O convite de Ana Gomes a um ativista pró-palestino, natural do Qatar, para ser um dos principais oradores de um debate sobre Israel no Parlamento Europeu deixou a eurodeputada do PS isolada na sua própria família política. Ao Observador, fonte oficial dos Socialistas e Democratas Europeus (S&D) diz que a presença de Omar Barghouti em Bruxelas “não reflete a posição política do grupo”, que condena “qualquer forma de anti-semitismo na Europa e em qualquer parte do mundo”.
O debate da polémica aconteceu a 28 de fevereiro, mas os primeiros sinais de desconforto em Bruxelas começaram dias antes, como o Observador contou na semana passada: o instituto pró-judaico (o Instituto Transatlântico AJC) pedia consequências pelo facto de Ana Gomes ter denunciado a existência de “um lobby muito perverso que tenta intimidar as pessoas” e que terá tentado impedir a realização desse debate sobre o tema “Os colonatos israelitas na Palestina e na União Europeia”.
Grupo judaico pede “ação disciplinar” contra Ana Gomes no Parlamento Europeu
Depois de esse grupo ter criticado, na última quinta-feira, o encontro promovido pela eurodeputada portuguesa, e de ter exigido ao presidente do Parlamento Europeu e ao S&D uma “ação disciplinar” relativamente a Ana Gomes por palavras proferidas naquele encontro, o Observador questionou o S&D sobre a leitura que faziam do episódio.
Na resposta, o S&D distancia-se do encontro promovido por Ana Gomes e contraria, inclusive, a versão apresentada pela eurodeputada portuguesa para explicar alguns dos acontecimentos daquele dia.
Fonte oficial da segunda maior família política em Bruxelas diz ao Observador que “condena qualquer forma de anti-semitismo na Europa e no mundo”. E sublinha que, apesar de “valorizar a dedicação” de Ana Gomes relativamente ao processo de paz no Médio Oriente (em particular, rumo à coabitação pacífica de dois Estados independentes, Israel e Palestina).
A iniciativa de convidar e dar voz ao fundador e líder do movimento BDS [sigla inglesa para ‘Boicote, Privação e Sanções’] não reflete a posição política do grupo” relativamente à solução para aquele conflito, dizem os Socialistas e Democratas Europeus.
Na curta resposta ao Observador — em que o grupo não esclarece sequer se pondera avançar com medidas disciplinares em sobre a eurodeputada do PS —, o S&D alinha com a posição já assumida pela União Europeia, através da sua vice-presidente, Federica Mogherini:
A União Europeia rejeita as tentativas da campanha do BDS para isolar Israel e opõe-se a qualquer boicote” àquele país.
Falta de experiência ou ato deliberado?
Mas a demarcação do S&D não terá acontecido só agora. Como o Observador já tinha referido, nos primeiros minutos do debate de 28 de fevereiro, é possível ver um banner do grupo político, mesmo atrás dos lugares onde estavam sentados Ana Gomes e o seu convidado de destaque, Omar Barghouti. E, a determinado momento, há uma funcionária do S&D que trata de retirar esse banner.
Ao Observador, Ana Gomes desvalorizou o episódio, garantindo que tudo se tinha ficado a dever à falta de experiência de um elemento da sua família política. Aliás, de acordo com a eurodeputada, na última quarta-feira (um dia antes de o Instituto Transatlântico pedir consequências), uma vice-presidente do Socialistas e Democratas tinha até pedido desculpas à eurodeputada pela confusão.
Versão diferente daquela que, oficialmente, o S&D agora apresenta ao Observador. Depois de explicar que não se revê nas posições assumidas por Barghouti e de condenar qualquer tipo de anti-semitismo, o grupo diz que “foi por essa razão que foi retirado o roll-up da sala de reuniões durante a conferência”.