“A Idade da Pedra”

O futebol foi inventado na idade da pedra. Se não me acreditam, remeto-os para o novo filme de Nick Park, o criador de Wallace & Gromit e uma das luminárias dos estúdios de animação Aardman, responsáveis por maravilhas como “A Ovelha Choné”. Em “A Idade da Pedra”, a primeira longa-metragem que realiza sozinho, Park mostra, preto no branco, e ainda a cores e através da animação de volumes característica do estúdio, que já se jogava à bola no tempo das cavernas. Nesta comédia futebolístico-cavernícola, uma tribo ainda troglodita tem que disputar uma partida contra outra que já vive na Idade do Bronze e toda a gente fala com sotaque francês cómico, é governada pelo corrupto lorde Nooth e tem uma equipa de estrelas do relvado. Se ganharem, os trogloditas podem continuar a viver pacificamente no seu vale idílico. Se perderem, são feitos escravos e vão penar para as minas dos adversários.

Comédia “nonsense”, humor anacrónico, “slapstick” à moda dos filmes mudos e trocadilhos de partir a rir combinam-se jubilatoriamente com o elogio do espírito de equipa, nesta animação cheia de personagens desopilantes, humanas ou não (é o caso de um javali que toca harpa, dá massagens e joga à baliza), onde a utilização de efeitos digitais nalgumas sequências não compromete o encanto da animação tradicional fotograma-a-fotograma que é a imagem da identidade da britânica Aardman. Entre os nomes que dão as vozes à versão original de “A Idade da Pedra” contam-se Eddie Redmayne, Timothy Spall, Tom Hiddleston e o próprio Nick Park.

“Fidelidade Sem Limite”

Uma fita belga de Michael R. Roskam, autor do perturbador “Rundskop” e de “O Golpe-The Drop”, remete para aqueles policiais franceses clássicos dos anos 60 e 70, vários deles escritos por Michel Audiard, sobre grupos de ladrões profissionais que planeavam e executavam ousados assaltos, e onde surgiam actores como Jean Gabin, Lino Ventura ou Alain Delon. Só que aqui, Roskam acrescenta um elemento melodramático à intriga policial. Gigi (Matthias Schoenaerts), o líder do bando de assaltantes, que tem uma fachada respeitável de vendedor de carros de topo de gama, apaixona-se por Bibi (Adèle Exarchopoulos), que pilota automóveis de corrida, e vivem um romance arrebatado entre os “golpes” dele e as competições dela.

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Esta arrojada mistura de policial de acção com história de “amor louco” acaba por não resultar, porque a intriga vai longe demais e a acaba por deixar de conseguir suspender a descrença do espectador. Isto mau grado os esforços dos dois actores principais, que se dão completamente às suas personagens, e o brio da realização de Roskam. “Fidelidade Sem Limite” foi o candidato da Bélgica à nomeação ao Óscar de Melhor Filme Estrangeiro.

“Lady Bird”

A primeira realização a solo da actriz, argumentista e coqueluche da cena “indie” americana Greta Gerwig (em 2008, já tinha rodado “Nights and Weekends” com Joe Swanberg), uma história levemente autobiográfica passada em 2002, em Sacramento (onde Gerwig nasceu). Saoirse Ronan interpreta Christine McPherson, a “Lady Bird” do título, finalista num colégio católico e que,  nos seus inquietos, ansiosos, voláteis e exasperantes 17 anos, está convicta que não vive uma vida como deve ser e que Sacramento é uma chatice de uma cidade, e aspira ir para uma faculdade prestigiada, numa cidade grande e cosmopolita, onde possa concretizar todos os seus (difusos) sonhos.

Laurie Metcalf interpreta a trabalhadora e hiper-protectora mãe dela, que não quer de maneira nenhuma que a filha abra as asas e saia de Sacramento (o filme esteve para se chamar “Mães e Filhas”, de tal forma a relação entre as duas lhe é central ). “Lady Bird” esteve nomeado para cinco Óscares (não ganhou nenhum) e foi escolhido pelo Observador como filme da semana. Pode ler a crítica aqui.