O Andante, bilhete que serve para os transportes públicos do Porto, vai ser totalmente desmaterializado a partir de abril. E não se trata apenas de trocar o papel por uma aplicação (app) no telemóvel, indicou esta quarta-feira o ministro do Ambiente no Parlamento. João Matos Fernandes, que foi ouvido na comissão parlamentar de economia, explicou que sem papel terá de ser possível fazer um registo à entrada do meio de transporte, um check-in, para calcular o custo que será debitado numa conta mensal de transporte.

O Andante desmaterializado será uma opção disponível para os utilizadores com smartphones androide. De fora ficam os iPhones porque a Apple não fornece os dados necessários para operacionalizar a aplicação, explicou o ministro com a tutela dos transportes. Mas o universo de potenciais utilizadores será ainda grande. Matos Fernandes descreve uma solução mais simples, através de uma aplicação que tem a vantagem de uma conta mensal, tal como outros serviços públicos de eletricidade ou gás.

O ministro promete ainda uma solução “inteligente na forma como faz as contas”. Não se limita a somar o custo dos trajetos percorridos como a Via Verde. E dá um exemplo: se um utilizador tiver de ir todos os dias num mês visitar um doente ao Hospital de S. João, a nova conta não irá cobrar 20 viagens, mas fará um desconto, como no passe.

Este Andante desmaterializado estará disponível nos principais transportes públicos do Porto e poderá ser alargada, por exemplo aos táxis se aderirem, referiu o ministro. Mas será uma opção, mantendo-se a oferta de títulos em papel.

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E Lisboa?

Matos Fernandes reconhece que o Andante no Porto tem tido um sucesso maior do que o seu correspondente em Lisboa, o cartão Lisboa Viva que aliás arrancou mais tarde. E atribui essa diferença à circunstância do modelo de gestão de transportes da área metropolitana de Lisboa “não ter ainda um grau de maturidade” nem “uma estrutura tão robusta” como a TIP (Transportes Intermodais do Porto), criada pelas empresas CP, Metro do Porto e STCO em 2002.

Esta é uma responsabilidade metropolitana, sublinha. E a proposta para o bilhete desmaterializado partiu da área metropolitana do Porto. Matos Fernandes adianta ainda que o “desafio já foi lançado e estamos à espera que a área metropolitana de Lisboa responda”.

Ainda sobre a bilhética e o modelo tarifário na área metropolitana de Lisboa, o deputado do Bloco de Esquerda, Heitor Sousa, quis saber qual o ponto de situação do estudo da Autoridade Metropolitana de Transportes (AMT) para preparar uma “reforma radical” no tarifário dos transportes públicos na Grande Lisboa. Para Heitor Sousa, os 800 títulos de transporte que existem são o principal obstáculo à promoção dos transportes públicos, para além do preço que diz, ser caro.

Na resposta, o secretário de Estado adjunto, José Mendes, diz que o Governo está a aguardar a revisão do modelo por parte da AMT. Em causa estará um novo tarifário, mas em relação ao qual o Estado terá apenas a responsabilidade de fixar a atualização anual do preço como fez este ano. O Governo fixou em 2,5% o aumento máximo dos transportes públicos em 2018, mas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto optaram por introduzir atualizações de 1,6%.

Dez barcos para Transtejo/Soflusa

Numa audição que se realiza um dia antes de um debate parlamentar sobre s transportes, Matos Fernandes não é muito revelador sobre as expansão dos metros de Lisboa e Porto. Sobre Lisboa, o ministro diz que o projeto irá em breve para a avaliação de impacte ambiental, esperando que a obra arranque no final do primeiro semestre do próximo ano. Matos Fernandes admite que o Metro de Lisboa tem um problema ao nível das composições (unidades triplas elétricas ou com três carruagens) — faltam 29 — nomeadamente por causa de falhas na manutenção. Mas assegurou que no próximo mês de maio essa necessidade será ultrapassada.

Para os transportes urbanos estão programados 207 milhões de euros no programa Programa Operacional Sustentabilidade e Eficiência no Uso de Recursos (PO-SEUR), financiado com fundos comunitários, dos quais a grande fatia, de 190 milhões de euros, terá como destino os projetos de expansão dos metros de Lisboa e Porto. Para a renovação da frota de barcos da Transtejo/Soflusa sobram 17 milhões de euros.

O Governo já recebeu o estudo de viabilidade para a compra de dez novos barcos, mas pediu à empresa que clarificasse as soluções de motorização e contemplasse uma frota com motores híbridos de forma a potenciar a obtenção de financiamento comunitário. Em causa está um investimento que pode chegar aos 50 milhões de euros, de acordo com a proposta feita pela administração da empresa.