Os “rioistas” já estão a tentar conquistar a parte do aparelho que não está alinhada. E vão começar pela maior distrital do país: o Porto. Rui Nunes, um dos apoiantes de sempre de Rui Rio, vai avançar com uma candidatura à liderança da distrital do Porto do PSD. O líder do “Fórum Democracia e Sociedade — Uma Agenda para Portugal”, uma plataforma que durante a liderança de Passos defendia Rio para líder do PSD e primárias no partido, apresenta a candidatura na próxima quinta-feira, 8, no hotel D.Henrique, no Porto. Isto apesar das eleições ainda não estarem marcadas e serem, provavelmente, só em junho/julho.

O atual presidente da distrital do Porto, Bragança Fernandes, apoiou Pedro Santana Lopes nas últimas diretas do partido. O ex-presidente da câmara municipal da Maia (uma concelhia importante do PSD) ficou, por isso, com uma liderança mais fragilizada no período pós-eleitoral. Durante o Congresso, a estrutura distrital foi até prejudicada na distribuição de lugares, numa revolta ao almoço noticiada pelo Observador.

Revolta ao almoço. Maior distrital do PSD descontente por não ter lugares

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Contactado pelo Observador, Bragança Fernandes disse desconhecer a candidatura de Rui Nunes, mas afirma que “é bom haver muitos candidatos, é um sinal de abertura do partido”. Isto embora alerte que “as eleições ainda não estão convocadas”. E acrescenta: “Ele [Rui Nunes] pode anunciar uma pré-candidatura, é legítimo”. Bragança Fernandes nega que tenha sido pressionado a sair e diz que “não há pressa”, uma vez que “os mandatos são para concluir”. Sobre a recandidatura, Bragança Fernandes diz estar a “refletir” e que “até junho” irá decidir se será candidato.

Quem é o candidato que quer conquistar a maior distrital do PSD?

Rui Nunes — que o Observador tentou, sem êxito, contactar — é professor catedrático da Faculdade de Medicina do Porto e presidente da Associação Portuguesa de Bioética e assume-se como  o “pai” do Testamento Vital. Foi o primeiro presidente da Entidade Reguladora da Saúde, instituição da qual é atualmente presidente do Conselho Consultivo. Tem uma carreira académica extensa e ocupou vários cargos em instituições ligadas à saúde. Por escolha de Rui Rio, foi coordenador do programa ‘Porto Cidade de Ciência’ e administrador da Fundação Ciência e Desenvolvimento (Câmara Municipal do Porto) entre 2009-2013.

Como diz na própria nota biográfica, Rui Nunes tem “publicados 20 livros, entre os quais “Regulação da Saúde”, “Testamento Vital” e “Democracia e Sociedade”, 190 trabalhos e pareceres e fez mais de 900 comunicações científicas em congressos e seminários, nacionais e estrangeiros”.

Rui Nunes escolhe o dia 8 de março, Dia da Mulher, para lançar a candidatura, o que não será inocente, uma vez que é  também “responsável pela coordenação de uma equipa que apresentou à UNESCO uma proposta para a implementação de uma Declaração Universal de Igualdade de Género, que está neste momento a ser apreciada”.

O médico foi o  fundador da plataforma «Fórum Democracia e Sociedade – Uma Agenda para Portugal», um movimento de reflexão sobre os grandes desafios da sociedade portuguesa. Esta plataforma defendeu primárias no PSD e o seu fundador fez várias vezes vagas de fundo de apoio a uma candidatura de Rui Rio a líder do PSD. Quando Rio pensou em ser candidato presidencial, este movimento também lhe deu apoio. Rui Nunes foi sempre o grande timoneiro deste apoio a Rio, num tempo em que o partido estava todo unido em torno de Passos Coelho.