“Tenho um pequeno problema com a conformidade”. A frase fez parte do discurso de Frances McDormand, quando subiu ao palco do The Royal Albert Hall, na última cerimónia dos BAFTA. À semelhança de toda a temporada de prémios, a atriz de 60 anos levou para casa o estatueta de Melhor Atriz Principal, pelo filme Três Cartazes à Beira da Estrada. A esta altura, a máscara dourada já estará a fazer companhia ao Globo de Ouro e aos prémios dos Screen Actors Guild Awards e dos Critics’ Choice Awards. No domingo à noite, se ganhar, Frances conquista o seu segundo Óscar, depois de, em 1997 ter sido distinguida (também na categoria de Melhor Atriz Principal) pela prestação no filme Fargo.

Mas, voltando à frase, de facto, inconformidade é com ela e atitude desconcertante também. Em 2003, McDormand foi capa da revista High Times. Na T-shirt trazia o símbolo da canábis, na mão um charro. Para estrela de Hollywood, está longe de ter uma imagem convencional. Em 2011, certamente com receio de se constipar, subiu ao palco dos Tony Awards para aceitar o prémio de Melhor Atriz Principal pela peça Good People com um blusão de ganga sobre o vestido.

Frances McDormand na capa da revista High Times, em maio de 2003

Quando ganhou o primeiro Óscar, tinha o cabelo curto e escuro, depois deixou-o crescer e pintou-o de louro, mas em 2014, já Frances surgia com o look que hoje conhecemos, ou seja, de cabelo curto. Se inicialmente, aparecia minimamente penteado, com o passar do tempo a atriz foi dizendo não ao glamour imposto pela indústria. Nos últimos Globos de Ouro, tal como nos BAFTA, não usou maquilhagem, apresentou-se meio despenteada e mostrou uma clara preferência por vestidos compridos e descolados do corpo. Ar esgrouviado? Sem dúvida, mas em parte porque McDormand colmata o pouco à-vontade em posar para as fotografias (ou será falta de paciência mesmo?) com uma boa dose de comicidade sinistra. Basta recordar a sua passagem pelo Festival de Veneza, em setembro do ano passado.

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Depois, há um ligeira tendência para contornar o dress code. Se nos Globos de Ouro, no início de janeiro, suscitou dúvidas ao usar um vestido azul (muito, muito) escuro que, ainda assim, muitos assumiram como preto, nos BAFTA parece ter ignorado olimpicamente o desafio lançado pelo movimento Time’s Up. Usou um Valentino (uma escolha recorrente desde os Globos de Ouro, no início de janeiro) que, de facto, tinha o preto como cor base, mas que também tinha estampados lábios e batons vermelhos e cor-de-rosa, uma animação de vestido, basicamente. Durante o discurso de aceitação, declarou-se solidária com o movimento, Frances McDormand só não gosta de obedecer a regras.

A começar pela esquerda: Valentino, (© Valentino) Carolina Herrera (© Fernanda Calfat/Getty Images) e Gucci (© Miguel Medina/AFP/Getty Images)

Já que Frances não gosta de mostrar pele, façamos-lhe a vontade. Embora faça de tudo para fugir do photobooth,  parece que tanto nos SAG Awards como nos BAFTA a escolha recaiu sobre Valentino, o que faz com que não possamos passar ao lado da casa italiana na hora de atirar estes três palpites para o ar. Sabemos que a atriz não é muito dada a assimetrias, mas arriscamos neste vestido preto da coleção pre-Fall. Continuando de olhos postos na próxima estação fria, a segunda sugestão é Carolina Herrera. O que é que este vestido tem de ousado? É ligeiramente cintado, coisa que McDormand deixou de usar há uns aninhos. O terceiro é Gucci e seria real num universo paralelo em que Frances McDormand partisse a loiça toda ao chegar à passadeira vermelha dos Óscares. Nunca se sabe. A esperança é a última a falecer.