“Ela não quer falar. Está em silêncio. Está com muito medo“, explicou o pai às autoridades. “Diga-lhe para estar quieta. Para não fazer nenhum barulho. Têm de estar todos quietos nessa sala”, responderam-lhe. No dia 14 de fevereiro deste ano, 81 pessoas ligaram para o 911 (equivalente ao 112 português). “Qual é a emergência?”, questionavam os operadores ao atender cada uma das chamadas. Um tiroteio na Escola Secundária Marjory Stoneman Douglas, em Parkland, no estado norte-americano da Flórida. Essa era a emergência. Agora, quase um mês depois, a polícia do condado de Broward divulgou o áudio de dez das chamadas feitas nesse dia.

Uma dessas chamadas foi realizada a partir do interior da escola. “A Escola Secundária Marjory Stoneman Douglas está a ser alvo de um tiroteio”, sussurrou  uma das pessoas que estava lá dentro. “Desculpe, não consigo ouvir. O que está a acontecer?“, disse o operador. “Alguém está a disparar na Stoneman Douglas”, tentou explicar mas o operador continuava sem conseguir ouvir. “A Escola Secundária Marjory Stoneman Douglas está a ser alvo de um tiroteio”, repetiu noutra tentativa de pedir socorro mas a chamada acabou por cair.

[Veja no vídeo as imagens e sons do tiroteio. E a emoção em direto do especialista em contra-terrorismo da CNN]

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“A minha filha acabou de me mandar uma mensagem da escola. Ela está na Stoneman Douglas…e diz que há um atirador a disparar. Ela diz que está atrás de uma mesa mas os tiros estão a aproximar-se”. Para muitos alunos, a prioridade foi contactar os pais que, por sua vez, ligaram para as autoridades. “Tiros. Tiros. Tiros. Mãe. Meu Deus”. A mensagem foi enviada por uma estudante à mãe, que a leu à polícia. Outra mãe estava a pedir socorro às autoridades ao mesmo tempo que falava com a sua filha. “Consegues fingir que estás morta? Se ele disparar, tens de fingir que estás morta. Se ele disparar, finge que estás morta”, ouve-se a mãe a aconselhar a filha, depois de esta lhe explicar que não tinha sítio para se esconder.

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Os minutos de desespero, para alguns, acabaram por ser só alguns minutos. “Obrigada pela vossa ajuda”, disse a mesma mãe quando foi informada pela polícia que a filha e os colegas de turma estavam a ser retirados em segurança. “Espero que não tenha sido nada”, acrescentou. “Também espero que não. Meu Deus”, respondeu o operador.

Mas acabou por ser.  O tiroteio provocou 17 mortos e 16 feridos. O xerife local, Scott Israel descreveu a situação como “uma catástrofe”. O tiroteio foi levado a cabo por Nikolas Cruz, de 19 anos. Cruz foi detido pouco depois do tiroteio e foi acusado de 17 homicídios premeditados e enfrenta uma sentença de pena de morte. Em tribunal, o rapaz declarou-se inocente. O advogado de defesa de Cruz afirmou que o seu cliente confessar-se-ia culpado em troca de prisão perpétua e não pena de morte.