Quem vai ao mar avia-se em terra e foi isso que fez Pepe Brix. Depois de uma formação em Observação de Pesca, o fotojornalista estava preparado para a aventura: três meses em alto mar, a bordo de um dos poucos bacalhoeiros que ainda existem em Portugal. Agora, Pepe deixa ancoradas no Cais do Sodré as fotografias que tirou na viagem.

A exposição tem como título “Código Postal: A2053N” e foi de facto esta a morada do fotojornalista durante três meses: o bacalhoeiro “Princesa Joana”, que partiu em direção à Terra Nova. Uma viagem que Pepe Brix fez com 33 homens.

“Nem sempre foi fácil lidar com as mesmas pessoas durante tanto tempo, longe de casa, e sempre no mar”, conta ao Observador o fotojornalista, que embarcou nesta viagem em fevereiro de 2015 e só regressou em maio do mesmo ano. “Estar tanto tempo num navio sem vir a terra e sem ver ninguém novo, torna difícil reciclar ideias”, acrescenta Pepe.

Em três meses, Pepe e a tripulação foram a terra apenas uma vez, para abastecer o barco e buscar alimentos mais frescos, “que nunca ficavam muitos frescos ao fim de umas semanas”.

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Os cerca de 90 dias passados em alto mar não eram muito diferentes uns dos outros. “Falei bastante com todos os pescadores, além de precisar de me dar a conhecer e de os conhecer, tinha a necessidade de os ajudar, por exemplo, na captura do peixe, e depois a processar e a congelar o peixe”, conta.

Além das tarefas desempenhadas, as 14 fotografias que estão em exposição retratam os mares gelados do Atlântico Norte e a luta que os pescadores travam contra o oceano, muitas vezes em condições adversas. (veja na fotogaleria acima algumas das imagens)

Mas esta não foi a primeira viagem que Pepe documentou.

“Quando acabei o curso de fotografia no Porto, em 2005, fiz um interrail pela Europa para fazer fotografia de rua, depois, em 2012, estive quatro meses no Nepal a fazer um trabalho que acabou por ser publicado em co-autoria com o poeta Daniel Gonçalves, o ‘Ensaio sobre o comprimento do silêncio'”, conta Pepe.

Vencedor do prémio Gazeta 2015

O nome da exposição, que dia 14 é inaugurada no Cais do Sodré, “Código Postal: A2053N”, foi inspirado na matrícula do barco onde Pepe e os pescadores passaram três meses, em alto mar. A foto-reportagem, na altura, foi publicada na revista National Geographic Portugal, em 2015, e foi publicada em livro, Os Últimos Heróis, como conta o fotojornalista no seu site.

Mas não só. As fotografias valeram ainda a Pepe Brix o Prémio Gazeta 2015 de fotojornalismo, um prémio que reflete o trabalho do fotojornalista, mas que não foi esperado.

“Foco-me muito no meu trabalho e não ligo muito a concursos nem a prémios, embora saiba perfeitamente que é muito importante e possa ser uma ajuda na minha vida profissional”, refere Pepe.

Na altura em que foi distinguido, em 2015, Pepe estava na Islândia a fazer um documentário. Foi Gonçalo Pereira Rosa, diretor da National Geographic, que o convidou para participar no concurso. “Mas é bom, ao menos não estive três meses no mar em vão!”

Pepe Brix / DR

A inauguração está marcada para o próximo dia 14 de março e até maio as fotografias de Pepe Brix vão estar em exposição no Clube do Bacalhau, uma associação cultural criada entre cinco amigos que queriam um espaço que acolhesse “a essência do que é ser português”, no Cais do Sodré.