Podia ser um discurso de treinador de futebol: com “muito trabalho”, com “humildade” e a “jogar por antecipação”, Assunção Cristas quer “disputar a primeira liga” e “chegar onde outros conseguem chegar”. “Sim, é possível chegar a outro patamar”. “Sim, eu acredito”. “Ambição máxima”. “Ninguém, mas ninguém, nos para”.

No primeiro discurso de Assunção Cristas no congresso do CDS, o nome do PSD não foi referido mas a estratégia da líder centrista para as eleições de 2019 ficou clara: ultrapassar o PSD nas urnas, como fez em Lisboa, para ser “o primeiro partido no espaço do centro e da direita” e “a única alternativa ao Governo das esquerdas“.

[Veja no vídeo o discurso de Assunção Cristas]

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No discurso escrito, distribuído aos jornalistas, Cristas terminava as 16 páginas a dizer que no final do congresso “todos ficarão a saber, de forma clara e inequívoca, que o CDS é a alternativa”. No calor do momento, acrescentaria mais uma palavra-chave: “Todos ficarão a saber que o CDS é a única alternativa“, numa referência implícita ao ex-parceiro de coligação. Ser maior do que o PSD é, portanto, a meta do CDS para as legislativas.

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Lembrando que o CDS “venceu todos os desafios eleitorais que enfrentou desde 2016” — quando foi eleita líder –, Assunção Cristas recordou os 21% que conseguiu nas autárquicas em Lisboa para “provar que não há impossíveis”. “Mostrámos que é possível chegar a outro patamar: com trabalho feito com tempo, percorrendo o terreno no contacto direto com a pessoas, com a abertura do partido a independentes, com tudo isto, sim, é possível chegar a outro patamar. Sim, é possível disputar a primeira liga“, disse.

Apesar de garantir que o adversário do CDS é apenas e só o PS e o Governo das “esquerdas encostadas”, Cristas fez o seu relatório e contas e enumerou as várias propostas e iniciativas que o CDS apresentou nos últimos dois anos, como a moção de censura ao Governo na sequência dos incêndios do ano passado, para concluir que é o CDS que “tem liderado a oposição”. Mantendo a lógica de “oposição firme”, Cristas avançou mesmo que o CDS vai repetir o que fez no ano passado e vai forçar a votação, no Parlamento, do Programa de Estabilidade que o Governo tem de apresentar em Bruxelas, para obrigar os partidos da esquerda a vincularem-se. A ideia, diz, é “jogar por antecipação”. E sublinha: “Só conheço este caminho”.

Numa altura em que há militantes a criticar o facto de a moção da presidente do partido não falar da ideologia democrata-cristã do CDS, Cristas procurou explicar a convivência entre pragmatismo e ideologia. “Sou pragmática? Sou. Quero chegar a todos, quero que me entendam, conheçam as nossas propostas e vençam os preconceitos que têm contra nós”, disse, acrescentando que isso não faz com que “prescinda de valores, de ideais e de inspiração”. A questão, explicou, é que “os valores não são para estar numa vitrine, têm de ser colocados em prática”.

Não esqueço nem o nosso programa nem a nossa história, mas não me peçam, por um segundo que seja, que me perca em discussões e esqueça de quem precisa de ajuda”, disse.

No primeiro discurso que fez ao congresso, Cristas anunciou ainda que Adolfo Mesquita Nunes vai ser o “coordenador de um grupo de seis militantes e dois independentes” que vai ficar encarregue de agregar os contributos e ideias para o programa eleitoral. O grupo chama-se “Portugal.com futuro” e inclui seis militantes do CDS, Ana Rita Bessa, Mariana França Gouveia, Francisco Mendes da Silva, João Moreira Pinto, Graça Canto Moniz e Jorge Teixeira, e dois independentes — Pedro Mexia e Nadia Piazza, porta-voz da associação de vítimas de Pedrógão Grande. Demografia, território e nova economia serão os temas privilegiados.