Convenhamos que é funcionalmente interessante, sempre que nos sentamos ao volante e ainda antes de colocar o motor em marcha, sabermos qual é a pressão dos pneus e verificarmos se todos, ou algum deles, estão abaixo dos valores normais, o que pode comprometer a segurança. Tudo isto sentado e sem ter de visitar uma bomba de combustível e sujar as mãos, para retirar as carrapetas e medir, um a um, os quatro pneus do veículo.

Muitos automóveis, dos mais dispendiosos a alguns dos mais acessíveis, como o Renault Clio, já facultam esta informação, bem como nos avisam se, repentinamente e quando circulamos a alta velocidade, um pneu perde pressão – devido a um furo lento, por exemplo –, o que nos pode sujeitar a uma situação potencialmente perigosa na travagem seguinte, especialmente se for de emergência. Pois bem, se ninguém questiona a utilidade deste tipo de dados, o melhor é prepararmo-nos para o que vai chegar em breve, para funções e potencialidades que vão chegar ao mercado pela mão dos chamados pneus inteligentes. Muitas delas capazes de surpreender mesmo os condutores mais experientes.

A Continental desafiou-nos a conhecer os seus ContiSense e ContiAdapt, dois tipos de pneus que apelida de inteligentes e que verdadeiramente surpreendem pelas habilidades que colocam à nossa disposição. Sendo que o ContiSense é a antecâmara do Adapt, uma versão menos inteligente ou complexa – também mais simples e barata – que a marca alemã vai propor ao mercado, enquanto ultima e faz aprovar as especificações mais sofisticadas do ContiAdapt.

Inteligentes, porquê?

À questão “porquê os pneus inteligentes?”, o especialista da Continental responde “porque é necessário aumentar a segurança e o condutor quer dedicar cada vez menos atenção aos pneus, mesmo se a sua vida pode depender deles”. Sendo assim, impunha-se ir por partes e perguntar “o que é que os ContiSense podem fazer por nós, condutores?”. E a resposta não se fez esperar: “Mais do que seria possível esperar ainda há bem pouco tempo.”

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O truque que a Continental tem na manga é a electrificação do pneu. Não que passem a mover-se por si próprios, mas porque a sua borracha, ou pelo menos parte dela, vai ter de ser condutora, de forma a detectar anomalias e recolher informação, que depois será comunicada ao veículo e ao condutor. A borracha, especialmente se incluir alguns componentes (negro de carbono, entre outros), já tem uma apreciável capacidade condutora, mas o fabricante de pneus necessita de elevar ainda mais este seu potencial, provavelmente aplicando uma película sob o piso, que vai funcionar como o vigilante do pneu.

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“O ContiSense vai ser capaz não apenas de determinar a pressão do pneu e detectar variações, o que já outros pneus fazem hoje, como vai conseguir detectar quando um prego, por exemplo, penetra na borracha, apesar de ainda não se verificar qualquer variação na pressão”, explica o nosso interlocutor. Mas as vantagens não se ficam por aqui:  este pneumático “vai ainda permitir determinar a profundidade do piso em diversas zonas do pneu, bem como a temperatura da borracha nesses mesmos pontos, o que facilita a detecção de qualquer tipo de danos estruturais ou desgastes que possam vir a levantar problemas”.

Claro que toda esta tecnologia é bem-vinda, mas será dispendiosa? “De forma a poder ser aceite pelo mercado, o sistema ContiSense não poderá elevar o custo do pneu em mais de 5%”, explica o técnico da Continental, admitindo que mais difícil é recuperar todos os dispositivos e sistemas durante a fase de reciclagem dos pneus, uma vez terminado o seu período de vida útil. Sendo que esta é uma exigência da indústria, cada vez mais preocupada com a pegada ecológica.

E que tal ter quatro pneus em apenas um?

Se o primeiro nível dos pneus inteligentes pode estar disponível assim que o mercado o exigir, no limite dentro de três a cinco anos, o segundo nível poderá tardar mais dois a três anos. É conhecido como ContiAdapt e o seu potencial é imenso, tanto que permite que um só pneu possa funcionar como se tivesse quatro medidas distintas. Ou mais.

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O Adapt é apenas um pneu ContiSense que vai mais longe, em termos tecnológicos. Até hoje, todos os pneus têm a sua pressão ideal, que estabelece um equilíbrio entre a aderência, conforto, rigidez estrutural e capacidade de expor apenas o piso à estrada, protegendo os ombros do pneu. Pois bem, o ContiAdapt tem a capacidade de fazer variar a pressão interior entre 1 e 3,5 bar, fazendo variar com a pressão a zona de contacto do pneu com a estrada. Para se ter uma ideia, um pneu convencional usa, em média uma pressão de enchimento próxima dos 2,5 bar, a que corresponde 36 PSI.

Assim, o pneu pode trabalhar com somente 1 bar (rodando como se tivesse a pressão muito baixa, mas sem que isto o degrade devido ao novo tipo de construção), maximizando a zona de contacto e, com ela, a tracção, ideal para zonas com areia solta ou lama, para no instante seguinte aumentar a pressão para 3,5 bar quando a circular em auto-estrada, diminuindo a zona de contacto e logo a fricção (e a tracção), de modo a baixar o consumo e as emissões, e incrementando, por outro lado, a autonomia.

Obviamente, entre um limite e outro existe uma pressão intermédia, para utilizar em condições normais. Em cidade, por exemplo, onde o pneu circula a 2,5 bar, o que transforma cada um dos ContiAdapt em três pneus distintos, um para cada tipo de condições, ou até em mais, uma vez que a pressão é infinitamente variável. É isto que permite igualmente adaptar o pneumático ao piso seco ou molhado.

É claro que mesmo os pneus actuais podem circular com mais ou menos pressão, o que não conseguem é garantir eficácia ou aderência nessas condições, pois com menos pressão aquecem em excesso, não apoiando a zona central do piso e expondo demasiado os ombros, e com pressão elevada sofrem de um desgaste acelerado na zona central do piso, reduzindo drasticamente a vida do pneu.

Para que servem os pneus inteligentes?

Caso estivessem já disponíveis, os ContiAdapt – e até os Sense – tornariam os veículos convencionais mais seguros. Mas o objectivo desta tecnologia é tornar viável os veículos autónomos, aqueles em que o condutor deixa de existir ou passa a dedicar menos atenção ao veículo em que se desloca. Nos carros equipados com condução autónoma, a responsabilidade de garantir a segurança, e que tudo está em perfeitas condições, é do fabricante. Razão pela qual os pneus têm de informar o veículo se a pressão está correcta, se há um prego ou pedaço de metal espetado no piso, ou se uma pedra provocou um corte no ombro do pneu, mesmo que não exista ainda uma perda de pressão.

Paralelamente, ter um pneu que possa incrementar a autonomia em 20 ou 30% é uma possibilidade que os construtores de automóveis vão acolher de braços abertos, tanto mais que em breve todos os veículos serão eléctricos e, para eles, a autonomia é algo ainda mais importante – sobretudo se forem alimentados por bateria – do que para os modelos com motores de combustão. A capacidade de variar a pressão interior vai assegurar uma maior versatilidade ao veículo, especialmente se for um sistema electrónico, e não um condutor, a perceber que o piso está molhado e é necessário adaptar a velocidade ao estado do piso.