No ano em que passa a haver, no mundo, mais gente ligada à Internet do que desligada, o inventor da Web avisa que há um perigo de a Internet ser usada como uma arma. Sir Tim Berners-Lee vê com apreensão que uma mão-cheia de empresas consiga controlar uma larga percentagem do tráfego, o que lhes confere a capacidade de difundir teorias da conspiração, atiçar tensões sociais, interferir em eleições democráticas e concentrar grandes quantidades de dados que depois são usados para fins frequentemente pouco transparentes. É por isso que, numa carta aberta publicada por ocasião do 29º aniversário da world wide web, o seu fundador pede mais regulação sobre estas empresas.

“O que era, outrora, uma seleção rica de blogues e websites acabou por ser comprimido sob o peso enorme de algumas plataformas dominantes”, lamenta Sir Tim Berners-Lee, um britânico que hoje tem 62 anos de idade. “Gigantes” como o Google e o Facebook, que, por exemplo, recebem 60% das receitas publicitárias em todo o mundo, foram concebidas para “maximizar os lucros e não para maximizar o bem social”. Para mitigar as “tensões” que daí podem advir, é necessário, na opinião do fundador da world wide web, de um “enquadramento legal e regulatório que tenha em conta os objetivos sociais”.

Quero que a web reflita as nossas esperanças e ajude a cumprir os nossos sonhos, e não que acentue os nossos receios e aprofunde as nossas divisões”.

E como é que se consegue criar e aplicar essa regulação? Berners-Lee defende a criação de um grupo diversificado de empresários, responsáveis governamentais, sociedade civil e do mundo académico e das artes. Este grupo estaria incumbido de derrotar os “dois mitos” que estão a “limitar a nossa imaginação coletiva”: o primeiro, que a publicidade é o único modelo de negócio possível para as empresas online e, segundo, que é demasiado tarde para alterar a forma como estas plataformas operam. “Temos de ser um pouco mais criativos”, defende Tim Berners-Lee, fundador da Web Foundation, no artigo publicado no The Guardian.

O outro problema que Tim Berners-Lee vê na world wide web, 29 anos depois do seu nascimento, é a “divisão digital”. Se mais de metade da população passa a estar conectada, o que as estatísticas nos dizem é que é menor a probabilidade de estar “online” de quem é mulher, de quem é pobre ou de quem vive em zonas rurais ou em países empobrecidos. E “estar offline hoje é estar excluído de oportunidades de aprender e progredir, de aceder a serviços valiosos e participar no debate democrático”, diz Berners-Lee, acrescentando que “se não investirmos a sério no fecho deste fosso, o último milhar de milhões de pessoas não estará ligado à internet antes de 2042. Isto é toda uma geração de pessoas deixadas para trás”.

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