O Observatório Sírio para os Direitos Humanos e uma testemunha no local dizem que Douma, um enclave na zona oriental da cidade de Ghouta, na Síria, onde vivem 400 mil pessoas, foi bombardeada esta sexta-feira quando a ajuda humanitária se preparava para entregar alimentos, noticiou a Reuters.

Os aviões não identificados visavam as populações de Douma e Yisrín. O reinício dos bombardeamentos aconteceu após uma noite relativamente tranquila que permitiu a entrada, neste dia, de uma coluna humanitária para prestar ajuda aos habitantes, retidos sob intensos bombardeamentos das forças governamentais sírias.

Treze camiões “estão dentro” no enclave rebelde, disse à AFP Ingy Sedky, porta-voz do Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV) em Damasco, que acrescentou que as equipas “vão distribuir os bens que não foram distribuídos em 5 de março” devido aos ataques aéreos.

Uma tentativa falhou na quinta-feira porque a coluna de ajuda humanitária não pôde entrar no território, que é alvo de bombardeamentos desde 18 de fevereiro, tendo causado já 931 mortos, de acordo com o Observatório Sírio para os Direitos Humano.

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O Conselho de Segurança das Nações Unidas exigiu um cessar-fogo de 30 dias, a 24 de fevereiro, mas o governo sírio disse que o cessar fogo não é extensível ao grupo rebelde no enclave de Ghouta. A ajuda humanitária foi permitida, mas não inclui equipamento médico. Apesar disso, a porta-voz do CICV referiu que existem “indicações positivas de que um comboio maior, que inclui equipamento médico, poderá [entrar] na próxima semana”.

Por que falhou o cessar-fogo na Síria?

Uma coluna humanitária conjunta da ONU, do CICV e do Crescente Vermelho sírio entrou no enclave, o último bastião rebelde junto a Damasco, na segunda-feira, com 247 toneladas de ajuda médica e alimentar em Douma, a principal cidade da região. Porém, a distribuição dos bens, que decorreu “sob bombardeios”, de acordo com a ONU, acabou por ser interrompida.

“A ONU e os seus parceiros não conseguiram voltar a Douma porque o comboio [humanitário] não foi autorizado pelas autoridades sírias por questões de segurança”, justificou Jens Laerke, porta-voz da agência das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) em Genebra.

A noite passada destacou-se por ter sido a primeira mais calma desde 27 de fevereiro, quando começou uma ofensiva terrestre do regime sírio para reconquistar o enclave rebelde, sob cerco desde 2013.

Não houve ataques aéreos ou artilharia desde as 02h00 locais (0h00 em Lisboa), a calma prevalece, com exceção de tiros esporádicos em áreas onde decorrem combates”, disse à AFP o diretor do OSDH, Rami Abdel Rahmane.

O esforço das forças do regime permitiu a recuperação de mais de metade da área sob cerco de Ghouta Oriental, procurando dividir o território em dois para enfraquecer as duas principais fações rebeldes no enclave.

Uma “pausa humanitária” de cinco horas todos os dias deveria estar em vigor desde que a Rússia decretou o seu acordo há 11 dias, quando foi aberto um “corredor humanitário”. Os meios de comunicação social sírios oficiais anunciaram a abertura de dois corredores desde quinta-feira, mas não foi registada a saída de civis.