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A amnésia de Conchinha, ex-aprendiz de escritório que representa altas figuras angolanas em Portugal

Este artigo tem mais de 5 anos

Angélica Conchinha representa várias empresas angolanas referidas na Operação Fizz e até foi secretária da Assembleia Geral da empresa que detinha o BPA Europa. Mas não se lembrava.

Angélica Conchinha trabalhava também para Carlos Silva
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Angélica Conchinha trabalhava também para Carlos Silva

PEDRO MAGALHAES/LUSA

Angélica Conchinha trabalhava também para Carlos Silva

PEDRO MAGALHAES/LUSA

Estava prestes a ficar desempregada quando a proposta para trabalhar na empresa do pai do banqueiro Carlos Silva lhe chegou. Foi entrevistada, gostaram dela e Angélica Conchinha foi contratada como assistente. Acabaria por tirar o curso de Direito e tornar-se numa peça fundamental no futuro desta e de outras empresas de angolanos de quem se tornou representante em Portugal. O tribunal que está a julgar o caso Fizz considerou que seria fundamental e reservou mais de um dia e meio para a ouvir como testemunha. Mas a advogada foi traída pela memória.

Angélica Conchinha entrou determinada na sala de audiências do Campus de Justiça, onde estão a ser julgados um procurador, um advogado e um representante do vice-Presidente angolano, Manuel Vicente, por corrupção. O advogado que a acompanhou pediu ao juiz que compreendesse que a testemunha tinha problemas de visão. Angélica Conchinha, por seu turno, avisou que não conseguia falar muito alto e acabou por se sentar junto à ala do Ministério Público e do coletivo de juízes.

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As frases do dia

“A Ifogest Funcionou como backoffice em 2005 do Banco Privado Atlântico Europa”, disse Angélica Conchinha.

“Trabalhava no mesmo prédio da Wladimira [irmã de Carlos Silva] e disse-lhe que a empresa onde estava ía fechar. Ela perguntou-me se queria mandar um currículo ao pai dela que ía abrir uma empresa”, Angelica Conchinha.

“Esteve envolvida na criação de inúmeras sociedades, comunicava-se com várias pessoas e depois diz sempre que não se lembra e não sabe. E dá ideia que fazia de tudo. Até vender casas e ver se tinham rachas você fazia É estranho tanto desconhecimento”, disse o juiz presidente, Alfredo Costa.

Decisões importantes

O coletivo de juízes mantém a importância de ouvir presencialmente o banqueiro Carlos Silva. O  tribunal já informou o advogado do angolano dessa intenção e das datas previstas para a inquirição.

Quem foi ouvido

Angélica Conchinha, foi administradora da Ifogest, empresa criada pela família de Carlos Silva, e é a representante fiscal de várias empresas de angolanos em Portugal.

Quando é a próxima sessão

Quarta-feira, 28 de fevereiro.

Contou humildemente o seu percurso profissional. Disse que começou por ser aprendiz de escritório numa empresa que acabaria por fechar, quando surgiu a oportunidade de trabalhar para a Ifogest — “uma empresa familiar”, criada por Hortênsio Silva (pai do banqueiro Carlos Silva) e dos filhos. Foi aqui que acabou por ingressar no curso de Direito, formar-se e fazer estágio para poder prestar apoio jurídico à empresa. Mais tarde o advogado João Cluny (que representa Armindo Pires e Manuel Vicente) acabaria por perguntar-lhe como surgira o convite. “Trabalhava no mesmo prédio da Wladimira [irmã de Carlos Silva] e disse-lhe que a empresa onde estava ia fechar. Ela perguntou-me se queria mandar um currículo ao pai dela que ia abrir uma empresa”, explicou. Foi entrevistada e ficou.

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Quando lhe pediram para explicar quem detinha, à data, a Ifogest, Conchinha explicou que, além da família Silva, na empresa participava também um jurista, referindo-se a Paulo Marques — que depois da criação do Banco Privado Atlântico Europa foi para Luanda (e que o arguido Orlando Figueira diz que ia substituir quando deixou a magistratura). Explicou que a empresa se dedicava à revenda de imóveis e que mais tarde seria vendida. A Ifogest acabaria por ser a empresa que ajudou a criar o Banco Privado Atlântico Europa em Portugal. E até foi com esta empresa que os fundadores do banco assinaram um contrato. “Funcionou como backoffice em 2005, salvo erro”, recordou.

O trabalho de Conchinha tornou-se fundamental. A partir de 2008 começou a representar outras empresas angolanas em Portugal e acabou por ser nomeada administradora da Ifogest — mais ou menos quando Paulo Marques foi para Angola deixando a empresa. Quando questionada sobre a Primagest — a empresa com quem Orlando Figueira teria assinado contrato para ir para Angola e que o Ministério Público acredita pertencer de alguma forma a Manuel Vicente — disse lembrar-se que esta queria constituir uma outra empresa para adquirir o prédio onde funcionava a Coba. Mais não se lembra.

“Então porque tinha cópia da identificação de Manuel Vicente consigo?”, perguntou-lhe a procuradora Leonor Machado. “Não sei, talvez por alguma questão que o BPAE me tenha pedido. A Sonangol é uma das acionistas do BPAE”, recordou, recusando sempre conhecer o governante angolano. “Mas alguma vez se apercebeu que por trás da Primagest estivesse a Sonangol?”, prosseguiu a procuradora. “Não”, respondeu Conchinha.

A advogada explicou, no entanto, que pela Ifogest passaram como acionistas o engenheiro Lopo Nascimento e o advogado Manuel António Costa — administrador da Primagest. “E Manuel António Costa representava quem em Angola? Qual era o seu interesse?”, perguntou-lhe uma das juízas. “Não sei. São investidores, não sei se representava alguém”, disse a testemunha.

Esteve envolvida na criação de inúmeras sociedades, comunicava-se com várias pessoas e depois diz sempre que não se lembra e não sabe. E dá ideia que fazia de tudo. Até vender casas e ver se tinham rachas você fazia. É estranho tanto desconhecimento, disse o juiz presidente.

Quando começou a ser inquirida pelo juiz, Conchinha teve uma memória que até ali lhe tinha falhado: chegou a ser secretária da empresa Atlântico SGPS — que detém o Banco Privado Atlântico. Ainda assim disse nunca ter participado “no sentido formal” em reuniões da Assembleia Geral. “Ai não? Vai ver que já não vai responder da mesma maneira”, avisou o juiz, Alfredo Costa, enquanto procurava um ata de uma reunião da Assembleia Geral ocorrida a 19 de junho de 2009, nas Amoreiras. E passou a ler: “‘O Presidente da Mesa dirigiu uma palavra formal de saudação aos presentes'”. “E está assinado por si, como secretária suplente!”, advertiu.

Conchinha acabou por admitir que não tinha estado presente, mas que assinou a acta porque “confiava”.

Isto é falsificação de documento. Foi a única acta que assinou sem estar presente? Não sei, a dra. [procuradora] vai fazer alguma coisa?, questionou o juiz indignado.

Para quê?, respondeu a procuradora Leonor Machado.

A testemunha continua a ser ouvida na tarde de quarta-feira.

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