Quando terminou a final da prova do triplo salto nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016, Nelson Évora sentia aquela sensação de missão cumprida. Não que se contente com pouco, porque é exatamente o facto de ser um atleta hiper competitivo que lhe permite andar ainda pela elite da especialidade, mas sim por ter consciência de tudo o que tinha passado para chegar àquele patamar. Um patamar que se calhar poucos acreditavam.

“Foi a minha medalha desta época, sem dúvida. Depois de um ano com tantas dificuldades em encontrar bons saltos, consegui ter alguma consistência e arrisquei. Quem não arrisca não petisca, não foi uma prova em que conseguisse acertar nos últimos três ensaios, que foram nulos, mas eram saltos melhores. Faltou um pouco mais de consistência. Cheguei a pensar na medalha e não me deixei intimidar. O ‘velho’ conseguiu ser o melhor da Europa aqui nos Jogos. Tenho de estar feliz. Ambicionava mais. O meu treinador espelhou isso mas não se fazem milagres. Tentámos fazer o melhor, por Portugal e por tudo o que passámos, mas valeu a pena esta luta”, resumiu.

A história que para muitos teria chegado ao fim foi apenas mais uma página virada na carreira do atleta do Sporting e agora percebe-se o porquê de, mesmo chegando a Tóquio em 2020 com 36 anos, manter ainda o sonho de ganhar mais uma medalha nos Jogos Olímpicos. Esta noite, nos Mundiais de Pista Coberta, escreveu-se outro capítulo. Um capítulo que, ainda assim, não deixou totalmente satisfeito Nelson Évora.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“Obrigado pelo vosso apoio! Mais uma medalha que ofereço a Portugal!”, escreveu na sua conta oficial do Twitter, com uma hashtag do tamanho da sua ambição: #bronzequesabeapouco.

A nona medalha de Nelson Évora em grandes competições internacionais (ouro nos Mundiais ao Ar Livre de 2007, nos Jogos Olímpicos de 2008 e nos Europeus de Pista Coberta de 2015 e 2017; prata nos Mundiais ao Ar Livre de 2009; bronze nos Mundiais de Pista Coberta de 2008 e 2018 e nos Mundiais ao Ar Livre de 2015 e 2017) acabou mesmo por saber a pouco e percebe-se porquê: a marca que obteve à terceira tentativa, de 17,40, estabeleceu um novo recorde pessoal e nacional, ficando apenas a um centímetro da prata do brasileiro Almir dos Santos (que também melhorou o seu recorde pessoal em Birmingham) e a três do ouro do americano Will Claye, que estabeleceu a melhor marca mundial da temporada. Só mesmo assim o atleta de Iván Pedroso não ficou no primeiro lugar.

De acrescentar ainda que Nelson Évora tinha como melhor registo em Pista Coberta os 17.33 alcançados há dez anos na Alemanha, em Karlsruhe, um mês antes dos Mundiais de Valência onde ganharia a medalha de bronze com 17.27 apenas superado pelo britânico Phillips Idowu (17.75) e pelo cubano Arnie David Giralt (17.47). Hoje, aos 33 anos, a mês e meio de cumprir o 34.º aniversário, conseguiu dar show e chegou aos 17.40.

Em paralelo, e apesar de algum azar na forma como acabou por ser superado a meio da prova, Nelson Évora conseguiu o segundo bronze em Campeonatos do Mundo de Pista Coberta e deu a 13.ª medalha a Portugal na competição, depois dos ouros de João Campos (3.000 metros, 1985), Rui Silva (1.500 metros, 2001) e Naide Gomes (pentatlo, 2004; comprimento, 2008); das pratas de Carla Sacramento (1.500 metros, 1995), Rui Silva (3.000 metros, 2004) e Naide Gomes (comprimento, 2006 e 2010); e dos bronzes de Mário Silva (1.500 metros, 1991), Fernanda Ribeiro (3.000 metros, 1997) e Carlos Calado (comprimento, 2001).