9 de março de 2004. Mourinho tinha somente quarenta e um. Entre treinadores é-se “jovem” aos quarenta e um.

Havia vencido, meses antes, a Taça UEFA. No “inferno” de Old Trafford, onde agora é treinador do United e não adversário como nos idos de março, disputavam-se os oitavos da Liga dos Campeões. Os portistas haviam derrotado o United de Ferguson no estádio do Dragão por 2-1. Isto na primeira-não. Na segunda, um golo de Paul Scholes ao minuto 32 colocou os ingleses em vantagem, golo que afastaria os portistas. Mas não afastou. A terminar, mesmo, mesmo a terminar, Costinha empataria o jogo e eliminaria o todo-poderoso Manchester.

Mourinho começou a correr.

E correu, correu, correu, relvado fora, deslizou de ajoelhoado sobre a relvado, cerrou dentes, os punhos, cerrou tudo. Venceria a Liga dos Campeões no Verão e também no Verão deixaria a cidade do Porto para rumar a Londres e ao Chelsea. Foi campeão. Rumou ao Inter depois e voltou a ser, vencendo também a segunda Champions em Milão. Em Madrid, no Real Madrid, e apesar de ter coincidido com o apogeu do Barça de Guardiola, Mourinho ergueu a inédita La Liga dos cem pontos.

Mas não alcançou a “orelhuda”, a Liga dos Campeões. Era o que Florentino Pérez lhe pedia. Não conseguiu, Mourinho. E saiu. Regressou ao Chelsea onde era “Special”. Regressou diferente. Mourinho não cerrava já os dentes, os punhos, não cerrava tudo, não cerrava nada. Mesmo quando vencia. Mesmo em Manchester, depois, e venceu no United as taças (EFL Cup e Community Shield) e a Liga Europa, não cerrava nada. Era, e é, “resultadista”, demasiado defensivo, demasiado cauteloso, optando por um futebol sem deslumbre — e o futebol precisa de deslumbre! –, mal amanhado, tristonho, mais perdedor que vencedor.

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Mourinho está na História. Não precisa de provar a ninguém que está, ninguém duvida. Talvez só precise de provar a si mesmo que ainda há o que cerrar. E haverá sempre quem questione, sobretudo os adeptos do Manchester United, o que seria deste clube, deste plantel, o plantel mais caro da história, repleto de ataque sem cautela, de deslumbre, de felicidade no deslumbre, com Pogba e Lukaku, Rashford e Martial, e tantos, tantos mais, o que seria deste clube com outro treinador que não Mourinho, talvez o “vizinho” Guardiola…

13 de março de 2018. Mourinho empatou (0-0) em Sevilha na primeira-mão dos oitavos e tudo se resolveria no “infernal” Old Trafford. Mas mais do que resolver, os de Mourinho quiseram controlar. Só controlar. E apenas o miúdo Rashford tentou contrariar a apatia.

O Sevilha foi sempre melhor. E só o Sevilha atacava. Só o Sevilha queria vencer. Mas faltava-lhe algo, quem finaliza-se. Wissam Ben Yedder entrou ao minuto 72. Então, os adeptos dos Red Devils apupavam a própria equipa. E mais o fizeram ao minuto 74. Sarabia entrega a bola a Yedder à entrada da área do United, o francês dribla Bailly, ganha uma nesga de espaço e remata colocado, entre David De Gea e o poste direito. O Manchester precisava de marcar dois golos para virar a eliminatória. Ao minuto 78 precisou, não de dois mas de três. Canto à esquerda, de Banega, Correa desvia ao primeiro poste, Ben Yedder desvia ao segundo, para o segundo.

O Manchester atacou. Afinal, sabia como atacar. E ainda reduziu ao minuto 84. Canto de Rashford à esquerda, ninguém desviou, ninguém cortaria, e Lukaku remata (acrobaticamente) na pequena área. Era tarde.

No estádio Olímpico, em Roma, e frente aos giallorosso da “casa”, o Shakhtar Donetsk treinado por Paulo Fonseca foi eliminado também. Mas o Shakhtar tentou. Ao contrário do Manchester, tentou sempre, mesmo sabendo-se inferior a esta Roma, mesmo sabendo que a vitória (2-1) que trazia de Donetsk chegaria para eliminar os de Eusebio Di Francesco. E tentaram sobretudo os brasileiros Fred, Bernand, Marlos e Taison. Mas um bósnio, Džeko, tramou Fonseca e tramou o Shakhtar ao minuto 52. Diego Perotti isolou-o nas costas da defesa e, à saída de Andriy Pyatov da baliza, Džeko rematou e colocou a Roma em vantagem, vantagem que perdurou até final.