O Grupo Daimler, 94% Mercedes e 6% Smart, em termos de vendas de automóveis ligeiros, é um dos colossos da indústria automóvel que promete estar em breve – Dieter Zetsche, o CEO, fala em 10 modelos até 2025 – altamente envolvida na produção de carros eléctricos. Promete, porque até agora tem delegado noutros fabricantes o desenvolvimento dos argumentos da mobilidade eléctrica. Não que se duvide que a Mercedes tem trunfos na manga em matéria de baterias. Ou, pelo menos, é que o pensa Li Shufu, o chinês dono da Geely – e da Volvo, Lotus, Proton, táxis londrinos, além de possuir uma importante fatia dos veículos pesados da Volvo AB – que recentemente adquiriu 9,69% da Daimler, tornando-se o maior accionista da empresa alemã.

Até aqui, os eléctricos da Mercedes e Smart foram encomendados a empresas concorrentes. No caso da Smart, foi a Renault que forneceu o material e a tecnologia para os Fortwo e Forfour Electric Drive, o que até foi fácil, pois foi igualmente a marca francesa que concebeu o chassi, bem como as mecânicas das unidades a gasolina. Assim é possível encontrar a bordo do pequeno e simpático veículo, uma referência no trânsito citadino, o motor eléctrico de 82 cv, que já serviu o Zoe e uma bateria de iões de lítio, que só possui uns limitados 17,6 kWh de capacidade porque o espaço não abunda.

Mas se a associação da Smart à Renault já era conhecida por muitos, a história por detrás do Mercedes B250e é bem menos popular. Consciente que determinados Estados americanos exigem a presença nas respectivas gamas de veículos não poluentes, como contrapartida para comercializar todos os outros, a gasolina ou a gasóleo, a Mercedes necessitava de um eléctrico para vender aos californianos e afins. Vai daí, pegou num Classe B – o único que é comercializado nos EUA – e entregou-o à Tesla para electrificar. Assim, não só pode vender mais carros “pouco” amigos do ambiente, como usufrui das ajudas governamentais, que ascendem a 7.500$, pagos a todos os que adquiram um veículo eléctrico, incentivos fornecidos com o objectivo de tornar este tipo de veículos mais competitivos.

Denominado B250e, o eléctrico da Mercedes recorre a um motor de 179 cv, com um generoso binário de 340 Nm – o equivamente a um bom turbodiesel 2.0 –, o que lhe permite atingir 100 km/h em 7,9 segundos e só não ultrapassar os 160 km/h porque a isso está limitado electronicamente. Por não ter sido concebido para dar corpo a uma versão eléctrica, não foi fácil ao Classe B receber uma bateria muito grande a bordo, daquelas com 60 a 100 kWh que a Tesla tanto gosta. Assim sendo, ficou-se pelos 28 kWh, o que é pouco e assegura uma autonomia de apenas 200 km segundo o optimista ciclo NEDC, o que deve significar pouco mais de 130 km em condições reais.

Se lhe faz confusão este Mercedes/Tesla, é bom saber que a marca germânica foi em tempos accionista do construtor americano, ligação que foi proveitosa para ambos os lados. Para a Tesla, foi a salvação num período em que atravessava um período particularmente difícil, o que levou Elon Musk a vender 9% da marca por 50 milhões de dólares, em 2009. Mas os alemães da Daimler realizaram uma operação ainda mais rentável. Com a enorme valorização da Tesla, que hoje vale muito mais do que a própria Daimler, as acções valorizaram-se de tal forma que a Mercedes vendeu os 9% da Tesla em 2014, com um lucro de 780 milhões de dólares.

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