A pouco mais de um mês de completar 34 anos, Nelson Évora chega a Birmingham para os Mundiais de atletismo de novo como um dos favoritos no triplo salto e poucos se surpreenderão se conseguir uma medalha.

Neste inverno, o triplo saltador português esteve ao nível das marcas que conseguiu há dez anos, comprovando a longevidade e a resiliência na carreira, na qual já cabem oito medalhas em grandes competições, entre as quais o ouro olímpico, mas também lesões bem graves.

São oito os portugueses para os Mundiais de pista coberta de Birmingham, mas Nelson tem destaque muito natural na competição que vai decorrer de quinta-feira a domingo naquela cidade inglesa.

Por um lado, é um dos mais atletas com mais historial em prova. Ao mesmo tempo, chega com o ‘wild card’ de vencedor do ‘world indoor tour’ na sua especialidade – de que nem precisava, já que tinha mínimos, tanto no ano passado como já em 2018. Aliás, foi no recente ‘meeting’ de Madrid que mais deu nas vista, com um salto a 17,30 metros, o seu melhor em pista coberta desde 2008 e a três centímetros apenas do seu recorde nacional.

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Atleta que se costuma superar nos grandes momentos, Nelson é o ‘top’ entre os 16 inscritos, avaliando a marca do ano, o recorde pessoal e ainda o palmarés.

Nas marcas da época, só é superado pelo brasileiro Almir dos Santos (17,37). O seu recorde pessoal em pista coberta, de 17,33, é o sexto, a seguir aos do italiano Fabrizio Donato (17,73 em 2011), do norte-americano Will Claye (17,70 em 2012), do alemão Max Hess (17,52 em 2017), do chinês Bin Dong (17,41 em 2016) e do brasileiro Almir dos Santos (17,37 em 2018).

A seu favor, e também do concurso em geral, que terá final direta, regista-se a ausência dos dois atletas com melhor marca ainda em atividade – o campeão mundial e olímpico Christian Taylor (EUA), que faz ano sabático, e o vicecampeão mundial de 2013 e 2015, Pedro Pichardo, cubano naturalizado português, mas que a IAAF ainda não autoriza a competir a nível internacional.

Por outro lado, o atual vice-campeão mundial, Will Claye, parece estar menos bem que no ano passado, o mesmo se podendo dizer de Donato, o vice-campeão europeu, já com 41 anos, e de Bin Dong e Max Hess, respetivamente os atuais campeão e ‘vice’ em pista coberta.

O mais consistente na época, com alguma supresa, é mesmo Almir dos Santos, só que a diferença é mínima – 17,37, contra 17,30 do português e 17,28 de Claye.

Até aos 17,00, há mais quatro atletas, o que ‘promete’ luta renhida para os últimos saltos: são eles os norte-americanos Chris Carter (17,20) e Omar Craddock (17,18), Hugues Zango, do Burkina Faso, novo recordista africano com 17,23, e o cubano Cristian Nápoles (17,02). A final direta disputa-se a partir das 19h08 de sábado, no terceiro e penúltimo dia de competições.

Sábado é a jornada de maior interesse para Portugal, já que também se disputa a final do lançamento do peso, a partir das 11h45, e Tsanko Arnaudov é um dos 19 na luta.

A exemplo de Nelson, Tsanko dá-se bem com a pressão dos grandes momentos, o que já lhe valeu o bronze no campeonato da Europa de 2016, ficando no ano passado, no Europeu ‘indoor’ de Belgrado, à porta do pódio, com recorde nacional. Tem a sétima marca do ano, com 21,27 metros e entra numa lista razoavelmente longa de ‘outsiders’ para o bronze.

Os melhores do ano, de longe, são o checo Tomás Stanek (22,17) e o polaco Konrad Bukowiecki (22,00). Depois, aparecem o neozelandês Tomas Walsh (21,87 ao ar livre), o brasileiro Darlan Romani (21,68, também ao ar livre), o polaco Michal Haratyk (21,47) e o russo Maksim Afinin (21,39).

De entre os que, este ano, têm menos que os 21,27 de Tsanko, estão o alemão David Storl, antigo campeão mundial e vice-campeão olímpico, (com 21,88 como recorde pessoal, em 2012) e o norte-americano Ryan Whiting, duas vezes campeão mundial ‘indoor’ (22,23 em 2014).

Portugal só envia dois atletas masculinos aos Mundiais, mas no setor feminino serão seis, incluindo as integrantes de uma inédita estafeta de 4×400 metros.

Lecabela Quaresma será a primeira a entrar em ação, começando o pentatlo às 10h18 de sexta-feira. Tem a 10.ª marca entre as 12 participantes na prova que se prolongará por todo o dia, com os 800 metros finais às 20h17.

Com 4.473 pontos de recorde pessoal (segunda portuguesa de sempre, atrás de Naide Gomes), a atleta da Juventude Vidigalense aponta para superar aquele registo e confirmar a boa presença no Europeu de pista coberta do ano passado, quando foi sétima.

Outra meta tem Lorene Bazolo, nos 60 metros: assume frontalmente que quer chegar ao recorde nacional, de Lucrécia Jardim (7,25) e ser semifinalista em Birmingham.

A velocista do Sporting tem o 28.º tempo do ano (7,27) entre as 52 inscritas nos 60 metros e correrá a eliminatória às 10:35 de sexta-feira e a semifinal, se ficar apurada, às 18h50. Muito improvável será a presença na final, às 21h38.

Também na sexta-feira compete a quatrocentista Cátia Azevedo, surpreendente qualificada com o recorde pessoal de 53,13 segundos. É a 29.ª do ano, entre as 38 inscritas. Correrá as eliminatórias às 12h10 e, se ficar apurada, terá as semifinais às 20h32, a fechar o programa desse dia (final dos 400 metros é sábado, às 20h05).

A marca de Cátia, conseguida no Nacional de Clubes, catapultou a estafeta também para Birmingham – a marca de acesso era o somatório das quatro marcas individuais.

Acompanham-na, Dorothé Évora, Filipa Martins e Rivinilda Mentai e o quarteto é o menos forte dos dez que vão estar em pista. No entanto, a presença a este nível, ao lado das melhores quatrocentistas da atualidade, pode ser uma preciosa ‘boleia’ para que caia o recorde nacional, de 3.41,54 em 2016, numa formação que já tinha Cátia Azevedo e Filipa Martins.

A soma dos melhores tempos do ano de cada uma das lusas é de 3.38,91 e é mesmo muito natural que o recorde venha a cair, nesta estreia da seleção em grandes competições de pista coberta. A eliminatória é às 13h05 de sábado, com a final, para as seis melhores, às 16h30 de domingo.