Jorge Jesus esteve na conferência de imprensa de antevisão do FC Porto-Sporting no Auditório Artur Agostinho, em Alvalade, juntou-se aos restantes elementos da comitiva e partiu no autocarro da equipa principal para uma unidade hoteleira no Porto. Como é normal, à espera estavam alguns jornalistas e repórteres fotográficos, que terão sido conduzidos para uma área em específico enquanto aguardavam a chegada dos verde e brancos; no entanto, os jogadores acabaram por aceder por outra porta, percebendo-se apenas que faziam parte do grupo 21 atletas. Até aqui, o segredo é alma do negócio.

O clássico desta sexta-feira, com início marcado para as 20h30, será fundamental para as contas do título: ou deixa tudo na mesma faltando nove jornadas para o fim; ou permite ao FC Porto virar atenções para o Benfica, porque o Sporting ficaria já a oito pontos (que seriam nove, face à vantagem dos azuis e brancos no confronto direto); ou deixa em aberto uma luta que seria a três até à última jornada. Por aqui, em relação às contas mediante o desfecho da partida, sobram certezas. Ao contrário do que se passou durante a semana com Sérgio Conceição e Jorge Jesus, técnicos que tiveram sobretudo dúvidas.

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A antecâmara do FC Porto-Sporting ficou marcada pelas muitas dúvidas em relação às opções iniciais e à estratégia montada para o encontro pelos dois técnicos. Logo à cabeça, pelas questões físicas: Ricardo Pereira, Alex Telles, Danilo Pereira, Corona, Aboubakar e Soares começaram a preparação para o jogo fora do grupo de trabalho, sendo que pelo menos metade pode ir entrar nas contas; Piccini, Ristovski, Fábio Coentrão, William Carvalho, Palhinha, Podence e Bas Dost falharam a partida com o Moreirense na segunda-feira, juntando-se ainda a Gelson Martins (que os leões tentaram ainda despenalizar sem sucesso, o que aconteceu com Petrovic) para complicar a tarefa de desenhar um onze. Depois, a parte estratégica: assim como Sérgio Oliveira foi lançado na Champions sem que nada o fizesse prever, Jorge Jesus arriscou numa linha de três defesas e dois laterais a fazerem todo o corredor na partida da Taça de Portugal. Entre tantas questões, fomos à procura das respostas.

Como é que as duas equipas se prepararam para chegar aos golos?

Um dos pontos “atípicos” nos clássicos da presente temporada tem a ver com a escassez de golos (um de Soares em 270 minutos mais descontos) e até de oportunidades, em comparação com o rendimento ofensivo normal dos dois conjuntos. Mesmo tendo em conta que o empate pode ser um mal menor para os dois conjuntos, um triunfo poderá ser determinante para o que resta do Campeonato. E como pode cada um tentar ganhar? O FC Porto tentará fazer prevalecer os três argumentos mais fortes na sua dinâmica ofensiva: as movimentações que conseguem desequilibrar no corredor central; a velocidade nas alas para chegar à linha de fundo e cruzar para o último toque; e a exploração da profundidade com bolas nas costas da defesa contrária (sobretudo com Marega). Já o Sporting deverá apostar noutros aspetos do jogo: os esquemas táticos de livres ou cantos (a melhor oportunidade na meia-final da Taça da Liga foi assim, com Coates a acertar no poste); a meia distância de Bruno Fernandes, como ainda agora se viu frente ao Astana; e as transições ofensivas com diagonais nas costas dos centrais.

Soares apontou o único golo em clássicos na presente temporada, na primeira mão da Taça (FRANCISCO LEONG/AFP/Getty Images)

Jesus muda de sistema (e isso mexe na ideia de jogo)?

Jorge Jesus já conta com uns quantos clássicos no Dragão, entre Benfica e Sporting. E viveu sensações distintas com alterações inesperadas na equipa: correu muito mal quando, no ano do super FC Porto de Villas-Boas, experimentou David Luiz como falso defesa esquerdo para travar as movimentações de Hulk da direita para o meio (foi goleado por 5-0 no Campeonato); correu muito bem quando, três meses depois, encostou César Peixoto a Javi García e deu outra liberdade a Fábio Coentrão no flanco esquerdo (ganhou por 2-0 na primeira mão da meia-final da Taça de Portugal). Na presente temporada, o técnico verde e branco experimentou três ideias distintas, sem grandes resultados: em outubro, na Liga, foi com o modelo tradicional até então (William e Battaglia no meio, dois alas e Bruno Fernandes nas costas de Dost) mas os dragões superiorizaram-se em grande parte do nulo; em janeiro, na meia-final da Taça da Liga, optou por recuar Bruno Fernandes para ‘8’ e colocar Rúben Ribeiro com o avançado holandês mas não houve grandes diferenças (apesar do triunfo nos penáltis); em fevereiro, na primeira mão da meia-final da Taça de Portugal, arriscou um sistema elástico de 5x4x1 sem bola/3x4x3 com bola e foi derrotado por 1-0. Como será agora? Analisando as opções, percebe-se que tudo dependerá do posicionamento de Bruno Fernandes, que tanto poderá fazer dupla com William no meio-campo, como alinhar mais junto ao avançado como funcionar como falso ala direito. Mas a lesão de Piccini, que não viajou para o Porto, deve promover o regresso à linha de quatro defesas.

Jorge Jesus teve três abordagens diferentes nos jogos com o FC Porto esta temporada (PATRÍCIA DE MELO MOREIRA/AFP/Getty Images)

Sem Soares e, a confirmar-se, Aboubakar, como pode jogar Sérgio Conceição?

Sérgio Conceição já assumiu que Soares, com um problema muscular na coxa contraído em Portimão, não será opção contra o Sporting. E Aboubakar, que se lesionou no início de fevereiro e ainda tem feito trabalho condicionado de ginásio, pode não entrar já nas contas. Neste cenário, quais são as opções do técnico azul e branco para o clássico (por ordem de probabilidade)?

  1. Fazer uma troca direta e lançar Waris ou Gonçalo Paciência em dupla com Marega;
  2. Colocar Otávio na equipa inicial a trocar com Brahimi entre o flanco esquerdo e o corredor central, ficando o maliano em cunha na frente e a ala direita entregue a Corona/Ricardo/Hernâni (dependendo das recuperações físicas dos dois primeiros);
  3. Reforçar o corredor central com Reyes ou André André a par de Herrera e Sérgio Oliveira e libertar na frente Brahimi, Otávio e Marega.

Marega e Brahimi estão confirmados no onze do FC Porto; falta saber quem acompanha os africanos (MIGUEL RIOPA/AFP/Getty Images)

Quem vai ser o substituto de Gelson Martins no Dragão?

Olhando para o Sporting da atual temporada, existem três elementos fundamentais na manobra ofensiva: Bruno Fernandes, pela capacidade de construção e remate de meia distância; Bas Dost, pelo instinto na área do último toque e jogo aéreo; e Gelson Martins, pela profundidade e capacidade individual 1×1 que consegue oferecer. No entanto, o extremo está castigado (os leões ainda tentaram a despenalização do segundo amarelo com o Moreirense, por ter tirado a camisola para dedicar o golo nos descontos ao amigo Rúben Semedo) e é uma baixa de vulto, até por Alex Telles estar em princípio fora do jogo. Quem pode substituir o número 77? Existem muitas opções, nenhuma delas com as mesmas características do jogador:

  1. Rúben Ribeiro, abrindo muitas vezes o corredor com derivações para o centro que permitam a subida do lateral;
  2. Bruno Fernandes, atuando como falso médio ala um pouco como João Mário fazia em 2015/16;
  3. Rafael Leão, um jogador que pode procurar essa profundidade e que tem valências para arriscar mais os duelos individuais;
  4. Bruno César/Acuña, com um dos canhotos a passar para o lado contrário. Sem Piccini, Ristovski deverá jogar como lateral.

Jovem Rafael Leão é o jogador com características mais parecidas com Gelson, mas deverá começar o clássico no banco

Diogo Dalot mantém-se no lugar de Alex Telles como em Portimão?

Se Ricardo recuperar do problema físico que o tem afastado das opções, Maxi Pereira até poderia entrar nestas contas, mas tudo aponta para que o miúdo lançado por Sérgio Conceição possa manter a vaga de Alex Telles, um dos melhores jogadores da presente Liga e com mais assistências para golo. E porquê? Porque se é verdade que Marcano ou Osório (reforço contratado no Inverno ao Tondela) poderiam cumprir nessa posição, o modelo de jogo desenhado pelos dragões obriga a que o lateral do lado esquerdo desça várias vezes pelo corredor aproveitando as movimentações interiores de Brahimi. Caso o campeão europeu Sub-17 não seja opção, Diego Reyes deverá ser chamado ao eixo central para fazer dupla com Felipe.

Diogo Dalot foi titular em Portimão e saiu-se muito bem, tendo mesmo feito uma assistência para golo (FRANCISCO LEONG/AFP/Getty Images)

Quem joga no lugar de Dost: Doumbia, Montero ou Doumbia e Montero?

A forma como Jorge Jesus abordou a lesão muscular de Bas Dost nos minutos finais da receção ao Astana disse quase tudo: o holandês é uma peça essencial na equipa do Sporting. Até por dois fatores, além dos mais óbvios: por um lado, Doumbia e Montero não têm correspondido na zona de finalização (o africano não marcou ainda no Campeonato, por exemplo); por outro, os leões nunca conseguiram encontrar aquele segundo avançado capaz de fazer 15 golos por temporada como o treinador tinha pedido quando Teo Gutiérrez saiu. Caso se confirme mesmo a ausência do gigante goleador (que ficou em Lisboa, sinal de que não deverá mesmo estar em condições para o clássico), o que poderá acontecer? O mais provável é que o marfinense ocupe a vaga pelas características do jogo, que deverá colocar o conjunto verde e branco muitas vezes em terrenos recuados e à procura de saídas em velocidade explorando o adiantamento da linha defensiva do FC Porto, mas o colombiano já arrancou uma boa exibição no Dragão estando sozinho na frente (3-1 na Taça de Portugal em outubro de 2014, jogando com João Mário, Capel e Nani no apoio). Os dois em simultâneo é um cenário secundário.

Doumbia leva oito golos esta época mas ainda continua a zeros na Primeira Liga (PATRÍCIA DE MELO MOREIRA/AFP/Getty Images)

Entre as múltiplas versões possíveis, qual será a ala direita do FC Porto?

Sérgio Conceição destacou (e com razão) que o FC Porto goleou em Portimão por 5-1 no último jogo quase sem metade dos habituais titulares: Ricardo Pereira, Alex Telles, Danilo Pereira, Corona e Aboubakar. E ainda perdeu Soares, que vai mesmo falhar a receção ao Sporting. No entanto, o panorama começa a ficar mais desanuviado para os azuis e brancos, em particular na sua ala direita: além de Maxi Pereira, Otávio e Hernâni, Ricardo e Corona deram sinais positivos de integração e podem ser opção para o clássico, o que abre uma série de hipóteses para a ala direita dos azuis e brancos. Numa ótica mais prudente, Maxi Pereira e Otávio (ou Brahimi) continuarão na equipa, mas pode também regressar a dupla Ricardo-Corona em simultâneo ou Maxi-Ricardo, como o técnico dos dragões já apresentou em alguns encontros. A disponibilidade ou não de Aboubakar também poderá ter alguma influência na decisão, pelo posicionamento que Marega terá em campo.

Otávio teve um regresso muito positivo à equipa titular após um longo período de paragem por lesão (FRANCISCO LEONG/AFP/Getty Images)