Ötzi foi descoberta em 1991. Terá vivido entre 3370 a.C. e 3100 a.C. nos Alpes, na fronteira entre a Áustria e a Itália. E era a múmia mais antiga descoberta até hoje com tatuagens (traços horizontais e verticais) gravadas na pele. Era.

O Journal of Archaeological Science publica agora uma descoberta que vem alterar tudo o que os arqueólogos pensavam saber sobre tatuagens em múmias — nomeadamente as do Antigo Egipto.

Duas múmias (um homem e uma mulher) descobertas há perto de cem anos e que viveram entre 3351 a.C. e 3017 a.C. precisamente no Antigo Egipto tinham, e isso sabia-se há muito, marcas nos braços. O que se desconhecia é que tais marcas eram tatuagens, não apenas traços como os de Ötzi mas representações, por exemplo, de animais. Foi com recurso à tecnologia de raios infravermelhos que os arqueólogos encontraram as ilustrações figurativas.

No braço do homem (que terá sido morto por esfaqueamento quando tinha entre 18 e 21 anos) estão dois animais sobrepostos, possivelmente um touro selvagem e um carneiro. Já no braço da mulher, junto ao ombro, há pequenos motivos em forma de “S”, assim como um desenho que aparenta ser um bastão utilizado em rituais de dança.

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Créditos: British Museum

O pigmento utilizado nas tatuagens terá sido fuligem e os arqueólogos acreditam que as ilustrações indicariam um determinado status dentro da comunidade, sendo as tatuagens em causa referências à coragem ou a um certo conhecimento mágico.

Daniel Antoine, curador de Antropologia Física do Museu Britânico (onde estão as duas múmias) e um dos autores do artigo publicado no Journal of Archaeological Science, acredita que a descoberta “transformou” a ideia que os arqueólogos tinham de como os egípcios daquela época viviam. “Apenas agora estamos a ter maior clareza sobre como era a vida desses indivíduos notavelmente preservados. Com mais de cinco mil anos de existência, eles demonstram que as tatuagens em África apareceram mil anos antes do que as evidências mais recentes sugeriam”, explicou Antoine à BBC.

As duas múmias foram encontradas em Gebelein, no sul do Egipto, a poucos quilómetros da cidade de Luxor. As covas em que estavam sepultas não eram profundas, mas devido ao calor, à salinidade e à aridez do deserto, ambas (e as respetivas tatuagens) se mantiveram bem conservadas.