Davy Rodríguez, luso-francês que é o número dois da Juventude da Frente Nacional e que já foi assistente parlamentar de Marine Le Pen, foi suspenso daquele partido de extrema-direita por ter dirigido insultos racistas. O incidente aconteceu depois de uma altercação num bar em Lille, onde este fim-de-semana decorreu o congresso do partido liderado por Marine Le Pen. Davy Rodríguez, que o Observador entrevistou em novembro de 2015, diz que está a ser alvo de uma “cabala política”.

Os insultos terão sido dirigidos ao segurança do bar, segundo o Buzzfeed News francês, na noite de sexta-feira, 9 de março. Segundo o relato que o funcionário fez àquela publicação, o altercação começou depois de este ter puxado uma porta ao mesmo tempo que, do outro lado, um militante da Juventude da Frente Nacional também a puxava. O jovem militante ficou com os dedos entalados na porta e queixou-se. Depois, terá aparecido Davy Rodríguez. “Ele chegou, quando já não havia problema nenhum, e disse: ‘Não lhe dirijas a palavra, esta gente não tem educação'”, contou o segurança.

Depois de algumas palavras trocadas com o segurança, que é negro, Davy Rodríguez “perdeu a cabeça” e terá começado a insultá-lo: “macaco” e “africano porco” terão sido algumas das palavras dirigidas, que não foram registadas nem em vídeo nem em áudio, mas que alguns dos presentes confirmara ter ouvido ao Buzzfeed News.

Porém, houve um insulto que ficou registado em vídeo, filmado com um telemóvel e posto a correr nas redes sociais. “Cette espéce de nègre de merde”, ouve-se Davy Rodríguez a dizer, insulto traduzível para “preto de merda”.

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Durante o incidente, alguns colegas de Davy Rodríguez tentam acalmá-lo, sem sucesso. “Achas que a Marine [Le Pen] ia gostar de te ver assim? Acalma-te, não tens interesse nenhum em perder a cabeça”, um deles lançou-lhe.

A polémica estalou no dia seguinte à altercação, com a suspensão de Davy Rodríguez da Frente Nacional a ser anunciada. O próprio nega ter dito aquelas palavras. “Nego formalmente ter feito as afirmações racistas que me são atribuídas”, escreveu no Twitter.

“Vi esse vídeo, que é uma montagem pura. É uma cabala política”, reagiu o luso-francês ao Buzzfeed News. “Tentaram entrar na minha conta de Facebook e Twitter. São pessoas que são extremamente entendidas em informática. A minha única capacidade é a justiça”, disse. “Sempre vivi em bairros sociais com muitas pessoas que fazem parte da imigração africana. Nunca disse nada desse género, não era agora que ia começar.”

Davy Rodríguez falou ao Observador em 2015, dias depois dos atentados de 13 de novembro em Paris, que fizeram 130 vítimas mortais. À altura, Davy Rodríguez estudava Direito Público Económico na SciencesPo, e começava a destacar-se como membro da Juventude da Frente Nacional. Davy Rodríguez, que é filho de mãe portuguesa e pai espanhol, entrou para a política no Partido Socialista, depois passou para o Parti de Gauche e, por fim, passou a ser militante na Frente Nacional.

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