“Sim, claro”, responde Salvador Sobral quando lhe perguntam se teve medo da operação que em dezembro lhe trouxe um novo coração. “Seria um cubo de gelo se não tivesse medo.” Esta quinta-feira, Salvador Sobral deu a primeira entrevista após ter sido sujeito a um transplante de coração no final de 2017. Durante o Telejornal da RTP 1, o artista português falou da “parte negra da história”, referindo-se à longa operação (e consequente período de recuperação) que se seguiu à vitória no Festival Eurovisão da Canção, em maio último.

Já não via estas imagens há algum tempo. São muito bonitas. Ainda bem que não mostram a parte negra da história”, disse ao jornalista João Adelino Faria, referindo-se às imagens de quando venceu o festival. “Há duas experiências únicas. Ganhei o maior concurso pop europeu e, de repente, toda a gente no país me conhecia. Uns meses depois enfiei-me num quarto de hospital durante quatro meses e fiz um transplante de coração. Acho que foi o ano mais díspar que alguém poderia imaginar.”

Ao longo da entrevista, Salvador Sobral tenta relativizar a mediática operação. Ao mesmo tempo que diz ser “uma experiência fora desta realidade”, difícil de descrever, garante o ser humano é “super adaptável”. “Aquela situação é a minha realidade. Prefiro ser prático sobre estas coisas”, diz, ao invés de “metafísico”. O cantor garante que é o mesmo antes e depois da cirurgia, que o “coração é um músculo” e que a “alma é a mesma”.

Salvador garantiu ainda que não quer saber quem lhe doou o coração. “Vejo as coisas de forma prática. Mas pode ser que, daqui a um tempo, pense de outra forma.”

O artista que ganhou o Festival Eurovisão da Canção em maio do ano passado recebeu um transplante de coração em dezembro. A operação que durou quatro horas aconteceu no Hospital de Santa Cruz, em Lisboa, depois de ter sido encontrado um coração compatível. A recuperação foi longa, mas à data da cirurgia a equipa médica garantiu que Salvador que se encontrava bem de saúde.

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O artista de 28 anos é um dos 400 mil portugueses que sofrem de insuficiência cardíaca e esteve até dezembro a aguardar um coração compatível para que pudesse ser submetido a um transplante. “É um caso raríssimo o de Salvador”, disseram ao Observador diversos especialistas em setembro de 2017. A insuficiência cardíaca é uma síndrome grave, mas poucos são os pacientes tão jovens como Salvador Sobral — menos ainda os que necessitam de um transplante para sobreviver.

Salvador Sobral quer agora levar a sua música aos Açores e à Madeira, apesar de não ter especificado qualquer data e de ainda não ter regressado aos palcos após a operação. Diz ainda estar a preparar um segundo disco para o qual convidou vário músicos (incluindo Mário Laginha e Samuel Úria) e escritores que “admira bastante”, como Miguel Esteves Cardoso e Gonçalo M. Tavares. “Liguei-lhes e eles felizmente disseram que o fariam”, conta, referindo-se à participação de ambos os escritores.

O músico que não se acha compositor garante ainda que odeia responsabilidades, mas que canta para “tocar nas pessoas, para influenciá-las, para fazê-las pensar”. “A melhor parte é mesmo tocar nas pessoas.”

A canção “Amar Pelos Dois” garantiu o sucesso a Salvador Sobral no Festival da Canção Eurovisão de 2017, sendo que o artista foi recentemente eleito personalidade do ano de cultura pelos leitores do canal de notícias de Euronews.