Perante a perspetiva do aumento global da temperatura, acompanhado da diminuição da humidade do ambiente e das plantas, o risco de incêndio vai aumentar na Europa — e não só nos países do Mediterrâneo, refere um relatório publicado esta quarta-feira pelo Joint Research Center (JRC), o serviço de ciência da Comissão Europeia.

A equipa comparou vários cenários de aumento global de temperatura, desde os 2º Celsius — acima do limite estabelecido no Acordo de Paris, 1,5º C — até vários níveis acima disso. À medida que a temperatura aumenta e que diminui a precipitação, vento e humidade, os países apresentarão níveis de secura maiores. Esses períodos de seca não se vão restringir às zonas do Mediterrâneo, mas vão estender-se para norte.

O aumento da temperatura e a diminuição da precipitação vão fazer com que as plantas percam humidade e sequem, desde as folhas até às camadas mais profundas do tronco. Seca também o solo e a matéria orgânica que se encontra sobre ele. Além disso, as florestas expostas à seca ficam mais susceptíveis de serem atacadas por insectos que as matam. Plantas secas ou mortas são como um fósforo à espera de ser aceso.

Ainda que toda as florestas da Europa tenham um risco aumentado, incluindo a floresta alpina, os três países que apresentam maior risco são Espanha, Portugal e Turquia. Com risco aumentado aparecem também a Grécia, a parte central e sul de Itália, o sul de França junto ao Mediterrâneo e a região costeira dos Balcãs.

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Neste momento, Portugal, Espanha, Itália, Grécia e a região mediterrânea de França são atingidos por 85% dos incêndios que afetam toda a Europa.

Cerca de um terço da Europa está coberto com floresta — 251 milhões de hectares de floresta e outras áreas florestadas. Só em 2010, ardeu cerca de meio milhão de hectares de florestas em toda a Europa, refere o relatório. O ano passado foi bem pior que isso: só em Portugal, a área ardida chegou perto desse valor — mais de 440 mil hectares entre florestas e matos.

É assim claro que a continuarem a manter-se as condições climáticas atuais, ou caso elas piorem, o risco de incêndio vai piorar. Os autores do relatório alertam que é preciso apostar em estratégias de adaptação que permitam prevenir os efeitos devastadores dos fogos florestais.

Uma das medidas propostas é a gestão do coberto vegetal, que deve ser cuidadosamente adaptada a cada realidade. Mas os autores lembram que a maior parte dos incêndios tem origem em ações humanas. Para minimizar estes fatores é preciso explorar o que leva as pessoas a iniciar um fogo, assim como aumentar a consciência em relação ao risco de incêndio, encorajar os bons comportamentos e penalizar os incumpridores.

Importante é lembrar que, por um lado, o risco de incêndio é influenciado pelo estado do tempo, no imediato ou a curto prazo, como nas situações em que o vento aumenta a velocidade a que viaja o incêndio. Por outro lado, o risco de incêndio é influenciado pelo clima e pelas alterações quando se considera os fatores a longo prazo.