longe”, explicou Nuno Amado, acrescentando que no BCP “temos as cautelas devidas, mas cabe ao regulador antecipar os possíveis problemas, não tenho nada a comentar”.