Ainda hoje a pergunta assombra por certo (de tão dolorosa que é) a memória dos adeptos leoninos:

— Mas como é que o Sporting, tendo feito 86 pontos no final, não consegue ser campeão em 2016? 

A verdade é que, com tal pontuação, tão absurda pontuação, o Sporting seria campeão em qualquer época de 2002/03 (na altura o Porto de Mourinho obteve igual registo) até agora. A resposta? Há três, pelo menos três. A primeira é uma “lapalissada”. Porque o Benfica fez mais dois. A segunda é o encontro em Alvalade, a 5 de março, quando Bryan Ruiz falhou um golo de baliza aberta e William fez uma “assistência” para Mitroglou. Por fim, a terceira resposta é… Montero. O colombiano foi vendido aos chineses do Tianjin Teda no mercado de Inverno. Pensava o Sporting que Teo Gutiérrez ou Hernán Barcos seriam alternativas tão válidas quanto Montero ao argelino Slimani. Se pensou, pensou mal.

A única alternativa era Montero, ponto final. E tantas vezes não foi alternativa mas parceiro de Slimani, desbloqueando ele, Montero, encontros que se complicavam.

Depois da China, Montero foi para o Canadá e para os Vancouver Whitecaps. Regressou agora, precisamente no mesmo Inverno que o viu partir cedo demais. Não era o mesmo na volta. O rosto é, ainda é o de um trintão com ar de puto. A técnica também estava lá – vê-lo errar um passe ou drible é coisa difícil. Mas faltava-lhe tudo o mais, faltava-lhe o instinto. Na última jornada, na decisiva ida ao Estádio do Dragão, quase, quase no final, Montero permitiu a defesa a Casillas num remate à boca da baliza. Não era coisa dele. Não era.

E não é. Esta quinta-feira à noite, na Liga Europa e contra os checos do Viktoria Plzen, voltou a dar um ar da sua graça, o “avioncito”. E destacou-se tanto mais por ter atrás de si uma espécie de “Airbus A380”, não tanto pelo tamanho colossal (Alberto Caeiro escreveu-o e é verdade: “Porque eu sou do tamanho do que vejo / E não, do tamanho da minha altura…”) mas pela dimensão ofensiva, sempre vertical e nunca de “engonhar”, que oferece ao futebol do Sporting. Quem? Bruno Fernandes, pois claro.

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Sporting-Viktoria Plzen, 2-0

Estádio do José Alvalade, em Lisboa

Liga Europa 2017/18, Oitavos-de-Final

Árbitro: Aleksei Kulbakov (BLR)

Sporting: Rui Patrício; Ristovski, Coates, Mathieu e Fábio Coentrão (Rúben Ribeiro, 85′); William Carvalho, Bruno Fernandes, Gelson Martins e Acuña (Battaglia, 57’); Bryan Ruiz (Bruno César, 78’) e Montero

Suplentes não utilizados: Salin, Palhinha, Petrovic e Ronaldo Tavares

Treinador: Jorge Jesus

Viktoria Plzen: Hruska; Reznik, Hejda, Hubnik e Limbersky; Horava, Hrosovsky, Petrzela (Chory, 62’), Kolar (Kovarik, 75’) e Zeman (Cermak, 82′); Krmencik

Suplentes não utilizados: Kozacik, Hajek, Bakos e Havel

Treinador: Pavel Vrba

Golos: Montero (46’; 49’)

Ação disciplinar: Cartão amarelo para Battaglia (62’), Horava (65’), Coates (67’) e William Carvalho (73’) e Limbersky (87′)

Mas vamos lá ao jogo com o Plzen. Chances houve poucas. Mas o Sporting matou o jogo (e praticamente a eliminatória) nos momentos certos, a findar a primeira parte e no começo da segunda. Antes mesmo do primeiro golo, e ao minuto 22, Gelson conduz a bola pela direita até perto grande área, entrega-a mais por dentro em Acuña e o argentino rematou forte e colocado. Saiu uma “bojarda” à barra. Depois, ao minuto 46’, Coentrão sobe em velocidade pela esquerda, entrega a bola a Ruiz, desmarca-se, pede-a de volta já na grande área e, prontamente respondendo o costa-riquenho ao pedido do caxineiro, Coentrão cruza-a de primeira, todo no ar. Montero amortece no peito e, isolado na pequena área, só precisou de escolher o melhor lado e desviar do guarda-redes Hruska.

Logo no recomeço, ao minuto 49, Bruno Fernandes rouba a bola a Milan Petrzela, entrega-a em Montero, o Viktoria Plzen é apanhado em contra-pé, Montero dribla o (pesadão) central checo Hubník e bate em seguida Hruska pela segunda vez. É a 9.ª vez que Montero marca dois ou mais golos pelo Sporting. A última vez que bisou pelos leões foi em maio de 2015, frente ao Nacional. O golo é o 40 de desde que veste verde-e-branco, o quinto nas provas “uefeiras”.

O Sporting ainda dispôs de mais duas chances clamorosas para a fazer o terceiro, sempre, sempre em contra-ataque. Ao minuto 68, William Carvalho ganha a bola na grande área do Sporting, saiu a driblar em slalom por entre checos, entregou a bola a Montero, Montero prontamente a entregaria em Bruno Fernandes e, depois, Bruno partiu os rins a Hubník. Bola de um lado, o médio do outro, Bruno Fernandes acelera em direção à grande área e, lá chegado, rematou. Hruska fez uma grande defesa. Por fim, ao 91, canto a favor o Plzen, limpa a defesa do Sporting, Rúben Ribeiro arranca a toda a velocidade meio-campo fora, Mathieu surge (também em velocidade) logo a seu lado, Rúben isola-o mas o francês não é de finalizar e o guarda-redes checo defendeu o remate.